Correndo o risco de me chamarem socrático -- para o que, devo dizer em bom português, me estou a cagar --, a trágica semana que passou teve, pelo menos, dois afloramentos sobre Sócrates plantados nos noticiários, particularmente cómicos pelo que parecem revelar duma certa aflição do Ministério Público em fazer prova das acusações em que "acredita" (entre aspas, porque é um termo muito utilizado pelo jornalistas a quem têm sido servidas fatias do processo, ao longo dos último meses):~
a primeira que li por aí é que -- para responder à perplexidade de Sócrates ser acusado de corrupção nos casos Parque Escolar, PT, TGV e Vale do Lobo, enquanto os ministros das respectivas pastas saíram incólumes -- dava-se conhecimento à opinião pública de que os governantes foram manipulados, não tendo consciência do que estavam a despachar. Fui ver a composição dos governos, e verifiquei que nas pastas das Finanças, Ambiente, Economia, Educação e Obras Públicas, Transportes e Comunicações, estiveram: Campos e Cunha (o único que se pôs ao fresco), Teixeira dos Santos, Nunes Correia, Dulce Pássaro, Manuel Pinho, José Vieira da Silva, Maria de Lurdes Rodrigues, Isabel Alçada, Mário Lino e António Mendonça. É capaz de ser gente a mais a revelar-se tão ingénua e/ou impreparada. Enfim, parece-me difícil;
a segunda, típica campanha orquestrada, foi a de ontem: "Sócrates não é engenheiro", titularam todos os media, a partir de um esclarecimento difundido pela respectiva Ordem, vindo, obviamente, confundir a opinião pública (ah, o curso...). Ora acontece que Sócrates é mesmo engenheiro por formação académica, um engenheiro que não exerce, como sucede a tanta gente: Fialho de Almeida era médico, médico era Jaime Cortesão, enquanto que o seu irmão, Armando Cortesão, foi engenheiro agrónomo, ou Jorge de Sena, engenheiro civil. Nada disto é extraordinário, mas percebe-se o objectivo, o que leva-me a perguntar: está o MP assim tão inseguro? E, já agora: giro, giro teria sido a distinta Ordem dos Engenheiros pronunciar-dr quando Sócrates era primeiro-ministro. Agora, presta-se ao pouco dignificante papel de vir ajudar a malhar em quem, com razões ou sem elas, está no chão.
13 comentários:
Meu caro, essas questões já nada têm que ver para o caso. Fazem parte dos números de circo mediáticos a que já vamos estando habituados. Realmente medonhas são as evidências, as incongruências, as escutas, claro, as escutas, a que não devíamos ter acesso, mas, tendo, como poderemos ignorá-las? Das duas uma: ou Sócrates é um doente mental e nós andámos a ser governados por um doente mental ou é mesmo criminoso e nós andámos a ser governados por um criminoso. Não me parece, dadas as evidências, haver alternativa a isto.
Amigo Ricardo. Vejo que se preocupa assaz com o dito cujo engenheiro.
Porque o conheço bastante bem, não o apelido, só por isso, de socrático. Assim, pela minha parte, não terá que recorrer à reserva de papel higiénico. Mas, sabedor que penso ser do seu exigente critério em matéria de intervenção bloguística, não deixa de me surpreender um pouco que dedique tanto do seu precioso tempo ao tema.
Efectivamente, e na minha mísera opinião,se há um tempo em que, relativamente ao processo marquês, o mais sensato é esperar para ver, esse é o presente. Na verdade, mau grado a soltura ou caganeira (desculpe que utilize uma variante do seu vernáculo) que que se tem vindo a projectar nalguns jornais, aparentemente provinda do processo, creio que ninguém saberá o suficiente do que lá consta para poder tirar conclusões... Eu, cidadão prudente e cauteloso que me prezo de ser (admito que excessivamente), e crente num resquício de competência e seriedade dos responsáveis do processo, prefiro mesmo esperar e confiar um pouco... Há uma longa investigação, há uma acusação (por fim!), e estou esperançado de que a equipa do RT não seja totalmente desprovida de sentido de responsabilidade.
Quanto ao assunto da "engenhice" do dito senhor, estou consigo. O homem tem o canudo e acabou-se a conversa. Não tem é a humildade desses vultos que citou, os quais tendo muito mais que mostrar ao mundo, de importante e precioso, se estiveram cagando para os títulos académicos.
Aceite o abraço sincero e amigo de sempre. E, por favor, não leve a mal.
Henrique, creio que ao longo destes anos nunca jurei pela inocência de Sócrates, mas atendendo aos antecedentes (golpada no caso Casa Pia para liquidar a liderança de Ferro Rodrigues, a que se junta a impunidade que tem protegido a direita, especialmente o CDS -- os submarinos), reservo-me o direito de desconfiar do Ministério Público), pelo que posso até dar de barato isso tudo que você sustenta, mas creio que as perguntas e as observações que faço são pertinentes: foram aqueles ministros todos, mais secretários de estado, ludibriados por Sócrates? Ou foram, e fazem parte do gangue, pelo que não vejo como não possam ser também eles constituídos arguidos; ou não foram, e então, uma vez que não podias estar à margem dos processos, haverá algo na acusação que não encaixa. Esta a pergunta. Quanto à notícia de ontem, é tão evidente que faz parte da parte mediática do processo, que convém dizê-lo, até para que não nos tomem por parvos.
