JOANINHA
A joaninha bonita
que mora a meio do caminho
da rua das violetas
tem um vestido de chita
todo ele encarnadinho
e cheio de bolinhas pretas.
E quando a gente lhe diz:
-- «Joaninha voa, voa,
não me digas que tens medo,
se voas serás feliz
que o teu pai está em Lisboa
foi lá comprar um brinquedo...»
A joaninha responde:
«Se és amigo verdadeiro
não me digas voa, voa,
-- voar sim, mas para onde? --
o meu pai não tem dinheiro
para ter ido a Lisboa...»
E a joaninha bonita
lá se fica no caminho
da rua das violetas
com um vestido de chita
todo ele encarnadinho
e cheio de bolinhas pretas...
Bichos, Bichinhos e Bicharocos
sexta-feira, outubro 31, 2008
quinta-feira, outubro 30, 2008
caderninho
quarta-feira, outubro 29, 2008
caracteres móveis - Piotr Kropotkin
terça-feira, outubro 28, 2008
Antologia Improvável #337 - Ana Hatherly (3)
Era uma vez um povo que de tanto caiar a soleira da porta se tornara introspectivo ao ponto de a cabeça lhe entrar pelo peito dentro. A cal grassava pelas ruas e às vezes por sobre os telhados chegando mesmo a cobrir certas torres pintadas de azul. Aí a criminalidade atingia tal grau que se tiravam mesmo algumas fotografias.
351 Tisanas
segunda-feira, outubro 27, 2008
domingo, outubro 26, 2008
Figuras de estilo - Eça de Queirós
A poesia contemporânea compõe-se [...] de pequeninas sensibilidades, pequeninamente contadas por pequeninas vozes. O poeta lírico A diz-nos que Elvira lhe dera um lírio numa noite de luar! O poeta lírico B revela-nos que um desespero atroz lhe invade a alma, porque Francisca está nos braços de outro! O poeta lírico C conta-nos uma noite que passou com Eufémia, num caramanchão, olhando os astros e dizendo frases. E no meio das ocupações do nosso tempo, das questões que em roda de nós e em toda a parte se erguem como temerosos pontos de interrogação, estes senhores vêm contar-nos as suas descrençazinhas, ou as suas exaltaçõezinhas! No entanto operários vivem na miséria por essas trapeiras , e gente do campo vive na miséria por essas aldeias! E o Sr. Fulano e o Sr. Cicrano empregam toda a sua acção intelectual em se gabarem que apanharam boninas no prado, para as ir pôr na cuia de Elvira!
Uma Campanha Alegre
dardejado #3
Uma festa agradecida ao cãocompulgas, que também lançou um dardo para aqui. Este Abencerragem, que não está habituado a tantas distinções, envaidece-se...
sábado, outubro 25, 2008
sexta-feira, outubro 24, 2008
Da morte em vida
Eu digo-te como é a cara dos
que sofrem muito, aqueles
que as tuas lágrimas não
salvam e haviam já
morrido quando
deste por eles.
É a cara da
surpresa pelo
limite do
suportável da
existência há
muito passada -- e
eles vivem, sem
querer viver, contra
eles vivem e
nós miramos de
longe o rosto
da dor a
máscara da
desesperança a
morte em vida.
que sofrem muito, aqueles
que as tuas lágrimas não
salvam e haviam já
morrido quando
deste por eles.
É a cara da
surpresa pelo
limite do
suportável da
existência há
muito passada -- e
eles vivem, sem
querer viver, contra
eles vivem e
nós miramos de
longe o rosto
da dor a
máscara da
desesperança a
morte em vida.
quinta-feira, outubro 23, 2008
Antologia Improvável #336 - Alexandre O'Neill (9)
A NOITE-VIÚVA
Uma pequena angústia sentida nos joelhos
Como o bater do próprio coração
E é a noite que chega
Não a noite-diamante
Mas a noite-viúva a noite
Sete vezes mais impura do que eu
Em passo obsceno em obscena força
Minúscula perversa venenosa
Escrevo o teu nome
Noite de amor que de longe me defendes
Escrevo o teu nome contra a noite obscena
Que a meu lado espera seduzir-me
Levar-me consigo
À porca solidão onde trabalha
À insónia sem margens ao vinho solitário
Duma pequena angústia
Escrevo todos os teus nomes
Puxo-os para mim tapo-me com eles
Na noite da surpresa
Noite feroz da surpresa
Noite do amor atacado de perto e conseguido
Alto e convulsivo
Noite dos amantes deslumbrados
Iluminados pelo demónio mais puro
Noite como uma punhalada ritual no invisível
Noite da vítima-triunfante
Escrevo o teu nome a meu favor e contra
Esta noite este murmúrio esta invenção atroz
A que chamam o dia-a-dia
Estas quatro minúsculas patas
Venenosas da angústia
Escrevo o teu nome cruel
Puro e definitivo.
