segunda-feira, maio 28, 2007

Antologia Improvável #229 - Edmundo de Bettencourt

PAISAGEM VERDADEIRA

O verde tenro e vivo, de folhagem,
Presépio dos meus olhos, em menino,
Pôs-se de luto a par com meu destino,
Cego-me a vê-lo imagem de miragem...

Quando, iludido, o busco na ramagem,
Já com seus tons mais brandos não atino;
E nesta escuridão, só me ilumino
Vendo-o compor-me interior paisagem:

Paisagem de ouro verde, que de mim
Sai alongada em foco para a terra
A procurar vencer-lhe a cerração,

E aonde num crepúsculo sem fim
Tonta, a esperança, esvoaçando, erra
Sobre torres de encanto e de traição!


O Momento e a Legenda / Líricas Portuguesas. 2.ª Série
(edição de Cabral do Nascimento)

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