segunda-feira, maio 10, 2021

vou passar a ver o "Sexta às 9"

Ainda não foi demitido, o Galamba? E o sec. de estado da perseguição (aos alunos), também não? Isto só na Hotentócia seria tolerado.

21 comentários:

Jaime Santos disse...

Isto vem algo fora de tempo, mas não estou a ver porque Galamba devia ter sido demitido. Foi mal-educado, mas não se tratou exatamente de prometer bengaladas a Sandra Felgueiras.

Se a má-educação fosse razão para demitir um Secretário de Estado, o Conselheiro Caupers também já deveria ter ido com as trouxas...

O que vale para um alarve de brinco na orelha também vale para um marialva fora-de-prazo...

E cabe lembrar que em bom Português vernáculo (aquele que Galamba não teve coragem de usar), o programa daquela senhora é mesmo uma boa merda. Foi esse programa que entrevistou o Pedro Dias, o assassino do casal e do guarda republicano... Deu-se tempo de antena a um psicopata...

R. disse...

Caro,
obrigado pelo comentário.
Responso mais tarde.
Um abraço

Jaime Santos disse...

Esteja à vontade. Faço notar que não aprovo de modo algum a atitude de Galamba, porque mesmo se apagou o comentário logo a seguir, depois escudou-se na desculpa dada pelo chefe, o Ministro do Ambiente.

Homem que o é, assume o erro e pede desculpa. Honra seja feita a João Soares (que fez bastante pior), que caiu sobre a espada para não engolir o que disse, depois do puxão de orelhas do chefe de Governo... É de outra cepa...

Mas isso é perfeitamente independente da questão de saber se tal atitude deve ser punida com uma demissão. Não deve, trata-se de um dislate (mesmo que seja verdade que o programa pratica o jornalismo de sarjeta, mas um governante tem responsabilidades que um comentador de blogue não tem, e não tem direito a estados de alma e a desabafos), e não de uma pressão sobre uma jornalista como foi sugerido...

R. disse...

Caro,
eu não sou espectador do sexta ás nove, ou melhor, sou-o ocasionalmente.

Pratica jornalismo de sarjeta? Não sei. Não gosto das músicas de fundo, a puxar ao sentimento, uma bosta jornalística que se v~e em todos os canais.
O estilo de Sandra Felgueiras não é o mais agradável? Preferia-o mais sóbrio. A verdade é que prefiro mil vezes o jornalismo de Sandra Felgueiras, mesmo com o caso que você referiu, que tem dado muito jeito aos seus detractores do que o jornalismo enfatuado, vazio e encostado ao poder da Maria Flor Pedroso, que ainda por cima exerceu desavergonhadamente censura, e procurou proteger uma patroa, sendo recompensada em vez do despedimento com justa causa com mais uma inaninadade na rádio.

Portanto, venham dizer-me todo o mal que quiserem da Sandra Felgueiras, mas que eu saiba tem mostrado dignidade, o mesmo não se pode dizer doutros. Aliás ela tem um percurso que fala por si, e não tem pinta de andar a bater punhetas a quem quer que seja.

E o Galamba, por favor não; apreciei-o quando apareceu, era um gajo que sabia malhar na direita; desde que se engravatou, e com a história do lítio, é um alvo político a abater, como qualquer um que se esteja nas tintas para as populações.

Jaime Santos disse...

Meu caro, sobre Sandra Felgueiras não me vou pronunciar, porque não lhe conheço o percurso. Também não tenho acompanhado o que Maria Flor Pedroso tem feito ultimamente.

Recordo-me apenas de que era a única pessoa que gozava à grande com Marcelo Rebelo de Sousa e não se deixava manipular por ele nas entrevistas, o que é obra, porque ele quase sempre acaba a entrevistar-se a si próprio :) ...

Nem tudo o que o Sexta-às-Nove apresenta é mau, mas isso não desculpa os disparates.

Não percebi o motivo do seu tom sarcástico. Quer ver-se livre do Galamba por outras razões que não a sua má educação. Mas o Galamba não faz a política que faz de motu próprio. O problema então é o simpático Matos Fernandes ou mesmo o Chefe deste. Galamba só é Secretário de Estado (e ainda por cima numa Secretaria de Estado difícil) porque Costa assim queima-o em lume brando e mantem-no mais calado...

