quarta-feira, dezembro 28, 2022

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«E na confusão uns tantos, de exaustos, se deixaram ficar no cais, a ver o barco sumir-se pelo mar dentro, como se deles se houvesse despegado a derradeira fé na vida.» Manuel Ferreira, Hora di Bai (1962)

«É uma terra ainda assim grande, se formos comparar, primeiro em corcovas, alguma água de ribeira, que a do céu tanto lhe dá para faltar como para sobejar, e para baixo desmaia-se em terra fita, lisa como a palma de qualquer mão, ainda que muitas destas, por fado de vida, tendam com o tempo a fechar-se, feitas ao cabo da enxada e da foice ou gadanha.» José Saramago, Levantado do Chão (1980) 

«Perturbavam-se de prazer a trepidação da partida, o halo da novidade e sobretudo o apelo intrínseco e doce de todas as pequenas coisas que ficavam mais perto de mim, como o fato novo, estreado esse dia, e o farnel da merenda para comer no comboio.»  Vergílio Ferreira Manhã Submersa (1954)

2 comentários:

Olinda Melo disse...


Huumm...

Manuel Ferreira, inexcedível nesta "Hora de bai".

Saramago - quase que me faltava o fôlego quando li o
"Levantado do chão". Um choque :) Depois habituei-me
e já não queria outra coisa.

Vergílio Ferreira - há tanto tempo que pego em "Manhã
Submersa", manuseio-o e nunca o leio.
Acho que "É hora!".

Feliz Ano Novo!
Abraço
Olinda

R. disse...

Assino por baixo, e sim, o »Manhã Submersa» é esplêndido.

Obrigado e também para si!