sexta-feira, junho 09, 2023

a arte de começar

«A taberna do Pescada ficava mesmo em frente ao cemitério dos Prazeres, e era frequentada pela gente do sítio, especialmente de noite, à hora em que os cabouqueiros e os britadores abandonam os seus trabalhos e entram na cidade, em ruído.» Fialho de Almeida, A Ruiva (1878)

2 comentários:

Manuel M Pinto disse...

«... Quando se está na adega do querido Dr. Mota não é lícito raciocinar doutro modo. No fundo do copo, um copo que tem de ser do tamanho das crateras por que erguiam suas saúdes os heróis de Homero, eu asseguro que, além da alegria, uma alegria sã e honesta, se encontrará a verdade. Tudo o mais, histórias da vida, apoquentações, azedumes, zelos, cálculos ambiciosos se evaporam como pesadelos que são, avessos à constituição química e racional do homem. De resto, o vinho regrado aconselhava-o Cristo aos seus discípulos como viático salutar a par do bordão. E assim o aconselha o filósofo dos nossos dias. Mas é preciso que seja genuíno, pelo menos de três assobios, ágil, vivo, sem mescla, rescendendo aos aromas que guiavam as abelhas para o mato florido nas encostas do Himeto. O pior dos crimes é produzir vinho mau, engarrafá-lo e servi-lo aos amigos. Por isso o homem de paladar limpo arrenega daquele que é apenas espirituoso sem ser espiritual. Abençoado seja o agulha de Freixinho que é isso tudo, voluptuoso, aromático "quantum satis", lépido, rapaz de todo pelos anos fora, igual àquele que, segundo Renan, medrava nas escarpas amenas da Galileia.
As aldeias serranas não produzem vinho, mas passam por boas esponjas. Ali não há taverneiro que não levante casa com sobrado. Os vales sobre que estão alcandoradas as três ou quatro serras do maciço beirão não têm melhor consumidor.»
Aquilino Ribeiro, "ALDEIA, Terra, Gente e Bichos" (1946)

R. disse...

Que maravilha.