Acabei de vê-la há pouco, depois de vir do cinema. Um filme que está aí a passar sobre o Django Reinhardt (um papelaço de Reda Kateb). Recomendo.
E então que vi eu? Um combate desigual, em que o animal feroz desfez o jornalista. Não deve ser fácil entrevistar Sócrates, mas também não estou a ver em televisão um profissional com suficiente arcaboiço para, com firme serenidade e correcção, não se deixar intimidar, nem por Sócrates nem pela opinião pública e pela opinião publicada. O nosso homem, com medo do que viessem a dizer dele cá fora, pôs-se com apartes e observações sonsas, que quase fez lembrar aquele pateta que uma vez o confrontou no Telejornal, no espaço de comentário que o antigo primeiro-ministro tinha, como se estivesse ali a debater de igual para igual. De qualquer modo, a RTP prestou um serviço público, e é para isso que ela serve.
Quanto à substância, dificilmente a entrevista poderia ter corrido melhor a Sócrates. Pelo que vi, e com os dados que tenho, que são os de toda a gente, desmontou praticamente tudo: do andar em Paris à questão do primo, a goldenshare da PT e o conluio com o BES, a história do tgv e a outra de Vale de Lobo. A história do quadro do Júlio Pomar foi cómica.E mesmo a questão mais bizarra dos empréstimos em numerário, desembaraçou-se bem da coisa, trazendo o amigo à liça. Cabe a este confirmar ou infirmar Sócrates. Se confirmar, como possivelmente o fará, depois como é? Ah, e se o melhor que têm é a declaração do gajo que está em Angola e que não podia vir a Portugal para não ser preso e afinal veio para fazer o jeito ao MP, esqueçam -- é a palavra de um contra a de outro. E não me parece que a palavra do tal Bataglia tenha uma cotação particularmente alta. (E por favor: não se diz 'Bataguelia', mas 'Batalhia').
O jornalista estava mal preparado? Não, pelo contrário. Voltou-me a ideia fundamentada de que o trabalho do Ministério Público é uma borrada monumental. E se Sócrates, que não é jurista, conseguiu instalar pelo menos fortes dúvidas sobre o trabalho do MP, o que não farão as raposas velhas da barra dos tribunais?
7 comentários:
Acha mesmo?
O MP até pode não ter provas suficientemente sólidas do que está na acusação. A ver vamos... Mas não é a entrevista (nem as inúmeras anteriores, quer do homem quer dos advogados) que infirma ou confirma o que quer que seja. Eu o que vi (com pouca atenção, aliás, porque já não dá pachorra...) foi o de sempre: obviamente sou honesto, tenho um amigo riquíssimo e generoso, vivo remediadamente, ainda que necessitando de vez em quando de uns cobres emprestados...
E aquela reacção à última pergunta...
O momento é de esperar que o processo prossiga...
Querido amigo. Sim, acho que a entrevista lhe correu muito bem, e que o jornalista saiu de lá em estado comatoso. Ser sacaninha de falinhas mansas não lhe deu proveito.
O MP (e já agora o juiz Alexandre) não me merecem confiança, quando cometem atropelos à lei: assim de repente, dois exemplos: a prisão de Sócrates por perigo de fuga, ignorando deliberadamente o mail que este enviara ao juiz, pondo-se à sua disposição; o vazamento sistemático e cirúrgico do processo no «Correio da Manhã» (diz-me com quem andas...). Não me merecem confiança, nem respeito, aliás.
A questão do amigo: onde estão as provas? Se não houver provas, se o amigo afirmar que o dinheiro é seu, como é? Condena-se porque sim?
E a história do BES e da PT? E a do TGV? e da Vale de Lobo? Não acha que muitos dos documentos e argumrntyos apresentados dão que pensar? A mim dão. Então o PM é suspeito de corrupção e os ministros das Finanças, Economia, Ambiente, secretários de estado, altos dirigentes, que -- sublinho -- não teriam como não saber das falcatruas não são indiciados? Não acho normal.
Eu sigo isto com muita atenção nas suas implicações políticas, pois lembro-me bem como foi decapitada uma liderança do PS (Ferro Rodrigues) e foi preso um alto dirigente (Paulo Pedroso) habilmente metidos no caso Casa Pia. E, por outro lado, continua a fazer-me muita confusão que casos de corrupção ligados ao PSD e ao CDS passem incólumes (submarinos, sobreiros, etc., etc.)
Resumindo: não há normalidade na Justiça, e isso tem de ser denunciado.
