quarta-feira, junho 21, 2023

não é preciso chamar nazi ao Zelensky, porque ele não precisa (ucranianas CXCIV)

O nazismo foi a perfeita encarnação do Mal na História contemporânea, em maior grau ainda, pela sua selectividade espúria, do que a escravatura praticada em larga escala com destino às plantações das Américas (o ser humano tratado como mercadoria), os genocídios índio e arménio (atavismo territorial primitivo, no fundo à Gengis Khan), para não falar doutro departamento, o terror estalinista, todo um outro departamento. A depravação moral de Hitler e sicários (um sicariato que se estendeu, infelizmente, a milhares de alemães e povos vizinhos), que o fascista Mussolini quase passa por moderado e o chefe Salazar quase por democrata. O nazismo é único no Ocidente contemporâneo e não vale a pena equipará-lo com qualquer outro sistema de poder.

É por isso que me parece contraproducente o PCP enveredar por essa retórica de Putin (de quem aliás o partido tanto se preocupa em dissociar-se). E não é o único: lembremos Pedro Doares, na recente convenção nacional do Bloco de Esquerda, chamando neonazi ao Zelensky. No entanto, foi neste caso uma hiperbolização salutar, pois, mesmo para quem não é nem gosta do BE, como é o meu caso, causava vergonha e embaraço vê-lo alinhado com a nato ou com o Chega.

Dito isto, também não se pode escamotear a presença, o poder e a influência da extrema-direita neofascista e porventura neonazi em todo o processo que conduziu à guerra que decorre entre os Estados Unidos e a Rússia na Ucrânia.

A CIA, aliás, e beneméritas agremiações americanas congéneres às ordens do Pentágono e do complexo militar-industrial norte-americano (não, obviamente, do taralhouco do Joe Biden), gostam muito de recrutar e branquear este género de delinquentes. Veja-se o caso Navalny: independentemente de tresandar a homem-de-mão, foi membro do partido do Jirinóvsky que deus tem. Ou seja: o rebotalho, o lumpen político e social que a implosão da União Soviétiva excretou.

Voltando ao Zelensky: na mais benigna das hipóteses, foi um líder que hipotecou o próprio país ao ser incapaz de estabelecer um status quo com os russos do Donbass. Não é o único culpado? Não será; mas sujeitou-se a servir os interesses de uma potência global interessada em neutralizar a Rússia. Se perder a guerra, como parece irá perdê-la, ninguém lhe perdoará; se a ganhar, admitamos a hipótese académica, o custo será de tal modo elevado, que alguém irá perguntar-lhe se não teria sido preferível ter-se batido por uma solução que teria por base os Acordos de Minsk. É que -- e nisto o PCP tem toda a razão -- a guerra não começou no ano passado, como dizem para aí os intrujões -- cujo mentor é, recorde-se, Boris Johnson (um Nobel da Paz para ele) --, com a invasão da Rússia pela Ucrânia.     

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