Esta historieta do Panteão é acima de tudo reveladora da indignidade dos círculos do poder (o passa-culpas grotesco governo-oposição); é uma manifestação da desvergonha do nosso atraso e da nossa saloiice: qualquer monumento, palácio, museu está sujeito a albergar um repasto, basta ter a carteira suficientemente recheada e gosto duvidoso.
"Web Summit", nada contra e, desde o início, nenhum interesse; os orgasmos analfabetos da imprensa, ainda me deixam a rosnar sozinho, mas cada vez ligo menos. (Qualquer dia desisto -- já estive mais longe --, e arranjo um Vale de Lobos à minha pobre medida.) Porém, em face dos deslumbramentos da semana passada -- alguns, certamente justificados -- lembrava-me da sala de concertos do Conservatório Nacional, entre outras coisas que não interessam a ninguém, nem sequer ao Menino Jesus, que renasce para o mês que vem: o património histórico ao abandono, dos castelos aos clássicos da nossa língua, que deveriam ter um programa em larga escala e competência editorial em edições acessíveis, a pensar em nós, portugueses, e naqueles a quem coube em sorte partilhar o nosso idioma. Nada, nada, nada -- zero.
Por falar em memória histórica, um programa excepcional de Fernando Rosas sobre o colonialismo português, é transmitido em horário envergonhado, na RTP2, à hora dos telejornais indigentes dos três canais. O desconhecimento da História não aproveita a ninguém; pelo contrário, é substituído pelo preconceito e pelas ideias feitas -- as mesmas que não nos permitiram assumir de frente a nossa história recente, deixando entregues a si próprios quantos combateram pelo "império" e serviram de carne para canhão, alimento de básicos interesses de dominação mascarados de nacionalismo transcendente. Uma vergonha nunca vem só.
Este alinhavar desencantado -- e exemplos não me faltam --, para dizer apenas a seguinte banalidade: um país que não valoriza a sua memória histórica, senão quando ela serve para propaganda e obtenção de votos, não é só um país indigno, é também um país sem futuro.
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