Não sei se o estilo de Galamba a malhar na Direita era o mais eficaz. A Direita adora fazer-se de vítima quando alguém abusa da violência verbal, é logo taxado de socrático para baixo...

Os melhores malhadores são curiosamente pessoas dessa área política como o Pedro Marques Lopes ou a Maria João Marques que até veio do Observador. A crónica que escreveu sobre o MEL e a Direita 'masculina e empresarial' no Público de aqui atrasado era simplesmente deliciosa...

Passos e Portas puxaram a Direita para tão longe do Centro que mesmo com todos os disparates do PS nestes quase 6 anos de Governo, não há meio de eles subirem nas sondagens. Aquele pessoal nos dias de hoje está tão desesperado que fará tudo para chegar ao Poder, até coligar-se com o Chega.

Rui Rio, pese embora o facto de ser um homem sério, não é um líder de Oposição eficaz e está cada vez mais dependente daquele PSD mesquinho que escolhe a Suzana Garcia para candidata na Amadora...

Falamos de gente muito mázinha, basta atentar-se ao espetáculo dado pelo Vasconcelos da Ongoing no Parlamento, aquilo são tudo rentistas que querem sugar o Estado até ao tutano...

R. disse...

Bem, a Pedroso gozar com o Marcelo não era de admirar, a proximidade do meio, a promiscuidade do jornalismo político em vez de um saudável distanciamento, permite-o.

Sim, o Costa é o que se chama um grande cágado...

Francamente, acho que a direita, especialmente a mais salazarista, precisa sempre de levar para trás. Eu deixei de ver O Eixo do Mal quando foi para o lugar da Quadratura do Círculo, e dali geralmente só tiro proveito do Daniel Oliveira; como no Governo Sombra do Mexia. Quanto a maria João Marques, vi que está na televisão, mas ainda não a ouvi. Passou-se alguma coisa com ela?

Sabe uma coisa? Não sei até que ponto seria assim tão mal ela ganhar a Amadora. Um concelho que faz fronteira com Lisboa e tem milhares de barracas só pode ser um concelho mal governado. Talvez um purgante não seja má ideia. E estou com um feeling de que ela vai ganhar -- o que seria uma vitória estrondosa para o Rio.

Esse palhaço do Vascocelos sempre me enojou, que na versão brilhantina quando era "empresário" (ahahah), quer agora no seu look de chulo de boîte. Meu deus, aquilo é pior que cuspir na sopa...

Jaime Santos disse...

Meu caro, detesto a ideia de uma hipócrita populista, que mandou o Mamadou Bá para a terra dele (por que razão não regressa ela então a Moçambique, onde nasceu, a nossa Lei não diferencia entre naturalizados e aqueles que nasceram Portugueses, e afinal Moçambique tem bastante mais problemas que o Senegal, só se a diferença entre ele e ela for qualquer coisa que eu não vislumbro de momento ;) ) ganhar uma autarquia como a Amadora, por muito mal que ela seja governada.

Garcia não é uma democrata e a sua vitória só justificaria a ocupação do PSD por gente como ela, o que seria um desastre para Rio, que mau grado os tiques autoritários (é meu conterrâneo, mesmo se Moreira é pior) é um homem sério. Aliás, o problema principal desta gente nem é mesmo o populismo ou os tiques xenófobos, é a vigarice.

Fazem parte da Lumpen-Direita que se dá muito bem com os Vasconcelos e quejandos. Podem provir do bas-fond (ou das ex-colónias) e não de Cascais, mas pensam exactamente da mesma maneira.

Todos eles acreditam no trabalho árduo, mas no dos outros, dos otários, tal como os colonos acreditavam no trabalho árduo dos negros.

Nesse e no sangue dos soldados que vieram da Metrópole. O meu Pai, que é insuspeito de poltronices, contava-me que os colonos com quem conviveu na Guiné eram contra a ideia dos seus filhos irem dar com os costados na tropa, tinham que ser os cafres da Europa a defender-lhes a terra...