Caríssimo Fernando, era o que faltava levar-lhe a mal! Para não repetir o post, nem a resposta ao Henrique, vou directamente à sua observação. O que me faz gastar tempo com este tema, eu, que não conheço o Sócrates, que só votei nele uma vez, das três que se apresentou a eleições, e que fui até prejudicado pelo seu governo, enquanto funcionário público?!...
Nem sei bem. Desde o terrorismo da direita com a campanha negra do Santana Lopes sobre a alegada mariquice do homem, depois a cena do Freeport, fabricada num escritório qualquer do CDS (foi aí que votei nele, está a ver?...), até tudo o que se passou depois. Também é verdade que sempre gostei de ser do contra, e não me satisfaço com a justiça conduzida pelo Correio da Manhã. Por isso, quando vejo uma notícia estúpida, de fonte atribuída ao MP, que os ministros foram todos manipulados, acho que estão a gozar connosco; e então reajo, mesmo correndo o risco de vir a ser exposto como ingénuo ou coisa pior. É assim..
Forte abraço, e mande sempre!
Ó vós todos atrás, mas de que forma se elaboram os vossos pensamentos?
Nem mesmo perante novas notícias completamente absurdas e estúpidas que não são mais que uma sequência na já longa caudalosa corrente de notícias igualmente estúpidas plantadas em determinados jornais e, sobretudo, em cima de uma aviltante prisão mediática tal como já fora utilizada no caso "Casa Pia" sob o pretexto de "fortes indícios" e "provas irrefutáveis" acerca de corrupção em situações que agora se sabe nem sequer constam na acusação, digo eu, nem mesmo perante tais doentios saltos lógicos dados/fabricados pelo MP sois vós capazes de rcionalizar logicamente?
Nem sois capazes de, perante tanta agressividade na procura da culpa a Sócrates face a total passividade no caso flagrante dos "submarinos" e "Portucale" de Durão e Portas e sobretudo no caso BPN de Cavaco e todo o imundo mundo do cavaquistão, juntar logicamente todos estes comportamentos desiguais e opostos para cada caso e tirar uma minimamente conclusão lógica?
Pois, acho eu que para quem já leu as várias "acusações" históricas desde a outra acusação ao Sócrates grego, conhece bem os métodos que os "maquiavélicos" antes e depois de Maquiavel usam para afastar os homens políticos de carisma e envergadura que não se vergam nem vão à mão dos poderosos.
E em consequência é preciso abatê-los o que antigamente faziam segundo o termo literal de abater e, hoje, em democracia se faz pela fabricação de uma trama de falsidades e ataques de carácter feitas nos media ao serviço dos mesmos poderosos de sempre, agora senhores esses media.
Quem se atreve a subverter os valores instalados dos intocáveis e poderosos jamais se safam com métodos honestos de incorruptos e serão sempre acusados e sacrificados como bodes expiatórios, precisamente, dos verdadeiros corrupto.
Se se pensar logicamente sobre todo este processo feito de "saltos ilógicos" e saltitar de caso em caso e lugar para à última da hora, morto o homem DDT, o ligarem tão profundamente a Sócrates quando todos sabemos quem eram os frequentadores do seu "Paço" de DDT.
Assim, Sócrates é neste processo kafkiano, o bode expiatório da imunda corrupção da escola cavaquista e simultâneamente o sacrificado para catarse do povão ingénuo, manipulado pelo poderosos assistidos pelos intocáveis salazaristas embebidos na máquina da justiça.
jose neves
Prezado José Neves,
aguardemos a exposição desses saltos ilógicos, à medida do desenrolar do processo. Seria interessante que não ficasse folha sobre folha, como disse Sócrates na RTP. Não tenho certezas sobre o que quer que seja, a não ser quanto às evidências da tentativa de um forte condicionamento da opinião pública, o que está longe de ser saudável.
Para além disso, deixe-me felicitá-lo por não se esconder atrás de um pseudónimo na defesa dp ex-PM. Não devem ser muitos, nesta altura do campeonato.