Não vi a entrevista, por isso não posso infirmar ou confirmar o que diz. O que me diz quem a viu é que Sócrates foi para lá fazer-se (e bem) de vítima. Uma pessoa de família que percebe mais disto do que eu diz-me que, das duas uma: ou a corrupção é provada, ou tudo o resto rui pela base. E provar isso é muito difícil de fazer. Uma coisa é certa e isto basta-me: Sócrates não vai voltar à política, pelo menos não tão cedo e se voltar (no caso de não haver julgamento ou de haver e ele ser absolvido) será corrido. Ninguém pode viver como ele viveu em Paris numa altura em que os Portugueses penavam sob a troika e depois vir mentir acerca disso para os jornais e esperar o mínimo de simpatia. Claro, o cidadão Pinto de Sousa merece todas as garantias no seu julgamento porque é assim que a Justiça deve funcionar (e noutras jurisdições as violações sistemáticas do due process já teriam feito desabar todo este processo), mas o político José Sócrates não nos voltará a incomodar tão cedo...
Acho a entrevista fascinante do ponto de vista caracterológico (se calhar estou a dizer uma barbaridade, pois não sou psi...).
Penso que a vitimização existiu apenas na parte final; no grosso da entrevista, esteve sempre ao ataque.
Sim, é difícil voltar à política. Se for ilibado, já não direi nada.
Francamente, não me lembro se ele então mentiu ou se omitiu sobre os seus rendimentos. A primeira não é aceitável, mesmo já estando a ser 'investigado' pelo Correio da Manhã; a segunda, atendendo a esta circunstância que acabo de referir, poderá compreender-se.
Creio que a sua censura não faz sentido se de facto o apartamento for do amigo; se for dele, aí nem vale a pena estarmos com este tipo de observações, uma vez que se trata de um bem adquirido em virtude da corrupção.
(Tenho de interromper, já retomo).
Amigo Ricardo:
Continuo a achar a entrevista irrelevante. Não foi dito nada que não tivesse sido já repetido à exaustão. Houve novas perguntas, por causa dos últimos desenvolvimentos, mas, relativamente às respostas não passaram da cassete habitual de quem quer fazer-nos de parvos...
Quanto às críticas à actuação do MP e autoridades judiciárias em geral, não vejo sinceramente que apaguem o mérito da investigação.A prisão do sujeito não me pareceu encenada, antes, pelo contrário, bastante discreta, atentas as circunstâncias, e a fuga de informação que permitiu a uma estação de tv estar de atalaia, sendo de lamentar, não foi assim tão grave. Infelizmente, há sempre um funcionariozinho que cede à tentação...
Relativamente à demora da investigação ou à tão propalada ultrapassagem do prazo de instrução do inquérito, é óbvio que investigações destas não se compadecem com prazos de seis meses, ou um ano, ou dois anos, ou lá o que for... Alguém pode fixar o tempo que demora um novelo a ser desenredado, quando nem se quer se conhece a dimensão do novelo? Basta pensar um bocadinho para lá chegar... Compreende-se bem que os arguidos gritem pela observância do tal prazo (meramente indicativo, como é óbvio); interessa-lhes que as coisas não possam aprofundar-se. Pudera. Agora, que os comentadores desinteressados e sérios façam disso cavalo de batalha, não entendo.
O grande busilis disto tudo é se se vai conseguir provar o que consta da acusação. Esse é o meu grande receio. Aí só me resta confiar um pouco na qualidade e experiência dos magistrados e na consistência dos indícios...
(retomando, só para rematar)
As garantias, pois claro; é impressionante o quão baixo pode descer-se, à frente de toda a gente: o Ministério Público a passar informação?; e ainda por cima ao «Correio da Manhã»?; a entrevista do Alexandre?; as declarações analfabetas do presidente do sindicato dos magistrados? Por Deus...
Caro Fernando. Aceito que ele possa estar a tentar fazer-nos de parvos (como não aceitar a possibilidade, se nem sequer o conheço de lado nenhum?...); no entanto -- e embora eu não ande a ler tudo o que se escreve sobre o homem -- a sua linha de defesa, quanto ao amigo, parece-me ter um mínimo de consistência, independentemente de ser verdadeira ou falsa -- e é a seguinte: um grande amigo de infância, num registo quase de fraterna irmandade (passe o pleonasmo) é, segundo Sócrates, um empresário internacional e muito rico, sendo os empréstimos feitos nessa base. As questões que se levantam (pelo menos a um observador que não é jurista), é a seguinte: é o não o amigo de Sócrates aquilo que ele descreve (um empresário internacional, de grande fortuna); confirma ou não o amigo essa amizade e os referidos empréstimos. Se assim for, como saímos disto?
Eu não me refiro ao modo, mas à justificação da prisão. Perigo de fuga?... Não é para ser levado a sério, convirá; e quando não há seriedade no comunicado de um juiz, estamos conversados.
Quanto à demora da investigação, creio que nunca me referi a tal; de qualquer modo, se a lei não pode ser cumprida, que se altere a lei, creio que é mais saudável.
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