Os mesmos que depois fizeram o 25 de Abril e que com todos os disparates que cometeram a seguir, ainda se deram ao trabalho de os ir buscar a Angola... Se não estou em erro, é a maior operação de ponte aérea da História, paga pelos Americanos, mas organizada de fio a pavio por Portugueses...

Perdoe-me o elitismo, mas tenho um profundo desprezo por este tipo de gente, os negreiros, merceeiros e moedeiros falsos que já o Camilo caricaturava...

A generalidade dos nossos capitalistas, com mais ou menos sofisticação, pensa aliás assim e não consta que tenham passado por África...

Pena é que o Bloco esteja mais preocupado em defender as causas fracturantes e em atacar o PS que em malhar em tal gente como se deve...

Finalmente, Pedroso gozava com Marcelo mas não apenas pela razão que aponta, os outros jornalistas que eu saiba vêm do mesmo sítio. Gozava com ele porque é uma mulher inteligente, coisa que a generalidade dos jornalistas, homens ou mulheres, não são...

O meu caro pode não gostar do seu modelo de jornalismo, mas reconheça-lhe ao menos a inteligência e o humor. Já Sandra Felgueiras é como o Louçã, tem o humor de um calhau, a provar que não é a classe social que determina completamente aquilo que os britânicos chamam wit, e que se pode traduzir por ironia ou vivacidade de espírito :) ...

R. disse...

Não me lembro disso, mas é bem possível; e nesse caso até seria bem mandada para Moçambiq Ela está ali por ser uma artista de variedades, os aparelhos estão-se nas tintas para os pergaminhos democráticos de quem candidatam, desde que passem nos crivos do TC e das televisões.
Eu, francamente, não descortino grande coisa na Pedroso, para além duma bela voz radialista. Não vejo ali nada de rasgo, mas deve ser defeito meu. E depois, meu caro, aquele congelamento do programa, por causa do lítio, para não prejudicar eleitoralmente os patrões, já para não falar na embrulhada relacionada com um instituto qualquer onde ela dava umas aulecas, e que ditou a sua demissão, enfim. Por outro lado, sem ver também nada do outro mundo na Felgueiras, lembro-me de quando ela era soldado raso a fazer umas reportagens giras para os telejornais. Sobre o humor da Felgueiras, não sou versado, mas tem um sorriso bonito. Vinte valores para o sorriso dela.

Jaime Santos disse...

Não discuto o jornalismo de Pedroso, até porque acho essa história da suspensão do programa francamente mal cheirosa. Discuto a sua prestação enquanto locutora e entrevistadora, que me parece uma mais valia maior do que o sorriso da Felgueiras, por muito que nós os homens nos encantemos com uma cara bonita e jovem.

A crítica do Daniel Oliveira é sem dúvida o melhor do Eixo do Mal, só que ele, como bem diz o Marques Lopes, tem tendência em apostar sempre no cavalo que perde. Não basta ser-se Jeremy Corbyn para se ser eficaz à Esquerda, tem que se ser bastante mais inteligente que Jeremy Corbyn.

É o velho problema do Marxismo de tendência Chico, em que acreditas, em mim ou nos teus próprios olhos... Prefiro o do irmão, que compromete os princípios e deixa qualquer coisa feita...

Quanto ao Governo Sombra, é indiscutível, o Mexia é o único que tem pensamento estruturado, os outros dois são dois humoristas que se julgam intelectuais, só que um tem graça e o outro não tem graça nenhuma.

Obviamente, falamos de entretenimento em ambos os casos quando comparamos isto com a Circulatura. Lobo Xavier é do melhor que um certa Direita Social, Católica e Monárquica tem (Portas é do pior, por contraste) e a sua capacidade analítica é ímpar (deve ser temível como Advogado).

É aquilo a que se chama 'a dying breed'. Pacheco Pereira é um dos homens mais inteligentes e cultos vivos na nossa política, outro dying breed e o Jorge Coelho poderia não ter a sofisticação de qualquer um dos outros, mas percebia mais de política a dormir que a maioria da nossa classe política bem acordada.

