domingo, dezembro 25, 2022

cara e coroa

Os super-heróis aparecem nos anos 30, como reflexo da ausência de resposta satisfatória das autoridades à criminalidade. Espécie de vigilantes mascarados, operam ao lado ou à margem da lei, perseguindo delinquentes aterrorizados, o que lhes dá uma aura no imaginário popular com a qual um Dick Tracy não pode competir.

Batman pertence a esse universo, mas tal como os seus colegas mais interessantes (Fantasma, Homem-Aranha, Demolidor) é demasiado humano. Em A Piada Mortal / The Killing Joke (1988), Alan Moore foge ao modelo maniqueísta do herói vs. vilão: o Joker, arqui-inimigo e personagem central desta história, ganha o estatuto de uma espécie de duplo do homem-morcego, cara e coroa de uma mesma moeda. Narrativa impecável, flui em dois planos: o da actualidade – a fuga do Asilo Arkham e a perseguição levada a cabo pelo caped crusader, em que o Joker faz todo o mal para ser encontrado; e uma acção pretérita que nos conta a origem do criminoso, presenciada pelo Batman. À subtileza do argumento junta-se o desenho superlativo de Brian Bolland: nunca o Joker pareceu tão horrível e tão frágil; e o Batman, saído há 80 anos do lápis de Bob Kane, está terrivelmente espectral, ao nível dos melhores artistas que o serviram, a começar por Neal Adams.


Batman – A Piada Mortal

argumento: Alan Moore

desenhos: Brian Bolland

cor: John Higgins

Editora Abril, São Paulo, 1988

(Setembro, 2019)





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