sábado, julho 29, 2023

a opinião de um ateu sobre a visita do papa

 O mundo sem este papa Francisco, um humanista. seria ainda pior e mais animalesco do que já é. Por isso, gosto que ele venha cá. Quanto ao espertalhão Bordalo II, viva a boa imprensa!

4 comentários:

manuel a. domingos disse...

Podemos gostar, ou não gostar, da arte de Bordalo II. A mim, por exemplo, pouco me diz. Até podemos dizer que é "espertalhão" e que não há nada como a "boa imprensa" (como se o artista em causa precisa-se dela). Mas uma coisa é certa: é o único artista (que eu tenha conhecimento) que, até agora, manifestou o seu pensar em relação a tamanha ignomínia (e utilizo esta palavra consciente do peso que ela tem, porque é o que penso). E não são só os artistas que estão em silêncio. Os partidos políticos, com assento parlamentar, têm estado em silêncio sobre as Jornadas Mundiais da Juventude (em silêncio no que diz respeito a gastos a cargo do Estado que ainda é laico). E o seu silêncio é ensurdecedor.

R. disse...

Caro Manuel Domingos

Do pouco que conheço, direi que nem desgosto do que vi.

Não me fiz compreender: a boa imprensa não é a que se baba com o Bordalo 2 ou com tiradas antipapa, antivaticano, mas a que denuncia a espertalhice deste Bordalo de 2.ª, como é o caso do Página 1. Ou seja: é preciso não ter vergonha nenhuma na carantonha a denunciar os gastos com a JMJ, quando se meteu ao bolso centenas de milhares de euros de dinheiro público graças a ajustes directos. O Bordalo é, portanto, um palhaço com agudo sentido de oportunidade.

Ignomínia, meu caro, são os 11 milhões de lucros por dia da banca, entre muitas outras que mos poluem os dias. Não contesto que tenha havido excesso de gastos, como há sempre em tudo; mas chateia-me mais outros milhões que no OE estão reservados, por exemplo, para pagar a escritórios de advogados. Isso é ignomínia, não a Igreja Católica portuguesa ser anfitriã destas JMJ inofensivas. (poderia estar aqui a noite inteira a desfiar o rol de ignomínias, a começar pelos da própria Igreja, mas estas duas chegam).

Quanto aos partidos, parece que a IL já se manifestou contra os ajustes directos. Um assunto em relação ao qual não vale a pena perder tempo.

Eu sou por um estado radicalmente laico, mas não esqueço que a história portuguesa está intimamente ligada à da Igreja, Mas nem seria preciso. Uma vez que há liberdade religiosa e que uma confissão decide fazer no nosso território um encontro com a magnitude deste, o estado português nunca poderia estar alheado, e isso implica custos, e não poucos.

Reafirmo a minha satisfação em ter em Portugal o papa Francisco -- das pouquíssimas vozes relevantes à escala global que merece ser escutada. Mesmo que nessa altura já não esteja em Lisboa, e que, obviamente, não ter o mínimo interesse no significado da coisa em matéria religiosa.

Aliás, uma das poucas certezas que tenho é a de que Deus só existe na imaginação torturada do ser humano.

manuel a. domingos disse...

Caro Ricardo,

concordo com algumas coisas do que refere no seu comentário. Vou por partes.

1. O "Página 1" apenas realça uma prática que é recorrente, principalmente no que diz respeito a intervenções artísticas. Imagine que é Presidente de Câmara, e imagine querer uma intervenção de um artista específico, que esteja na moda, ou cuja arte lhe agrada. O ajuste directo é o que se aplica. Que culpa tem Bordalo II se está na moda? Se várias autarquias o querem ter na "lapela da cultura"? Que culpa terá Cabrita Reis? Joana Vasconcelos? Ou qualquer outro artista contactado pelo poder local, ou outro?

2. Plenamente de acordo em relação aos lucros da banca.

3.Não me parece que, em termos práticos, a Igreja Católica seja a anfitriã. Parece-me, isso sim (e em termos práticos), que é o Estado português, Estado esse que é laico e cuja laicidade está firmada na Constituição da República Portuguesa.

4. Quando me refiro ao silêncio dos partidos políticos com acento na Assembleia da República, refiro-me às JMJ na sua totalidade, e não apenas em relação aos ajustes directos (que irão morrer solteiros, como a culpa).

5. Em relação ao Papa Francisco: não me entusiasma, como qualquer outro Papa. Passo bem sem eles e sem a igreja que representam.

R. disse...

Caro,

Vamos supor que ele é imaculado, não tem cartão partidário nem certificado de amigo do poder. Mesmo assim. Quem é ele para arrogar-se o direito de censurar os gastos públicos com esta festa da Igreja, quando o mesmo Bordalo é beneficiário de 27 ajustes directos e centenas de milhares de euros. Provavelmente achará que os gastos com a sua pessoa e o seu trabalho se justificam e que numa festa religiosa já não. Ora o Bordalo II aqui, mesmo podendo não ser o espertalhão que desconfio que é, é também um presunçoso.

Não será assim, de qualquer modo o Marcelo fez convite ou sugestão, nesse caso é verdade que o estado teria sempre de entrar,

Nestes ajustes directos não vejo manigâncias, mas o resultado do desenrascanço do costume. Mas posso estar enganado.

Pois, eu também passo, No entanto, ele é uma figura política -- um player, como agora se diz -- internacional. E a minha simpatia vai para esse seu lado. Quando diz que este capitalismo mata ou que a nato andou a ladrar às portas da Rússia, tiro-lhe o chapéu. Quanto ao líder religioso, estou.me francamente nas tintas, só tenho pena que as missas não sejam em latim (seria capaz de la ir papar umas quantas). Ainda assim: há milhões de compatriotas nossos que têm uma perspectiva diferente; e se a Igreja tem um sinistro lado negro, que deve estar sob vigilância policial, há também uma parte sã, e essa merece-me algum respeito.