segunda-feira, outubro 02, 2017

o franquista Rajoy lembrou-me o salazarista Franco Nogueira

* Franco Nogueira, ministro dos Negócios Estrangeiros e futuro biógrafo de Salazar, era um tipo culto e sagaz, mas, por vezes, dava-lhe para ser chico-esperto. Sei do que falo, pois fui seu aluno, e um dia entalei-o numa aula, quando pretendia aldrabar os alunos a propósito  de um artigo da Constituição de 1933, a propósito da eleição do Presidente da República. Dizia o antigo embaixador que o documento fundamental do Estado Novo consagrava a eleição colegial do PR pela Assembleia Nacional, tendo eu de lembrar-lhe, para seu desconforto, que até 1958 (recorde-se ano da fraude que impediu a vitória de Humberto Delgado), a eleição era feita por sufrágio universal. Após o terrorismo de estado exercido pelo poder, que garantiu o roubo eleitoral, o cagaço foi tão grande, que o regime se apressou a fazer uma revisão constitucional para evitar futuras e semelhantes surpresas.
Uma das finuras chicoespertas de Franco Nogueira quando tinha de enfrentar a comunidade internacional na ONU, por causa da vil Guerra Colonial, era uma linha de argumentação que defendia Portugal ser também um país africano (sic), pois até a Constituição consagrava aqueles territórios como "províncias ultramarinas"...
Ao ouvir ontem o franquista Rajoy a encher a boca de "democracia", "lei" e "constituição", que naquela boca e naquelas circunstâncias soam sempre a vitupério, lembrei-me do velho embaixador das causas perdidas.


* Ada Colau, presidente do município de Barcelona, qualificou ontem o primeiro-ministro espanhol como um cobarde. Poucas vezes um tal doesto assentou tão bem a uma criatura política que não hesitou em esconder-se por detrás do álibi constitucional para reprimir ilegitimamente um povo que quer autodeterminar-se. Cobarde e estúpido, como se vê, pela grande incentivo que deu à causa independentista. 
Já a comportamento da União Europeia, através do lamentável Junker vinhateiro, foi abaixo de miserável. Salvaram-se o  primeiro-ministro belga, Charles Michel, e o esloveno Miro Cerar, ao deplorarem a violência de estado. E vindo de onde veio, Bélgica e Eslovénia, este reparo tem um assinalável significado político, pese a pequena dimensão e peso dos dois países no contexto europeu.
Felizmente, com todos os seus defeitos, a UE serve de escudo para proteger os catalães de acções mais repressivas -- assim o creio e espero, veremos.


* Detestei a nota do governo português. Poderia ter manifestado o desejo de que o estado espanhol resolvesse os seus problemas internos, sem tirar o tapete aos catalães, com a conversa do respeito pela constituição negociada de 1978, objectivamente pondo-se ao lado do governo de Madrid. Vindo de Portugal, é particularmente triste e vergonhoso. Eu tive vergonha.


* Uma notícula para alguns comentadores: todos são livres para opinar e defender o que do seu ponto vista parecer mais justo e avisado. Têm até o direito de exibirem publicamente os seus preconceitos ou falta de preparação, não tendo noção do que estão a dizer. Argumentar com aldrabices, como certa indivídua cujo nome omito por pena, mas sem respeito nenhum, que a reivindicação catalã de autodeterminação seria equivalente a uma acção semelhante que, por absurdo, partisse do Porto, é de tal modo um insulto à inteligência, que me pergunto se a criatura, além de tonta, não será mesmo desprovida de um mínimo de cabedal para exercer o comentário. 

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