Costa tinha graça, mas pouco mais, não é esse o forte dele e sim o trabalho de gabinete e Ana Catarina Mendes é uma agradável surpresa (ter Lobo Xavier e Pereira por interlocutores não é o mesmo que ter Catarina Martins, claro), mas que saudades de Coelho...

R. disse...

Eram dois tipos muito diferentes de jornalismo: a Pedroso, que me lembre, sempre fez daquilo, sempre andou pelos corredores do poder. Formalmente era impecável; quanto à substância, é como lhe digo. A Felgueiras o seu campo era a reportagem, mais ou menos ligeira (espero não estar a cometer uma injustiça), mas bem feita e arejada. Por isso, até estranhei quando a vi num programa deste tipo. Mas ela incomoda (ao contrário da Pedroso), e eu acho isso bom.

Assino por baixo o que diz sobre a Circulatura e o Gov. Sombra. Não sei se concorda comigo, mas os mais giros de se assistir eram o Prova dos Nove, da C. Cunha e Sá (Rosas, Silva Pereira, Rangel) e O Outro Lado, do J.A. Faria, com a Ana Drago (embora eu preferisse o Tavares ou o Sá Fernandes), o Adão e Silva e o outro gajo do PSD cujo nome me esqueci (não é blague). Talvez porque um elemento da esquerda radical (Rosas, Tavares, Drago, embora não o Sá Fernandes, que é outra loiça) dá sempre outro gosto ao debate -- e quem diz da esquerda diz da direita radical civilizada, que eles quando são bons, são muito bons.

Jaime Santos disse...

Vejo menos televisão que o meu caro, mas gosto do Outro Lado e também gosto de ouvir o Silva Pereira e o Rosas. O Rangel é alguém com uma grande cultura política, mas irrita-me a tendência estalinista (que partilha com o Montenegro, embora esse seja por comparação um tosco) de interromper o parceiro quando ouve o que não lhe agrada (o Ventura limitou-se a copiá-los). Prefiro lê-lo no Público...

Sinceramente, não vejo muito bem a quem se refere dentro da Direita radical. O Nogueira Pinto é uma pessoa educada, mas é simplesmente reacionário, não ouço dele nada que não espere (essa de dizer que o Biden, um gajo do centro-direita e do mais convencional que existe, iria ser manietado pela AOC e quejandos, antes fosse, é do mais trumpista que há e só dá vontade de rir).

O Rui Ramos tem divergido para o trumpismo, mas acho-o muito melhor como Historiador do que como Analista, já o Nuno Rogeiro era em tempos uma voz interessante, hoje em dia é a voz-do-dono americana, e o meu caro sabe bem que eu até sou um atlantista, e depois aqueles gráficos que ele apresenta são do mais tosco que há, devem ter sido feitos pelo filho num computador lá em casa :) ...

O problema da nossa Direita é que ela tinha uma tradição democrata-cristã que se perdeu completamente e acabou substituída por um pseudo-neoliberalismo bom para fazer negócios, cujo pináculo foi atingido por essa personagem chamada Durão Barroso, que se dignou a servir de mordomo para a infame cimeira das Lajes e que depois foi tudo o que uma criatura rastejante poderia ser, ou seja, Presidente da CE e Chairman do Goldman Sachs.

Portas, que era uma pessoa com ideias na cabeça no tempo em que era soberanista, não passa hoje de uma personagem sulfurosa. envolvido em toda a espécie de casos malcheirosos, Universidade Moderna, submarinos e sei lá que mais.

Passos Coelho é de outra cepa, não tem a formação dos dois de cima, mas é um tipo com coragem, pena seja que à falta de ideias próprias se tenha feito rodear por criaturas aviltantes, ao estilo daquele imberbe do Bruno Maçães (Moedas é alguém com valor, mas com aquela vozinha de nerd não vai a lado algum e depois o facto da mulher fazer parte da administração dos CTT que ele ajudou a privatizar é algo que não vai cessar de lhe causar engulhos).

Embora seja proveniente dessa Direita pós-colonial de que eu falava acima, não o via como alguém com preconceitos até à escolha (e ao não-repúdio, coisa que Cristas teve a hombridade de não fazer) de Ventura em Loures (a política de integração dos migrantes nunca dividiu a Direita da Esquerda e se bem me recordo, o Feliciano Barreiras Duarte, Sec. de Estado de Relvas, até fez um excelente trabalho nesse campo).

