«Silêncio. Ponho o ouvido à escuta e ouço sempre o trabalho persistente do caruncho que rói há séculoa na madeira e nas almas. // 15 de Novembro // Debaixo destes tectos, entre cada quatro paredes, cada um procura reduzir a vida a uma insignificância.» Raul Brandão, Húmus (1917)
«Mas, para lá do muro, os olhos de Manuel da Bouça já não podiam ver com alegria, os campos que se estendiam, planos, bem regados, até próximo da igreja velha. Possuí-los, ser seu dono, semear e colher o milho que aloirava aos primeiros calores fortes e, no Inverno, a erva dos lameiros, que formava tapetes sempre húmidos, era o seu único sonho, a grande aspiração da sua vida.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)
«Havia sermonários latinos, um Marco Marulo, três retóricas, muitas teologias, um Euclides, comentários de versões literais de Tito Lívio e Virgílio. Deixei tudo na benemérita podridão, tirante uma versão castelhana do mantuano por Diego Lopez e um muito raro Entendimento Literal e Construiçam Portuguesa de Todas as Obras de Horácio, por industria de Francisco da Costa, impresso em 1639. Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins (1882)
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1 comentário:
«Não tinha a juventude sistema pedagógico, ou padrão, que a norteasse, nem bom nem mau. À data de 1550 contavam-se em Lisboa sete mestres de gramática, o mesmo era que de instrução secundária, e trinta e quatro de primeiras letras. Mas havia quatrocentas e trinta lojas de ourives e duzentos botequins e tavernas. Entravam anualmente nos bazares vinte e dois mil escravos. Com a vertigem da aventura, imolavam-se ao luxo e à tirania da ostentação todos os brios. Nunca como então se vendeu a alma ao Diabo. Portugal e, na base molecular, o português eram elementos à deriva. Nem norma, nem disciplina. Falhava a coesão íntima que torna as famílias solidárias como polipeiros e os Estados seus centros ganglionares susceptíveis de lhes condicionar a progressão e defesa.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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