Sou um cosmopolita e aspiro a uma Europa confederal. Faço minhas as palavras do Mitterand, segundo o qual "o nacionalismo é a guerra". É, porém, evidente -- ou deveria sê-lo para quem se detivesse a pensar um pouco -- que este cosmopolitismo, ou mesmo um internacionalismo de qualquer espécie, só é aplicável a jusante da autodeterminação. Daí que sejam especialmente patetas as observações que pretendem condenar o independentismo catalão a pretexto de uma pretensa aversão aos nacionalismos, como ontem tive a infelicidade de ouvir a dois legumes. Seria como se condenássemos os nacionalistas angolanos, moçambicanos e guineenses, que pretendiam ver-se livres da tutela portuguesa, em nome de bonitos princípios. Princípios de resto que estes indivíduos evocam conforme lhes apetece -- dando de barato, com alguma boa-vontade de que sabem do que falam, o que nem é certo.
E a propósito de princípios, gostaria que me demonstrassem de que modo alguém pode afirmar-se democrata, se endossa de bom grado ao poder vigente a possibilidade de impedir que um povo possa ser auscultado sobre a sua autodeterminação. Não é claramente um democrata; não passa dum oportunista e dum farsante se se disser tal.
Mais: como pode alguém definir-se como liberal (um termo nobre, diga-se), liberal numa concepção de largo espectro, que pode ir dum certo conservadorismo não-reaccionário até ao liberalismo mais extremo, que é o anarquismo, como se pode definir esse alguém como liberal se pactua e aplaude o poder da força de um estado central? Será um liberal de acordo com as suas conveniências. É pouco, não serve, não interessa.
(Curiosamente a luta pela autodeterminação catalã, não apenas lá, como cá, compreende um conjunto de defensores muito lato, precisamente do conservadorismo ao campo libertário. Do outro lado, por cá, descontando os que não sabem o que dizem, os autoritários, os argentários e suas derivações e uma categoria de criaturas que está comprometida com o poder, lesto em assinar por baixo as directivas de Rajoy.)
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