quarta-feira, novembro 06, 2019

tomem um chá de camomila...


A parvoíce da semana é a conversa fiada da gaguez da deputada Joacine Katar Moreira, enquanto parlamentar.
Sobre o assunto, tenho a dizer: a gaguez é uma deficiência como outra qualquer; e assim como na anterior legislatura o Parlamento teve de adaptar-se à cadeira de rodas do deputado Jorge Falcato, do BE, nomeadamente no que respeita às acessibilidades, aqui vai ter de adaptar-se à gaguez de Joacine. E o melhor, quanto a mim, é estabelecer já um critério, e não deixar ao bom senso ou à boa vontade de quem estiver a presidir à sessão. Os deputados têm um minuto para intervir?; ela terá dois, e certamente saberá acondicionar o discurso ao tempo que lhe está reservado. Aliás, estou convencido que à medida que a actividade parlamentar for deixando de ser uma novidade, a própria deputada ganhará maior à-vontade e maior fluência no discurso.
Quanto ao resto, é conversa comunicacional sem substância, vale zero.
Enquanto não se habituarem, levem um termo com cidreira.
Já agora, a primeira proposta do Livre, apresentada por Joacine, será o da trasladação dos restos mortais de Aristides de Sousa Mendes para o Panteão Nacional. Se há alguém que merece inequivocamente lá estar é ele (eu aristidiano ou aristidiófilo me confesso).
Com uma ressalva: não sei se ele está enterrado com a sua mulher, Angelina, por quem a provação também passou. Se assim for, como provavelmente será, não me parece justo separá-los -- diz-mo o meu incorrigível romantismo; e se fosse descendente, embora satisfeito com a reparação do país, não autorizaria essa separação.

6 comentários:

sincera-mente disse...

Vejo o meu amigo incondicionalmente rendido à "nossa" deputada.
Eu, nem tanto. Vejo ali muito ressentimento, folclore, show off, complexo de colonizado... Quanto a ideias, receio que não passem cá para fora, por causa da tal "deficiência" Nem com o dobro dos minutos. Eu sugeria ao Livre e ao Ferro que optassem por legendas enquanto ela tenta falar...
Quanto à ideia sobre Aristides, tudo bem. Mas, até parece que descobriram a pólvora...

R. disse...

Rendido, não diria, até porque discordo de algumas coisas, como é natural. Mas não aparo truques de nacionalismo de pacotilha como a história da bandeira da Guiné-Bissau, um pretexto para mentecapto ir atrás. Por isso, como sou embirrento, tive a foto dela ali no canto direito até tomar posse.
Ressentimento, não dei por isso; se for o caso lá terá as suas razões. Vejo antes força interior.
Gaguez, vai ver que é uma questão de hábito, e que a tendência será para um maior domínio dela. Mas mesmo que não suceda tal, paciência. É uma cidadã na posse integral dos seus direitos e deveres e têm de lhe ser dadas condições -- tal como teriam de dar a um deputado cego, surdo ou com paralisia cerebral -- que, como sabe, não significa défice intelectual. Deputada eleita é para deputar. Desenrasquem-se.
Aristides, não sei se descobriram; a verdade é que ninguém se tinha lembrado, pelo menos àquele nível. Mas Aristides sem Angelina, parece-me mal.

Manuel Rocha disse...

"Deputada eleita é para deputar. "

Estando a função parlamentar incluida na deputação, sendo no caso particularmente relevante dada a circuntância de se tratar de deputado único, tenho sérias dúvidas sobre a eficácia da escolha.

" É uma cidadã na posse integral dos seus direitos e deveres e têm de lhe ser dadas condições -"

No limite o mesmo principio aplicar-se-ia a qualquer invisual que quisesse ser motorista de transportes públicos. Apesar das pressões do politicamente correcto, parece-me incontornável a existência de limitações que são discriminatórias. É da vida.

Cump.

MRocha

R. disse...

Obrigado pelo comentário.
Não acho que três ou quatro dias de sessão parlamentar justifiquem essas dúvidas.
Pelo contrário, à partida as qualificações e a postura são excelentes.
O que não falta no parlamento são deputados rouxinóis que gostam muito de se ouvir com um discurso redondo ou vazio.
Por outro lado, também há, em número abundante, aquilo a que António Barreto chamou, nos tempos áureos do cavaquismo, 'deputados de cu', os que servem para se levantar e sentar na hora das votações, tipos sem substância mas certamente muito hábeis na cozinha dos aparelhos partidários.
Até agora, sinto-me bem representado pela deputada em que votei; se for preciso criticar, fá-lo-ei, mas não será certamente por gaguejar. Se me dá o gosto de passar por aqui, sabe que não sacrifico ao politicamente correcto.

Jaime Santos disse...

Muito bem, assino por baixo desta vez e sabe que na maioria das vezes discordamos.

Aliás, se Jorge VI conseguiu dizer aquele discurso brilhante sem falhas, não vejo porque Joacine não possa aprender a estar à vontade na função parlamentar. Ela já mostrou que quando fica menos nervosa é capaz de falar quase sem gaguejar.

Numa República Democrática, todos têm direito a ser representados e a representar, e aí incluem-se as mulheres, os negros, os gagos, etc, etc. A eleição de Joacine representa o quebrar de mais um telhado de vidro. O símbolo só por si não chega, mas é bem importante.

Espero no entanto que o Livre e Joacine se lembrem que foram eleitos para defenderem ideias e não para tornarem o Partido conhecido por falsas polémicas, como a história da saia.

O assessor de Joacine pode ir para o Parlamento de kilt escocês completo que isso não me diz respeito, mas ele e sobretudo ela deveriam lembrar-se que tais atitudes podem servir para afogar as propostas do Livre no meio do ruído 'merdiático'.

Às vezes, ser-se discreto é mesmo uma forma de inteligência...

R. disse...

Fora das 'redes' tenho ideia que a coisa como veio, foi. Curiosamente, não me escandalizei nada, talvez porque, apesar do inusitado da situação, não me pareceu haver ali espavento, que é algo que me aborrece sempre. E como também acho que cada um veste o que quiser...

Acho que a Joacine tem condições e inteligência para ser uma grande deputada, e por enquanto, não tenho visto o projecto do Livre ser posto em causa. Basta ver as comissões integra: Direitos, Liberdades e Garantias, Assuntos Europeus e Ambiente. Parece-me bem.