Garret era um extraordinário bon vivant; nada do que respeitasse aos prazeres da vida lhe era alheio, o que não o inibiu de alcandorar-se em figura de primeira grandeza na vida pública e cultural do seu tempo. O legado político e literário confronta bem com as fraquezas, ou fortalezas -- depende do ponto de vista --, de João Baptista da Silva Leitão. E é isso que o capítulo inicial das Viagens evidencia em cada frase. Atente-se no sumário do capítulo I:
«De como o autor deste erudito livro se resolveu a viajar na sua terra, depois de ter viajado no seu quarto; e como resolveu imortalizar-se escrevendo estas viagens. -- Parte para Santarém. -- Chega ao Terreira do Paço, embarca no vapor de Vila Nova; e o que aí lhe sucede. A Dedução Cronológica e a Baixa de Lisboa. -- Lord Byron e um bom charuto. -- Travam-se de razões os íhavos e os bordas-d'água: -- os da calça larga levam a melhor.» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra [1846], Mem Martins, Publicações Europa-América, 1976, p. 9.
Todo o tom é optimista, gozoso e sadio: o prazer da partida, a literatura, a paisagem, a política, mesmo quando adversa, as pessoas, a coloquialidade e a ironia, os pequenos prazeres, o humor -- acima de tudo. O tom de alguém que agarrou a vida com as duas mãos, dela sabendo retirar recompensa estética e sensorial, permitida ou conquistada. É um estilo de alguém que se sente muito bem na sua pele.
4 comentários:
Li este livro com 11 anos, tinha surgido uma edição de bolso PEA e adorei de tal forma "As Viagens", que ainda hoje recomendo esse livro aos amigos.
Muito boa noite.
E sempre um prazer repegar-lhe.
Boas leituras!
Ironia romântica.
Por certo.
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