terça-feira, setembro 23, 2025

ucraniana CDIII - angelismo

Não falo em má-fé -- não conheço a pessoa --, mas achar que o alargamento da Nato ocorreu na base dos bonitos princípios ali enunciados, é não ter noção das pulsões imperiais -- que, em abstracto, tanto assistem americanos, russos, chineses e outros.

A partir deste (pseudo)angelismo, constrói-se uma grelha de análise maniqueísta, entre bons  e maus, que os impreparados, os ignorantes e os oportunistas absorvem, servindo-lhes talvez de justificativo para a irracionalidade dos actos dos decisores políticos no sentido de uma escalada insana -- a "fuga para a frente", como bem caracterizou Carlos Branco --, demasiado perigosa se o objectivo for a lavagem ao cérebro das opiniões públicas para que aceitem os gastos previstos com a defesa.

Mas o que ali se lê são as balelas de sempre dos neocons; e o que se defende, sem coragem para o afirmar, é mesmo o confronto directo com a Rússia. Nada disto é novo, andamos há três anos e tal a ouvir as mesmas coisas. No fundo, uma guerra limitada a solo europeu -- santa ingenuidade, ou a desfaçatez dos warmongers -- estrangeirismo que apanhei a Carlos Matos Gomes, cuja cultura e agudeza de análise tanta falta fazem. 

O que também impressiona naquela análise de um português é a ausência de Portugal na equação, dos seus interesses permanentes, que, obviamente como tenho aqui escrito sempre, não podem ser antagonistas do nosso grande vizinho atlântico que são os Estados Unidos e muito menos alienar, prejudicar, secundarizar um dos nossos maiores activos estratégicos, a comunidade dos países de língua portuguesa, que é o que nos dá peso relativo, como se viu na recente viagem de Luís Montenegro à China. Ao contrário, Portugal figura ali como uma espécie de Kosovo -- ou seja, não existe.

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