Carl Schmitt, Catolicismo Romano e Forma Política. Carl Schmitt (1888-1985) é um autor de referência do pensamento contra-revolucionário, antiliberal e antidemocrático. Dizer só isto, aliás, é dizer pouco. Schmitt foi um nazi desde cedo; e apesar de algumas divergências, traduzidas em ataques de sectores do nacional-socialismo (em nazismo não se pode dizer "mais radicais"...), a verdade é que o autor leccionou na Universidade de Berlim entre 1933 e 1945 -- ou seja, em todo o período em que o führer e os seus sicários estiveram no poder.
Este ensaio de 1925 pretende reagir ao ataque à Igreja Católica, que ele então denunciava, definindo-a como efectiva representação de Cristo no Mundo: «Ela representa a civitas humana, ela apresenta a cada instante a união histórica entre o devir humano e o sacrifício de Cristo na cruz, ela representa o próprio Cristo pessoalmente, o Deus que se tornou homem na realidade histórica. No representativo assenta a sua supremacia sobre uma época de pensar económico.» (p. 33) E, como seria de esperar, põe nos antípodas duma sociedade regida pela política e pelo direito (oh, ironia...), tanto capitalismo como bolchevismo, alegadamente pólos opostos duma mesma mundivisão: «O grande patrão não tem nenhum outro ideal senão o de Lenine: o de uma "terra electrificada".» (p. 28)
Schmitt oferece, portanto, a referência de um elemento não racional -- a divindade representada pela Igreja Católica -- em oposição a um sistema que não o pode contemplar -- a perspectiva demo-liberal: de um lado, como de costume, os vectores deletérios: a "técnica" e a "economia"; do outro, o institucionalismo da política estribada no direito, com as dicotomias do costume: matéria-espírito, pragmatismo-idealismo, revolução-tradição.
Da visão da Igreja como figuração de Deus, não posso deixar de extrapolar para uma ideia de Estado à imagem daquela, logo do "chefe" desse Estado como equiparado, senão ao próprio Deus, pelo menos soberano dessa mesma Igreja, o vigário do Deus. Daí ao endeusamento do chefe (do führer a haver), vai um pequeno passo.
Interessante como leitura e exercício, é ideologicamente intragável.
Interessante como leitura e exercício, é ideologicamente intragável.
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