sexta-feira, outubro 15, 2010

só assim vale a pena morrer

É tarde já, vão sendo horas -- horas de quê? De nada. De existir. De olhar ainda a luz, a vida. De absorver em mim o universo e levá-lo comigo sem nada desperdiçar. De exercer o ouvido enquanto ouve, os olhos, o corpo inteiro, para que nada fique dele sem se cumprir. De encher os bolsos de tudo o que se me dá ou sonhar mesmo o que não me deram e não deixar perder nada por distracção. De dizer a palavra vida e tudo nela florir logo na sua existência para levar comigo essa vida inteira e tê-la comigo na morte. 
Vergílio Ferreira, Escrever  (edição de Helder Godinho)

4 comentários:

rose marinho prado disse...

Já percebeu a estranha - e bela - composição numa página que tem Ray Charles; Bogagee Vergílio Ferreira?
Ler e ouvir na sequência...uma fruição nova, coisa dos tempos da net, mas, sempre, da escolha que permite essa composição.

Legal!

Ricardo António Alves disse...

É verdade, Rose. É um conjunto aleatório de escolhas, que umas vezes resulta, outras nem tanto, mas que se renova a cada dia.
Um abraço.

Ana Paula Sena disse...

Grande escolha, RAA!

E parabéns pela sua composição ecléctica, aqui no Abencerragem.

Ricardo António Alves disse...

Obrigado, Ana Paula!
Um abraço