As indisposições da direita que não suporta o 25 de Abril deveria ser para o lado em que os democratas dormiriam melhor. Mas não, pelo contrário: os estrebuchos de taberna de André Ventura -- a criatura que teve o gosto refinado de discursar em sessões anteriores com um cravo negro à lapela --, a agitação adolescente (e suspeita) de Rui Rocha, para se pôr em bicos de pés (ou às cavalitas do presidente brasileiro), o enconanço dos dois partidos do centrão, para não falar do enjoo do Bloco e do Livre.
O 25 de Abril perdeu uma oportunidade de brilhar, com a presença de um dos homens (de origem portuguesa, recorde-se, e presidente do Brasil), que melhor encarna o espírito da data. O que irá acontecer no hemiciclo será uma coisa cinzenta, como desde há muitos anos, que não fará jus à maior data da história contemporânea de Portugal.
Nos 50 anos da revolução, todos os países que saíram da descolonização, de Cabo Verde a Timor-Leste, deveriam estar representados ao mais altíssimo nível, convidados a discursar, pois o 25 de Abril representou a sua libertação do jugo colonial e o fim de uma guerra criminosa, com milhares de vítimas, entre portugueses e africanos. É também assim que se faz a CPLP e se dá sentido à lusofonia. Porque o meu maior orgulho com o 25 de Abril é a descolonização; foi principalmente por ela que esta se tornou uma data maior da nossa história. Mas com democratas medrosos de o serem, receosos da raiva pavloviana do salazarismo, envergonhado ou não, não podemos esperar mais do que uma espécie de liturgia de sacristia, como em anos passados.
Se não chover, talvez volte a descer a Avenida este ano, afinal é na rua que o 25 de Abril é mais bonito e faz mais sentido.
2 comentários:
Segundo as previsões do IPMA: não irá chover. Estará, até, um belo dia de sol com uma temperatura agradável. Espero encontrá-lo por lá!
Estou tentado, meu caro. Um abraço!
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