«Os filhos do seu predecessor Vítiza, os mancebos Sisebuto e Ebas, disputaram-lha largo tempo; mas, segundo parece dos escassos monumentos históricos dessa escura época, cederam por fim, não à usurpação, porque o trono gótico não era legalmente hereditário, mas à fortuna e ousadia do ambicioso soldado, que os deixou viver em paz na própria corte e os revestiu de dignidades militares. Daí, se dermos crédito a antigos historiadores, lhe veio a última ruína na batalha do rio Críssus ou Guadalete, em que o império gótico foi aniquilado» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)
«Mandei perguntar à Sr.ª Joaquina se dava licença que eu visse os livros. Não só mos deixou ver, mas até mos deu todos -- que escolhesse, que levasse. / Examinei-os com alvoroço de bibliómano. Eles, gordurosos, húmidos, empoeirados, pareciam-me sedutores como ao leitor delicadamente sensual se lhe afigura a face da mulher querida, oleosa de cold-cream, pulverizada de bismuto.» Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins (1882)
«A cercar os mimos viçosos da natureza e a muitos deles servindo de dossel, corria a vinha, toda armada em carvalho e arame, com espigões no muro branco que ele sozinho erguera, aos domingos, desde os alicerces à dentadura de vidros partidos -- veto indispensável ao arrojo da gatunagem.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)
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«O número dos celibatários cresceu, era fatal que crescesse porque a vida ventureira assim o impunha e nada mais ponderoso e constringente que ter mulher e filhos com o respectivo lar a manter. Os claustros superpovoaram-se. Para os sinistrados do mundo, desde que fossem de boa família, para os congenitamente velhos, para os tíbios de temperamento, para os sibaritas -- e na linha nobiliárquica dos grandes de Portugal estes frutos eram comuns -- aquele era o seguro e demandado porto de abrigo. As casas religiosas recebiam todos os salvados do naufrágio social como golfos. Compreendia-se: ali não faltava nada, nem honras, nem ripanço, nem mesmo Cristo. Em contraposição, a carência da gente na marinha, no comércio, nas armas, tornava-se calamidade. Aos quinze anos, os filhos-famílias investiam-se duma alforria que os pais de resto lhes não contestavam. E, verdade seja, comportavam-se na guerra como os veteranos. D. António de Noronha e o filho de Sá de Miranda em Ceuta, o duque de Aveiro em Alcácer, morreram quase rapazinhos, ao entrar da puberdade.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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