sábado, outubro 31, 2009
Palavra de Aust.
Instigante, o Abencerragem? A Aust. toma-o como tal -- e eu quero fazer-lhe a vontade. Vou aprovetar para mencionar sete blogues que não estão activos, e por esta ou aquela razão me instigaram na bloga.
sexta-feira, outubro 30, 2009
caderninho
quinta-feira, outubro 29, 2009
Antologia Improvável #406 - Agostinho Neto (2)
Lá no horizonte
o fogo
e as silhuetas escuras dos imbondeiros
de braços erguidos
No ar o cheiro verde das palmeiras queimadas
Poesia africana
Na estrada
a fila de carregadores bailundos
gemendo sob o peso da crueira
No quarto
a mulatinha dos olhos meigos
retocando o rosto com rouge e pó de arroz
A mulher debaixo dos panos fartos remexe as ancas
Na cama
o homem insone pensando
em comprar garfos e facas para comer à mesa
No céu o reflexo
do fogo
e as silhuetas dos negros batucando
de braços erguidos
No ar a melodia quente das marimbas
Poesia africana
E na estrada os carregadores
no quarto a mulatinha
na cama o homem insone
Os braseiros consumindo
consumindo
a terra quente dos horizontes em fogo.
Poemas / No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)
o fogo
e as silhuetas escuras dos imbondeiros
de braços erguidos
No ar o cheiro verde das palmeiras queimadas
Poesia africana
Na estrada
a fila de carregadores bailundos
gemendo sob o peso da crueira
No quarto
a mulatinha dos olhos meigos
retocando o rosto com rouge e pó de arroz
A mulher debaixo dos panos fartos remexe as ancas
Na cama
o homem insone pensando
em comprar garfos e facas para comer à mesa
No céu o reflexo
do fogo
e as silhuetas dos negros batucando
de braços erguidos
No ar a melodia quente das marimbas
Poesia africana
E na estrada os carregadores
no quarto a mulatinha
na cama o homem insone
Os braseiros consumindo
consumindo
a terra quente dos horizontes em fogo.
Poemas / No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)
quarta-feira, outubro 28, 2009
Figuras de estilo - Cyro dos Anjos
terça-feira, outubro 27, 2009
caderninho
Na vida do homem, a duração é um instante; a substância, fluente; a sensação, embotada; o composto de todo o corpo, pronto a apodrecer; a alma, um turbilhão; o destino, um enigma; a fama, uma vaga opinião. Em resumo, tudo o que respeita ao corpo, um rio; e a alma, sonho e fumo; a vida, uma guerra, um exílio no estrangeiro; a fama póstuma, o esquecimento. Que pode então guiar-nos? Única e exclusivamente a filosofia. Marco Aurélio
Pensamentos para Mim Próprio (tradução de José Botelho)
vip, vip, hurrah!
Generosidade a deles, mas ainda bem que o gozo que isto me provoca não se esgota em mim.
Um forte abraço a ambos.
E agora dez dos muitos em que aprendo sempre, obviamente sem contar com o Catharsis e O Valor das Ideias:
E agora dez dos muitos em que aprendo sempre, obviamente sem contar com o Catharsis e O Valor das Ideias:
segunda-feira, outubro 26, 2009
domingo, outubro 25, 2009
toda a gente e ninguém
Acho imensa graça a Miguel Sousa Tavares quando ele diz que «ninguém sabe quem é» Gabriela Canavilhas, recém-nomeada ministra da Cultura. Também o Daniel Oliveira, esta noite n'O Eixo do Mal, produziu uma coisa parecida, que não retive. Eu sei quem ela é, há vários anos, e, lucky me, até tenho um disco seu ( e de Ana Ferraz, canções de Alfredo Keil). Mas se não soubesse, confessaria a ignorância própria, em vez de fazer figuras tristes resguardando-me com toda a gente e ninguém.
sábado, outubro 24, 2009
sexta-feira, outubro 23, 2009
O Pulido Valente às vezes é parvo
O Vasco Pulido Valente é o publicista que melhor escreve, entre nós. Lê-lo é um verdadeiro prazer, excepto quando ele deixa de se dar ao respeito.
