Releio Os Canibais, de Álvaro do Carvalhal (Padrela, Valpaços, 1844 - Coimbra, 1868). É um daqueles muitos cuja morte precoce, trazida pela doença, foi um desperdício -- Cesário Verde, António Nobre, José Duro; mas também Henrique Pousão e Amadeu de Sousa-Cardoso, na pintura; António Fragoso, extraordinário compositor.
Os Canibais, que abre o volume póstumo de Contos (1868), embora seja apontada como obra-prima do gótico português, não creio que a sua sobrevivência se deva particularmente à definição como narrativa de terror, aliás bastante chocarreiro, antes aos atributos estilísticos do escritor, e um tipo de narrador intrometido, sentencioso, por vezes cheio de boa disposição, à maneira de Garrett ou sarcástico como Camilo, que certamente conhecia bem, culto e lidíssimo que era, como se comprova pelos apartes do referido narrador, por vezes com uma ironia de que não desdenhariam Machado de Assis e Eça de Queirós -- espírito crítico que transborda sem afectação ou aspereza inútil, porém frontal e assertivo, ou não estivera ele ao lado de Antero na Questão Coimbrã.
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