sábado, dezembro 21, 2024

o que está a acontecer

«Não importa detalhar o insucesso. Direi apenas que a queda não foi tão espectacular que me levasse a acreditar no destino, nem tão imperceptível que não me envergonhasse. Foi um fracasso ordinário e marcante. No final nem sequer tive direito a uma depressão, à varanda de onde pudesse usufruir da contemplação pantanosa de uma vida cheia de estilhaços.» Bruno Vieira Amaral, As Primeiras Coisas (2013)

«Então nós lembramo-nos comovidamente desse actor num papel de inspector de polícia que particularmente nos entusiasmara, pois além de uma inesquecível cena de tiros nos esgotos de uma cidade americana, em que matava trinta e quatro "gangsters" sem sofrer uma beliscadura, contracenava com uma actriz lindíssima, responsável por manchas suspeitas nos lençóis da nossa adolescência -- e esta série de emoções heróicas, eróticas ou plangentes consubstancia-se num desejo irreprimível de ir ao cinema mal badalam nos campanários os ecos da ressurreição.» António Victorino de Almeida, Coca-Cola Killer (1981)

«Longe, muito lá cima, onde o médico mantinha os olhos presos, no cerrado e extenso pinhal que abrigava dos temporais a derradeira povoação de Moura Morta, é que o dia parecia escolher sempre campa para o seu canseiroso jordanear.» Guedes de Amorim, Aldeia das Águias (1939)

3 comentários:

Manuel M Pinto disse...

«Então Camões não era aquilo que ensinavam na escola?! Um poeta émulo de Homero, espadachim de vielas de má nota nas horas vagas, com entrada no Paço, tu cá, tu lá com os grandes, amante feliz dumas açafatas, enamorado platónico doutras, estro sempre a ponto para glosar um mote, colar encanudado e bofes de renda à Lorde Brooke, numa palavra um gentil-homem pobre, mas invejável, como está admitido por gregos e troianos?!...»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro" (vol. I) - Ensaio (1950)

Lúcio Ferro disse...

Coca-Cola Killer, só o título deixa água na boca.

R. disse...

O tipo é danado.