No Público de hoje, atira-se ao Saramago: depois da inevitável alusão ao prec, chama-lhe praticamente analfabeto funcional por não ter a escolaridade obrigatória e, no fundo, ser um autodidacta -- alguém que está impedido de aceder às misteriosas alegorias bíblicas. Um argumento maravilhoso.
A mim, entristece-me que o Pulido Valente, de inegável talento e saber, faça estas figuras de parvo. E não é a primeira. Se a memória não me atraiçoa, quando os restos mortais do Aquilino foram trasladados para o Panteão, ele ter-se-á referido à mediocridade do Aquilino (como agora se refere à mediocridade do Saramago).
O Saramago, goste-se ou não, é dos poucos escritores vivos em Portugal com voz própria -- e será um dos três ou quatro do seu tempo que muito provavelmente entrará no cânone. O que talvez não suceda com o Pulido Valente -- que ainda há pouco fazia figura de corpo presente num vomitório denominado "Jornal Nacional" da tvi.
Antologia Improvável #405 - Fernando Assis Pacheco (4)
DEMBOS
MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO
Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.
Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, com grandes mãos aterradas.
Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.
Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.
Catalabanza, Quilolo e Volta / A Musa Irregular
foto
MONÓLOGO E EXPLICAÇÃO
Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.
Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, com grandes mãos aterradas.
Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.
Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.
Catalabanza, Quilolo e Volta / A Musa Irregular
foto
quinta-feira, outubro 22, 2009
quarta-feira, outubro 21, 2009
terça-feira, outubro 20, 2009
A Igreja tá chateada
Normalmente discordo do Saramago. Interessa-me tanto saber o que ele pensa da Bíblia, como da situação no Afeganistão ou as cantigas d'amigo. Alguma coisa.
Gosto do seu racionalismo milita nte. «Não ataco deus, porque nele não existe, mas sim as religiões» -- li ontem no jornal. É assim mesmo. Desde que o fundamentalismo islâmico lançou as garras de fora, temos vindo paulatinamente a assistir a um recrudescimento do sectarismo cristão.
Vi agora, no Telejornal, o estimável Pe. Carreira das Neves a perguntar-se: «mas porque é que o Saramago se pôs agora a chatear (sic) toda a gente?!!...» Ah ah ah! É preciso ter lata. A Igreja anda há séculos a chatear toda a gente. Às vezes até mandava as pessoas para a fogueira...
É evidente que as várias igrejas desempenham um papel social muito relevante, desde logo na assistência aos mais pobres. Mas não o fazem desinteressadamente; há sempre um desígnio missionário. E com a missionação e a conversão, lá vem o condicionamento, a lavagem ao cérebro, as restrições à liberdade individual. Tudo depende do poder que tenham e da correlação de forças.
Gosto do seu racionalismo milita nte. «Não ataco deus, porque nele não existe, mas sim as religiões» -- li ontem no jornal. É assim mesmo. Desde que o fundamentalismo islâmico lançou as garras de fora, temos vindo paulatinamente a assistir a um recrudescimento do sectarismo cristão.
Vi agora, no Telejornal, o estimável Pe. Carreira das Neves a perguntar-se: «mas porque é que o Saramago se pôs agora a chatear (sic) toda a gente?!!...» Ah ah ah! É preciso ter lata. A Igreja anda há séculos a chatear toda a gente. Às vezes até mandava as pessoas para a fogueira...
É evidente que as várias igrejas desempenham um papel social muito relevante, desde logo na assistência aos mais pobres. Mas não o fazem desinteressadamente; há sempre um desígnio missionário. E com a missionação e a conversão, lá vem o condicionamento, a lavagem ao cérebro, as restrições à liberdade individual. Tudo depende do poder que tenham e da correlação de forças.
Bora lá chatear a Igreja mais um bocado. Até porque deus não existe e, portanto, andam há séculos a arengar, a arengar e a chatear toda a gente...
segunda-feira, outubro 19, 2009
figuras de estilo - Silva Pinto
domingo, outubro 18, 2009
divaneios
Três situações de conflito que possam ter-me levado ao divã:
1- Quando descobri que não era imortal, mais cedo do que seria previsível;
2- Quando se me tornou evidente que o melhor que de mim sai se destina a perecer;
3- Quando, para minha surpresa, cheguei à conclusão que a vileza não era apanágio de seres particularmente assustadores ou repelentes, mas se manifesta em quem menos esperamos, com as suas boas maneiras, fatos de corte, discurso articulado, palmadas nas costas.
