quarta-feira, março 03, 2021

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Crença. «Se não estivéssemos plenamente convencidos de que o pai de Hamlet morrera antes de começar a peça, não haveria no facto de ele passear à noite, pelas muralhas, envolvido pelo vento leste nada de mais extraordinário do que no de qualquer cavalheiro de meia idade aparecer intempestivamente depois de escurecer, num lugar ventoso -- o cemitério de St. Paul, por exemplo --, apenas para perturbar o espírito fraco de seu filho.» Charles Dickens, O Natal do Sr. Scrooge (A Christmas Carroll, 1843 - trad. Lucília Filipe).  


P
rogresso
. «Se o moderno é, pois, um critério de actualidade, se todos os grandes artistas, escritores ou pensadores de qualquer época histórica foram sempre modernos, quer isto dizer que eles foram sempre actuais, isto é: foram sempre determinados pelas forças vivas do presente, que são as forças agentes do futuro, as forças que operam o devir histórico, as que garantem a continuidade e o progresso da actividade humana.» Fernando Lopes-Graça

Soneto: «Assentado na orla dum soneto / ribeiro onde desliza minha mágoa» Cristóvão de Aguiar, Sonetos de Amor Ilhéu (1992)

Notas: Dickens: O narrador assegura-nos que Marley, o sócio de Scrooge estava morto («Isto deve ficar perfeitamente entendido, pois de contrário nada de maravilhoso ressaltará da história que vos vou contar.»). Ou seja, a "suspensão da descrença" de Coleridge, que certamente Dickens leu: quando lemos ou vemos ficção, a boa premissa será a de fingir para nós próprios que acreditamos no inverosímil que se nos apresenta. Lopes-Graça: O materialismo marxista aplicado à ponderação estética. Aguiar: ribeiro que lava as mágoas.

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