Em 2000, saí a correr do trabalho a meio da tarde, em Sintra, para tentar chegar casa, na Areia, a primeira aldeia depois do Guincho, ameaçada pelo fogo. A polícia parou-me na rotunda do McDonald's de Birre, e tive de fazer o resto do caminho a pé, para resgatar o meu cão. Tivemos sorte, faúlhas entraram pelas janelas semiabertas, mas já extintas.
Esta tarde fui até à igreja da Ulgueira, assistir a um extraordinário concerto pelo Alis Ubbo Ensemble, com leitura de passagens da obra do Ferreira de Castro, nos 120 anos do seu nascimento, no âmbito do Festival de Música de Sintra. Fui e vim pela área que está agora a arder. Nessa altura, umas quatro da tarde, um pequeno fogo surgia numa zona que calculei se situasse entre o Zambujeiro e o Pendão. Na Malveira da Serra, um carro dos bombeiro de Almoçageme voava na direcção de Janes; a seguir, um outro de Colares. Fogo posto?, perguntei-me. Vento, calor e terreno seco, ideal para estas malfeitorias. À noite, aí vinha ele, a sério. Fogo posto, sem grandes dúvidas.
Por volta da meia-noite, andei a fazer o reconhecimento do fogo pelo Guincho (intenso cheiro a queimado e cinzas pelo ar, mas o fogo ainda relativamente distante), Areia, Aldeia de Juzo, Murches e Zambujeiro, e percebi, pela direcção do vento que ele iria fazer um caminho muito parecido, neste lado do sopé da serra de Sintra. Passados dezoito anos, antevejo uma desolação semelhante. Já não vivo no mesmo sítio, a família cresceu, estou numa casa maior, noutra em tempos aldeia, o Cobre, já pegada a Cascais. À partida, apesar de zona de pinhal outrora abundante, não me parece que haja perigo.
Há uma hora, a sirene dos bombeiros soava com insistência, o fogo entrara em força no concelho de Cascais. As aldeias da Biscaia, Figueira do Guincho, Almoinhas Velhas e Charneca e o parque de campismo junto à praia do Guincho foram evacuados por precaução. O vento mantém-se instável e traiçoeiro, as sirenes dos bombeiros continuam a fazer-se ouvir.
São três e cinquenta e quatro da manhã, e isto está para durar.
2 comentários:
Espero que esteja tudo bem, claro...
Sim, meu caro, obrigado!
Aqui onde moro, nunca houve verdadeiramente perigo; o mesmo não se pode dizer daquelas povoações que referi. Felizmente, foram "só" 600 hectares do Parque Natural Sintra-Cascais. Uma sorte o vento ter amainado aí pela 4/5 da manhã...
Um abraço
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