domingo, dezembro 24, 2023

o tempo das amas e criadas, e outros caracteres móveis

«Criadas estrangeiras e fortes moçoilas espadaúdas conduziam ao banho as crianças, que saltavam pelo saibro do caminho.» Conde de Sabugosa, «A aliança inglesa», De Braço Dado (1894) «Durante o Inverno, as mais das vezes, o Oceano batia, por tal forma enraivecido, na muralha negra das rochas, que isolava do mundo aquele milhar de habitantes, cujas vidas se consumiam entre disputas, tédios, quesílias e saudades pelos ausentes, uma carta que recebessem servindo a estirados paleios com os vizinhos, toda a população, afinal.» Assis Esperança, «O dinheiro», O Dilúvio (1932) «Jantar alegremente numa horta, debaixo das parreiras, vendo correr a água das regas -- chorar com os melodramas que rugiam entre os bastidores do Salitre, alumiados a cera, eram contentamentos que bastavam à burguesia cautelosa.»Eça de Queirós, «Singularidades de uma Rapariga loura»(1874), Contos (póst., 1902)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«O concerto mudo começou para os seres que não cantavam, em voz alta, as suas efusões. Era a orgia enrodilhada dos hálitos vegetais, o beijo imanente do ser no ser, que começara. O pé de vento trazia a serra ao vale em noivado. Desceu, primeiro, a sensualidade ligeira da verbena e o travor da flor das giestas. Depois, veio vindo ao de leve o aroma dos rosmaninhos, da bela-luz, da borragem, da erva-maria, das urzes, e o mole langor dos sargaços. Tudo isto baixou ao pomar inundando as madressilvas, as camélias, os gerânios dos canteiros que, muito castigados do sol, com efusão se desagravavam agora na levada nocturna do sereno.»
Aquilino Ribeiro, "Jardim das Tormentas" - conto: "A Tentação do Sátiro" (1913)