quinta-feira, outubro 23, 2008

Antologia Improvável #336 - Alexandre O'Neill (9)

A NOITE-VIÚVA

Uma pequena angústia sentida nos joelhos
Como o bater do próprio coração
E é a noite que chega
Não a noite-diamante
Mas a noite-viúva a noite
Sete vezes mais impura do que eu
Em passo obsceno em obscena força
Minúscula perversa venenosa

Escrevo o teu nome
Noite de amor que de longe me defendes
Escrevo o teu nome contra a noite obscena
Que a meu lado espera seduzir-me
Levar-me consigo
À porca solidão onde trabalha
À insónia sem margens ao vinho solitário
Duma pequena angústia
Escrevo todos os teus nomes
Puxo-os para mim tapo-me com eles
Na noite da surpresa
Noite feroz da surpresa
Noite do amor atacado de perto e conseguido
Alto e convulsivo
Noite dos amantes deslumbrados
Iluminados pelo demónio mais puro
Noite como uma punhalada ritual no invisível
Noite da vítima-triunfante

Escrevo o teu nome a meu favor e contra
Esta noite este murmúrio esta invenção atroz
A que chamam o dia-a-dia
Estas quatro minúsculas patas
Venenosas da angústia

Escrevo o teu nome cruel
Puro e definitivo.

No Reino da Dinamarca / Poesias Completas

4 comentários:

Ruela disse...

Puro.




Abraço.

Ana Paula Sena disse...

Belo. Em especial para noctívagos. :) Como eu... Quando é possível...

Um poeta imenso e intenso!

hfm disse...

Sempre ele, sempre a reler!

Ricardo António Alves disse...

Ruela: imaculado.

Ana Paula: noctívago também sou; nem sei como tem sido possível. :|

hfm (tenho de ir espreitar o nome...:) um poeta para sempre!