A basesinha, leia-se a formação humanística que lhe faltava a ele, criatura das jotas, assim como a Relvas (que me parece que, aspetos cómicos derivados da licenciatura a martelo que o tramaram à parte, até fez um bom trabalho na reforma das autarquias), a Seguro e antes destes, a Sócrates ou a Cavaco, conta muito...

Enfim, vivemos num tempo de decadência total das diferentes ideologias, e o que sobra dos Partidos ou de Instituições como a UE são mecanismos mais ou menos escandalosos de captura do Poder dos Estados, muito embora eu seja a última pessoa a querer voltar para os anos 70 e 80, vivi lá e não tenho saudades nenhumas e como lhe digo, também não tenho qualquer admiração pelo nacionalismo oligárquico e clerical dos Putins, Órbans, Netanyhus, etc...

Mas seja como for, quando os programas partidários não assentam sobre alicerces fortes, o que sobra naturalmente é o oportunismo dos chefes... Costa é um mestre nisso :), salva-se que é um gajo razoavelmente decente...

Por falta de comparência do PSD, que nasceu assim, mas que parece que perdeu essa vocação depois de Cavaco, o PS é hoje o nosso catch-all Party...

R. disse...

Como sabe que vê menos televisão do que eu? A minha programação resume-se a um Telejornal (às segundas o da TVI, para ver o Sousa Tavares, nos outros dias um dos das RTP's), a série que esteja a passar na 2, e resta O Outro Lado e a Circulatura. É esta a minha televisão. Se vir menos, dou-lhe os parabéns...

Detesto o Rangel, que não é parvo, mas intelectualmente é um vígaro. Disse direita radical por facilidade de expressão, significando apenas os que estão confortáveis num sistema mais ou menos ditatorial. E nem sei se será esse o caso do Jaime Nogueira Pinto.
A nossa direita, eu acho que no início ela era toda mais ou menos salazarista, tirando os tipos curiosamente que vieram da Ala Liberal, e que fundaram o PPD.

Sinto-me incapaz de fala do Órban, sei muito pouco sobre ele, a não ser que era do partido do poder antes da queda do Muro. O Netanyahu é um vulgar habilidoso.

O Putin é uma coisa muito diferente, e obviamente estou bastante influenciado pelo que tentei descortinar na série de entrevistas que lhe fez o Oliver Stone, e que se viu recomendo vivamente. São do período pré e pós eleição do Trump, mas o homem que ali está é o mesmo. E para não ir mais longe a conclusão que tirei é que à época -- e os desenvolvimentos creio que confirmam essa ideia com que fiquei -- é a de que
1) ele sente a Rússia sob ameaça -- a falada mentalidade do cerco;
2) já então me pareceu -- embora ele dissesse que não, mas o que se passou entretanto veio a desmenti-lo -- que no seu espírito estava já a enraizar-se que ele é quem melhor pode defender a Rússia das ameaças e mantê-la como uma sociedade decente (embora o lóbi gay ache que decente seria as criancinhas russas poderem ter aulas de educação cívica, para aprenderem a separar o lixo.)

Independentemente das opiniões que possamos ter sobre ele -- e a minha, não sendo russo, é muito positiva --, a verdade é que ele pegou num país nas lonas, numa superpotência à beira do abismo e tornou a Rússia num país que nunca foi: como eu digo sempre e repito, nunca os russos foram tão livres e tão prósperos como o são na era de Putin. O resto é propaganda, em grande parte da CIA.

Jaime Santos disse...

Meu caro, Putin é razoavelmente competente no que faz, mas como já disse, do tratamento dos chechenos, ao desastre do Kursk, passando pela invasão ao teatro com gás em que todos morreram incluindo os reféns, e não esquecendo os assassinatos de críticos que se ele não ordena, pelo menos não impede (se não é capaz de o fazer, isso é mais grave ainda porque quer dizer que não tem mão nas suas próprias forças) tenho sérias dúvidas que ame o seu povo.