Agora passo a quem quiser pegar-lhe.
sábado, outubro 17, 2009
sexta-feira, outubro 16, 2009
Antologia Improvável #404 - Oliveira e Silva
CERTEZA
Uma haverá. Basta uma só. Nem quero nada
Mais. Também não importa como e quando.
Uma jovem mulher apaixonada,
Ardente, sofredora, ou cheia de alegria,
Que, num instante de emoção suprema,
Toque, encontre sua alma perturbada
Num verso meu, se reconheça, trema,
Surprêsa, chore, sem querer, ou ria...
Maravilhoso, mágico momento!
Vale bem uma bênção comovida.
Deslumbrado por êsse pensamento,
Reconheço um destino em minha vida.
Uma Estrêla no Amanhecer
Uma haverá. Basta uma só. Nem quero nada
Mais. Também não importa como e quando.
Uma jovem mulher apaixonada,
Ardente, sofredora, ou cheia de alegria,
Que, num instante de emoção suprema,
Toque, encontre sua alma perturbada
Num verso meu, se reconheça, trema,
Surprêsa, chore, sem querer, ou ria...
Maravilhoso, mágico momento!
Vale bem uma bênção comovida.
Deslumbrado por êsse pensamento,
Reconheço um destino em minha vida.
Uma Estrêla no Amanhecer
quinta-feira, outubro 15, 2009
quarta-feira, outubro 14, 2009
caderninho
É em nome do real que os medíocres pretendem abafar o ideal nas almas despertas. Ora o real nada mais é do que um ideal que se realizou. É assim que os realistas se elevam contra os idealistas sendo também idealistas, mas idealistas partidários de um ideal que já cumpriu a sua missão e está então esgotado e morto. José Marinho
presença, n.º 31-32, Coimbra, Março-Junho de 1931
terça-feira, outubro 13, 2009
uma nótula sobre forma & conteúdo
(depois de ler uma tese redigida com os pés)
Pior que um livro mal escrito é um livro bem escrito, sem nada para dizer.
segunda-feira, outubro 12, 2009
Gostei
1. Da vitória de António Capucho em Cascais. Não tendo afinidades com o PSD, reconheço o excelente trabalho que ele fez na área da cultura nos últimos oito anos, em especial a recuperação de sítios e acervos importantíssimos que escapam à generalidade do eleitorado, que não dão votos; e, por outro lado, a audácia com que tem surpreendido neste domínio. Por isso, votei nele (e só nele), sem problemas. Para a Assembleia Municipal e para a Assembleia de Freguesia de Cascais, a história foi outra.
2. Da vitória retumbante de António Costa em Lisboa, e o melão do BE, que sectariamente se afastou de José Sá Fernandes, uma grande figura cívica, ficando (o BE) a ver os navios na barra do Tejo. Lindo.
domingo, outubro 11, 2009
Antologia Improvável #403 - Geraldo Bessa Victor
LAMENTO DA MARICOTA
-- «Bom dia, senhor José.
Como passou? passou bem?»
Mas o senhor José virou a cara,
rudemente, com desdém.
E a pobre Maricota, que passara
mesmo ao lado,
a Maricota ficou
a cismar, a dizer com ar banzado:
-- «Aiué, senhor José!
Para quê fazer assim? [»]
Cubata Abandonada / No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)
-- «Bom dia, senhor José.
Como passou? passou bem?»
Mas o senhor José virou a cara,
rudemente, com desdém.
E a pobre Maricota, que passara
mesmo ao lado,
a Maricota ficou
a cismar, a dizer com ar banzado:
-- «Aiué, senhor José!
Para quê fazer assim? [»]
Cubata Abandonada / No Reino de Caliban II
(edição de Manuel Ferreira)
sábado, outubro 10, 2009
sexta-feira, outubro 09, 2009
sabedoria escandinava
Em duas palavras: sapientíssima decisão do Comité Nobel norueguês a de atribuir o Prémio a Barack Obama, não apenas pelo muito que fez em tão pouco tempo, como pelo muito que ainda poderá fazer por um mundo menos absurdo.
