Cacilda. Preta. Por fome
(essa fome brasileira,
mais nortista que sulista,
sergipe de tão comum),
Cacilda, preta, por fome
de comida se dá tôda.
Por amor só dá a um.
Mau comércio de Cacilda.
Cacilda dorme com todos
mas acorda sem nenhum.
Vigarice de Cacilda
pelas ruas do Sol-Pôsto
cavando seu desjejum:
Se espoja em cama-de-vento
apaga a vela a Ogum.
O corpo vira cem pratas.
Com vinte de safadeza,
mais dez de sem-vergonhice,
Cacilda compra pimenta.
Meia-noite janta atum.
Ah profissão de Cacilda
que deita por feijão-prêto
e nana por jerimum.
Deita, Cacilda. Deitada,
a fome quebra o jejum.
Cacilda, preta expedita
polvilha pele e axila.
Com talco leite de rosa
desodoriza o bodum.
Cacilda, preta expedita.
Sempre fatura algum.
Cacilda, negrinha à-toa,
mulher de Cosme e Doum.
Com fome se dá a todos.
Jantada, só dá a um.

O Livro de Zaíra Kemper & Poesia Reunida
2 comentários:
Não conhecia. Mas adorei esta poesia sobre a Cacilda!
:)
Saborosíssima Ana Paula :|
Enviar um comentário