Nenhum destes factos corresponde a propaganda da CIA, trata-se de aspetos da política interna russa, que por vezes extravasam o seu território.

Ele pode até amar a eterna Rússia, mas não lhe leio a mente e de qualquer maneira, esse é o nacionalismo dos déspotas. Aliás, o facto de ter mudado a Constituição para se manter no Poder mostra que não se pode dar ao luxo de o perder, ou apodrece lá ou acaba mal os seus dias, fruto de uma qualquer vingança (Putin não é com certeza um louco que se veja como o único capaz de proteger a Rússia).

Obviamente, o termo de comparação é tão mau (Brejnev, Gorbatchov, e sobretudo Yeltsin que quase destruiu a País) que ele representa de facto uma mais valia para os russos e não me admira nada que seja popular.

Não creio que seja corrupto, simplesmente tolera e protege a corrupção dos oligarcas, tal como Ivan IV primeiro oprimiu e depois cooptou a nobreza. O modelo de Poder na Rússia não mudou assim tanto. Bem entendido, Putin é uma pessoa razoavelmente civilizada e só recorre à repressão quando realmente precisa.

Dir-me-á talvez que o Poder nas sociedades ocidentais é hipócrita e que estas estão longe de serem verdadeiras democracias porque manda quem tem o Poder Económico e eu direi que isso é verdade.

Só que o Poder Económico manda no Poder Político e não o contrário como na Rússia e isso permite um grau razoável de pluralismo, já que esse Poder Económico não é monolítico. O capitalismo de Estado dá sempre mau resultado...

E depois, os jornalistas americanos e europeus não têm que temer pela vida...

Claro, a longevidade de Putin no Poder é um produto da raiva dos russos contra a tentativa ocidental não apenas de vergar a Rússia, mas de a destruir. Tendemos a esquecer que nos anos 90, quando a Rússia agonizava sob um governo dito liberal e com o petróleo a atingir mínimos históricos, o The Economist preconizava 'reformas' ainda mais duras. A Rússia perdeu população fruto da crise económica e do desespero... Um dos grandes combates de Putin, foi o combate ao alcoolismo...

Tudo isso é verdade, mas nada disso faz de Putin uma pessoa recomendável ou do sistema de governo da Rússia um modelo a seguir... D. João II foi um Rei notável, mas também não era propriamente flor-que-se-cheire...

Claro, teremos que lidar com ele e com a Rússia e a atitude inteligente será fazê-lo de maneira construtiva mas firme, não lhe beliscando a área de interesses, mas também não permitindo que interfira na nossa política interna.

Duvido infelizmente que os EUA sejam capazes disso e infelizmente a Europa (leia-se sobretudo a Alemanha) não tem músculo ou fibra moral para meter juízo na cabeça dos Americanos...

Jaime Santos disse...

A Direita sem dúvida que ou era salazarista, ou pelo menos nada fez para se opor ao salazarismo, tirando aqueles que foram salazaristas, como o Humberto Delgado ou o Henrique Galvão, e que deixaram de o ser para se oporem pela força a Salazar de uma maneira que mais ninguém, nem o PCP, fez...

Curiosamente, a nossa Direita enjeitou-os, o que mostra que infelizmente nunca abraçou o antifascismo, como eles o fizeram, o que é pena... ​

Mas cabe lembrar que havia oficiais que participaram no 25 de Abril eram da Direita... E Passos Coelho não tinha vergonha de andar de cravo ao peito, o que só lhe ficava bem (não entendo como manteve o apoio a Ventura).

Mas alguém como Freitas do Amaral era um genuíno Democrata-Cristão, e veio de lá. Outro caso é o atual PR. Ou Adriano Moreira, ainda mais comprometido com o salazarismo. O escol da ditadura estava no CDS, a ralé no PSD :), que também tinha genuínos social-democratas (estou em parte a reinar, claro).

Mas a base ideológica que sustentava a nossa Direita era a filosofia social da Igreja e deixou de o ser, e agora não é nada... Assim como o PS deixou de ser social-democrata...