[Nota: (11/X): Obrigado a JRMarto, que me alertou para a destroca de academias e comités...]
quinta-feira, outubro 08, 2009
figuras de estilo - José Saramago
quarta-feira, outubro 07, 2009
JornaL
Na entrevista a Luís Ricardo Duarte, no JL de hoje, António Lobo Antunes diz algo que todos os verdadeiros escritores sabem: «Não podemos ser complacentes connosco enquanto fazedores de livros. Se não for para ser o melhor, não vale a pena escrever. Se não for para dizer coisas que nunca foram ditas, não vale a pena escrever.» E, mais à frente, outra verdade consabida: «Escrever é muito difícil. E custa muito. Põe-se tempo e saúde, mas ao cabo e ao resto são os livros que são importantes.»
É duro, mas verdadeiro; e só para alguns, muito poucos.
terça-feira, outubro 06, 2009
caderninho
A grande fonte da canalhice humana é apesar de tudo menos a maldade dos homens do que a sua infinita cobardia. José Bacelar
Revisão 2 -- Anotações à Margem da Vida Quotidiana
domingo, outubro 04, 2009
Antologia Improvável #402 - Teixeira de Pascoais (3)
PRIMEIRO CANTO
Dantes, cantei o amor, à luz do dia;
A mística saudade, à luz da lua
Que povoa de espectros a paisagem.
Cantei os anjos e os demónios. Vi
Manar de etérea fonte a madrugada
E vi descer a noite sobre o mundo.
Interroguei a sombra do Marão,
A neblina sonâmbula do Tâmega
E os ermos pinheirais, ao pôr do sol.
Vi, quando era criança, a Primavera.
Passou por mim, num lampo de alegria,
E em mim deixou não sei que imagem triste...
Vi ressurgir os mortos que forçaram
A tampa dos sepulcros, e fiquei
Louco de espanto e doido de terror!
E divaguei na lua, a falar só...
Nas solidões da lua, onde o silêncio
É mais pesado e negro que os rochedos.
Divago no deserto... e vou cantando,
Em fria voz de empedernido som
Que se desfaz em choro, como aquela
Carranca de granito a deitar água.
Cânticos / Antologia Poética
(edição de Francisco da Cunha Leão e Alexandre O'Neill)
Dantes, cantei o amor, à luz do dia;
A mística saudade, à luz da lua
Que povoa de espectros a paisagem.
Cantei os anjos e os demónios. Vi
Manar de etérea fonte a madrugada
E vi descer a noite sobre o mundo.
Interroguei a sombra do Marão,
A neblina sonâmbula do Tâmega
E os ermos pinheirais, ao pôr do sol.
Vi, quando era criança, a Primavera.
Passou por mim, num lampo de alegria,
E em mim deixou não sei que imagem triste...
Vi ressurgir os mortos que forçaram
A tampa dos sepulcros, e fiquei
Louco de espanto e doido de terror!
E divaguei na lua, a falar só...
Nas solidões da lua, onde o silêncio
É mais pesado e negro que os rochedos.
Divago no deserto... e vou cantando,
Em fria voz de empedernido som
Que se desfaz em choro, como aquela
Carranca de granito a deitar água.
Cânticos / Antologia Poética
(edição de Francisco da Cunha Leão e Alexandre O'Neill)
sábado, outubro 03, 2009
Foi à segunda
Como era previsível, a Irlanda deu o sim ao Tratado de Lisboa -- e pela margem assinalável de 67 % dos votos. A manutenção de um comissário para cada estado-membro, além das garantias sobre especificidades religiosas, a que se junta o apertão causado pela crise económica foram decisivos para este resultado expressivo. Óptimas notícias para o europeísmo federalista. Resta agora saber o que fará o inenarrável Vaçlav Klaus, presidente da República Checa, o tal que tem o mau gosto de se autodefinir como dissidente europeu.
Caracteres móveis - Tenzin Gyatso, o Dalai Lama
sexta-feira, outubro 02, 2009
quinta-feira, outubro 01, 2009
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