O Sr. Ricardo Alves mostra não saber a diferença entre um diploma e um título profissional. As universidades não outorgam títulos. Não me diga que você não conhece as Leis da República Portuguesa. As Ordens não fazem Leis. Aqueles que são eleitos em nome do povo aprovam as Leis que regem este país. As Ordens estão reguladas pela Lei n.º 2/2013, de 10 de janeiro onde está escrito que as Ordens prosseguem interesses de valor público de especial RELEVO que o Estado não pode assegurar. Os mesmos representantes do povo Português aprovaram uma Lei que regula o título de Engenheiro, Lei n.º 123/2015 de 2 de setembro. A protecção legal dos títulos pretende impedir o crime de ursupação de funções. Se um médico for expulso da Ordem dos Médicos não pode continuar a dizer que é médico. Percebe isso ou não ? O objectivo do seu post é chamar burros aos deputados que aprovaram a referida Lei ? Revela também que não sabe quais as atribuições da Ordem dos Engenheiros que estão consignadas na Lei, nomeadamente atribuir e proteger o título de engenheiro:
b) Atribuir, em exclusivo, o título profissional de engenheiro;
g) Proteger o título e a profissão de engenheiro, promovendo o procedimento judicial contra quem o use ou a exerça ilegalmente, podendo, designadamente, constituir- -se assistente em processo penal;
sinceramente,
Quando não se percebe que o que se passa com JS é o que se passa com qualquer vulgo a contas com a pesporrência da "justiça" , é porque não se quer saber do imperativo civico de um Estado de Direito . O seu apelo ao "deixa andar", sugerindo que se "dê tempo ao tempo", é sintomático. Espero que nunca chegue ao ponto de lhe calhar a si a "sorte" e já não haver ninguém para sequer se indignar.
Caro Ricardo,
Embora não me interesse pela pequena história (a das televisões e dos tablóides), gostei do seu post. Devo dizer-lhe que eu não votei só uma vez no citado Sócrates, mas duas: na reeleição e no processo eleitoral que se seguiu ao chumbo do PEC IV - essa, sim, uma verdadeira geringonça com PPD, CDS, BLOCO, PCP e PEV todos do mesmo lado. Optei pelo voto útil (inútil da segunda vez), que como deve saber eu não sou nem nunca fui socialista (do PS, entenda-se...). Aquela conversa do despesismo socrático quando as orientações keynesianas da UE iam justamente no sentido de se fazer despesa para contrariar a crise, é algo que parece esquecido. Depois da rocambolesca prisão do homem, os indícios e provas fazem-me supor que alguma coisa deve ter acontecido. Não ponho as mãos no fogo por ninguém e se há crimes há que sofrer as consequências. Só que não confio nos justiceiros deste país, uma classe sobre a qual o clínico de Viena, se estivesse entre nós, produziria certamente interessantes juízos. É só olhar para esse juiz Alexandre. Será que fica com o processo?
Ricardo,
Fique claro que não falo da Justiça, onde há gente válida e séria, mas dos justiceiros.Compreendido, espero.
Sr. Fernando.
Há tanta coisa que não sei. .. Quanto a si, demonstrou que não sabe interpretar o que lê, a começar pelo comunicado da Ordem e a acabar no meu singelo post.
Caro Manuel,
concordo com tudo o que escreve, opiniões que eu próprio tenho trazido para aqui nos últimos anos.
Quanto ao juiz Alexandre ficar com o processo, seria não apenas um escândalo, mas uma machadada na credibilidade da Justiça, pois desta esperamos que seja... justa.
"Se um médico for expulso da Ordem dos Médicos não pode continuar a dizer que é médico."
"b) Atribuir, em exclusivo, o título profissional de engenheiro"
Caro fernando o seu argumento não está fundamentado em nenhuma das "leis" que invocou no caso de Sócrates. Este nunca foi expulso da "Ordem" porque nem sequer alguma vez lá se inscreveu. Um licenciado em engenharia tem todo o direito de se intitular Eng.º uma vez lhe entregue o diploma pela Escola que frequentou. O que a Ordem faz é abusar da interpretação dos seus direitos outorgados pelo Estado. Ela apenas atribui, em exclusivo, o titulo profissional, quer dizer, passar a carteira profissional mas jamais pode impedir o uso do licenciado ao seu título académico.
Mesmo esse mal-parido direito de Passar a Carteira profissional é um abuso que o Estado confere à Ordem.
Logo a seguir ao 25Abil1974 uma reunião da Ordem tomada pelo PCP quis aprovar que só ela podia designar quem era engenheiro e quem podia trabalhar como engº, isto é, quem não tivesse "Carteira" ia vegetar a lavar pratos ou sanitas: era a perfeita prática estalinista do "sindicalismo" com correia de transmissão do partido.
Bateram-se contra tal alarvidade eu e mais dois ou três e fomos enxovalhados pela sala recheada de pêcêpês.
Eu tinha na altura o curso do velho IIL e dez anos depois fiz o IST e felizmente nunca precisei da "carteira" para trabalhar.
É um abuso inaceitável que leva à discriminação por inimizade, vingança, partidária ou motivos pessoais. Porque carga de água uma Escola reconhecida atribui a conclusão de uma licenciatura técnica porque reconhece o aluno apto a exercer cabalmente esses conhecimentos técnicos e depois vêm uns senhores engºs cheios de ordem burocrática dizer o contrário?
Esse é perfeitamente um dos casos em que o Estado foi capturado por gente que devia ter vergonha, esses sim, de exercerem censura arbitrária sobre colegas.
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