R. disse...

Estamos a esquecer-nos doutas direitas: os velhos dirigentes integralistas, alguns dos mais importantes tornados antisalazaristas (creio que até integraram o MUD, se a memória não me atraiçoa), e que morreram todos antes do 25 de Abril; ou um parafascista como o Rolão Preto, que vai também parar à oposição (creio que também ao MUD) e ao PPM, depois da revolução. E, por falar em PPM, não esquecer os monárquicos oposicionistas: Ribeiro Teles, Barrilaro Ruas, Sousa Tavares,, entre outra gente decentíssima.

Sobre o Putin, fica para mais logo.

Jaime Santos disse...

Meu caro, o meu conhecimento de História das Direitas (ou das Esquerdas) no Portugal de antes do 25 de Abril é fraco, mas claro que conheço o caso de Rolão Preto, aliás paradigmático da atitude controleira de Salazar, o que não controlava destruía...

E, bem entendido, os monárquicos oposicionistas, nas boas tradições wig ou tory (sempre me questionei o que aconteceu aos Partidos Constitucionais Monárquicos após 1910, sobretudo os progressistas)...

Quanto a Putin, acrescentaria que a minha visão da Rússia é sempre a de um ocidental, ou vejo-a 'under Western eyes' se quiser, para usar o título da obra de uma obra creio que do anglo-polaco Conrad, para quem o anti-herói do seu 'O Agente Secreto' trabalha como agitador e informador... O imperialismo continental russo é anterior à URSS e sobreviveu a ela...

Tivesse a atitude do Ocidente sido outra, e quem sabe se um Putin genuinamente democrata não poderia ter sido o nosso melhor aliado. Mas temos que lidar com ele como é, no contexto do sistema e da cultura política da Rússia, que coloca poucos constrangimentos reais ao seu Poder (ou o de qualquer outro Presidente, aliás, Yeltsin mandou bombardear o Parlamento Russo, convém não esquecer).

R. disse...

O meu conhecimento é superficial. Havia um partido monárquico representado no parlamento, mas os monárquicos estavam muito divididos desde a guerra civil e continuaram depois da morte do D. Manuel II, apesar de facções liberal e "legitimista", como estes gostam de chamar-se, terem acordado na figura do D. Duarte Nuno como pretendente ao trono. E depois andaram a década toda a conspirar militarmente contra a República, liderados pelo Paiva Couceiro, que aliás também foi arrumado pelo Salazar.

Isso que diz sobre a cultura política da Rússia parece-me verdadeiramente importante para explicar os erros do Ocidente, especialmente incompreensíveis por parte dos Europeus, já que dos Estados Unidos só se esperam asneiras. Acho que o afastamento e a desconfiança já foi longe demais,e agora é esperar que o encontro entre o Putin e o Biden consiga baixar a tensão. Mas não acredito que haja algo mais que isso, porque as coisas estavam a ficar perigosas, e é uma pena para todos. E é claro que enquanto a Rússia tiver uma liderança forta, quem vai pagar as favas serão os ucranianos e os bielorrusos -- a não ser que se chegue a uma espécia de finlandização consentida pelos próprios: ou seja, internamente organizam-se como quiserem (no caso da Ucrânia não será fácil, pelas feridas entretanto abertas), mas a política externa será de absoluta neutralidade. A Finlândia ainda conseguiu aderir à União Europeia, em 1995; a Ucrânia, primeiro que lá chegue...

Jaime Santos disse...

A Finlândia aderiu à UE porque era rica e desenvolvida. A Ucrânia é pobre e ninguém quererá pagar os custos da sua adesão (fundos de desenvolvimento e emigração adicional para a UE), sobretudo depois do Brexit.

E depois, o problema da Ucrânia foi que os pró-ocidentais essencialmente disseram, com o apoio dos EUA e da UE (menos, lembra-se do 'fuck the EU' da embaixadora americana de Obama :) ?), aos seus concidadãos russófonos que estes passariam a cidadãos de segunda, isto depois de um golpe de Estado que afastou um Presidente democraticamente eleito (porventura corrupto, mas isso são todos). A anexação da Crimeia e a revolta no Donbass foram a resposta óbvia a tal afronta...

O problema não são apenas as tentações imperialistas dos EUA naquela região, e as correspondentes tentativas dos russos de se intrometerem na política dos vizinhos, muito em resposta ao que veem, legitimamente, como uma ameaça.

O problema é sobretudo a péssima opinião que polacos, finlandeses, cidadãos dos Estados Bálticos, etc, etc, têm dos russos.

Um amigo finlandês confirmou-me isto e lembro-me do ressentimento, a roçar o racismo, de um leste-alemão em relação aos russos, que considerava uns bêbados e falo de alguém que foi objetor de consciência no tempo da RDA e resistente ao comunismo, uma pessoa da Direita muito decente, não um qualquer fascista.

E o embaixador Seixas da Costa lembra bem que os problemas com a qualidade da democracia no Leste Europeu remontam ao tempo em que a UE fechou os olhos à discriminação da população russa nos Estados Bálticos (o que naturalmente deve também ter aumentado a desconfiança em Moscovo das intenções de Bruxelas).

Finalmente, um amigo russo (com dupla nacionalidade) que veio viver para Portugal, uma das pessoas mais amáveis que conheço, dizia com amargura que na Ucrânia, eles todos eram conhecidos como 'os moscovitas'...

Não me surpreendo nada que estes povos queiram todos que a Rússia sofra e seja humilhada... Um pouco como entre nós há ainda quem genuinamente tenha ódio a Espanha, mas causado por rivalidades bem mais próximas no tempo...

E os EUA, que têm vistas curtas, tentam explorar tais divisões, quando deveriam trabalhar com os russos para saná-las e garantir a segurança quer da Rússia, quer dos estados limítrofes (acordos de comércio e de cooperação com condições e levantamento de sanções são uma excelente maneira de o garantir).

Aposto que nessas condições, Putin deixaria cair Lukashenko num minuto, desde que ficasse garantido que não veria um qualquer fantoche americano instalado em Minsk.

Há um pequeno detalhe que me dá alguma esperança, Biden decidiu prolongar os acordos de controle das armas nucleares a que Trump queria renegar. A Rússia manteve-se exemplarmente fora das últimas eleições americanas, provavelmente porque prefere um adversário razoável e previsível, a um idiota incompetente, mesmo alguém que poderá porventura manipular, graças às informações que estou certo que Putin tem sobre os negócios que Trump fez por lá...

Resta saber se Biden terá o golpe de asa de perceber que é preferível trabalhar com Putin a hostilizá-lo abertamente. Não sei se a Putin agrada a opção de ficar economicamente dependente da China, pelo que o Ocidente tem margem para negociar com a Rússia de uma maneira que beneficiará toda a gente e decrescerá as tensões na região...

Quanto à qualidade da democracia na Rússia, para além dos protestos formais e de umas quantas sanções dirigidas a pessoas em particular, desde que a Rússia não se ponha a executar ataques a dissidentes em solo ocidental (e lhes ponha cobro de uma vez por todas, se as ordens não vêm de cima) é um problema que cabe aos russos (e só a eles) e ao tempo resolver...

Navalny e outros não ganham nada em serem identificados como fantoches do Ocidente...

R. disse...

Eu tenho dúvidas se, descontada a geopolítica, a UE torceria o nariz à entrada na UE; se me falar na Turquia, percebe-se, e hoje mais que nunca (em tempos fui um defensor da adesão turca, ainda o islamismo era uma coisa rudimentar ligada dos Irmãos Muçulmanos).

Como creio que lhe disse acima, não estou nada optimista. Acho que o encontro vai servir para acertar as agulhas para evitar um acidente sério (o que não é pouco). Acho que a política não vai mudar, enquanto o Putin lá estiver; e como sabemos que a dos americanos também não muda, teremos de ver o que se vai desenrolar. A não ser que aconteça algo imprevisível, o que também pode suceder.

Jaime Santos disse...

Se Biden quiser ressuscitar o acordo nuclear com o Irão, precisará de Putin. Como lhe digo, a extensão do tratado de controle de armas nucleares é um bom sinal. O resto, a acontecer, levará o seu tempo, para que ninguém fique a pensar que perdeu a face...

R. disse...

Por acaso não faço ideia das intenções dele quanto ao Irão.
E concordo que é um sinal de desanuviamento; mas os interesses são tantos...
Vamos ver.