No Reino da Dinamarca / Poesias Completas
Uma pequena angústia sentida nos joelhos
Como o bater do próprio coração
E é a noite que chega
Não a noite-diamante
Mas a noite-viúva a noite
Sete vezes mais impura do que eu
Em passo obsceno em obscena força
Minúscula perversa venenosa
Escrevo o teu nome
Noite de amor que de longe me defendes
Escrevo o teu nome contra a noite obscena
Que a meu lado espera seduzir-me
Levar-me consigo
À porca solidão onde trabalha
À insónia sem margens ao vinho solitário
Duma pequena angústia
Escrevo todos os teus nomes
Puxo-os para mim tapo-me com eles
Na noite da surpresa
Noite feroz da surpresa
Noite do amor atacado de perto e conseguido
Alto e convulsivo
Noite dos amantes deslumbrados
Iluminados pelo demónio mais puro
Noite como uma punhalada ritual no invisível
Noite da vítima-triunfante
Escrevo o teu nome a meu favor e contra
Esta noite este murmúrio esta invenção atroz
A que chamam o dia-a-dia
Estas quatro minúsculas patas
Venenosas da angústia
Escrevo o teu nome cruel
Puro e definitivo.
No Reino da Dinamarca / Poesias Completas
dardejado #2
Desta vez foi o operoso e dos mais consistentes autores da nossa bloga, o velho PCP -- apetece dizer PCP (R), renovado com o seu O Duro das Lamentações --, que, num acto de pura camaradagem, me distinguiu com este galardão. Depois de lhe enviar o devido abraço, por aqui me fico, em homenagem ao vício da preguiça, como ele muito bem salientou (ufa!...).
terça-feira, outubro 21, 2008
segunda-feira, outubro 20, 2008
Dardejado
Um Prémio das Aguarelas de Turner. Que bom! Obrigado Addiragram, os pressupostos de atribuição são-me especialmente caros; e vindo do seu blogue, que, como sabe, já sigo há bastante tempo, ainda me deixa mais satisfeito. Vou, porém, ficar por aqui. Indicar 15 (!) blogues dá uma grande trabalheira, e este é um blogue incorrigivelmente preguiçoso.
Um abraço.
domingo, outubro 19, 2008
Caracteres móveis - Miguel de Unamuno
Quando as dúvidas nos invadem e obscurecem a fé na imortalidade, o desejo de perpetuar o nosso nome e a nossa glória, de atingir uma sombra de imortalidade, experimenta um poderoso e doloroso impulso. E daí a terrível luta pela singularização, pela sobrevivência, seja como for, na memória dos outros e dos pósteros, luta mil vezes mais terrível do que a luta pela vida, e que dá tom, cor e carácter à nossa sociedade, da qual desapareceu a fé medieval na imortalidade da alma. Cada qual pretende afirmar-se, nem que seja aparentemente.
Do Sentimento Trágico da Vida
(tradução de Cruz Malpique)
sábado, outubro 18, 2008
Pinguinos
Numa pesquisa em periódicos dos anos 20, deparo-me com a palavra pinguinos (não é a única surpresa: ginsão por ginseng, também se encontra...).
Nem de propósito, chego ao blogue de Xavier Gorce, via Bo-Doi, e vejo este fantástico comentário à vaia monumental dos magrebinos à Marselhesa.
Uma ideia para outdoor numa praça de Lisboa, quiçá?
sexta-feira, outubro 17, 2008
Antologia Improvável #335 - Artur do Cruzeiro Seixas (3)
Cada poema
cada desenho
são os marinheiros que navegaram na minha cama
são uma revolução não só gritada na rua
são uma flor nascendo nos campos
e é o luar e a sua magia
e é a morte que não me quer
e é UMA MULHER
surpreendente como um marinheiro
luminosa como a palavra REVOLUÇÃO
tão natural como o malmequer
tão metafísica como o luar
tão desejada como a morte hoje
A MINHA MÃE
infinita e profunda
como o mar.
Obra Poética I
foto: Círculo Artur Bual
cada desenho
são os marinheiros que navegaram na minha cama
são uma revolução não só gritada na rua
são uma flor nascendo nos campos
e é o luar e a sua magia
e é a morte que não me quer
e é UMA MULHER
surpreendente como um marinheiro
luminosa como a palavra REVOLUÇÃO
tão natural como o malmequer
tão metafísica como o luar
tão desejada como a morte hoje
A MINHA MÃE
infinita e profunda
como o mar.
Obra Poética I
foto: Círculo Artur Bual
quinta-feira, outubro 16, 2008
caderninho
quarta-feira, outubro 15, 2008
terça-feira, outubro 14, 2008
Caracteres móveis - Philip Roth
Descemos as escadas de caracol, de aço, para as estantes da minha biblioteca, e eu procurei um grande livro de reproduções de Velázquez. Sentámo-nos ao lado um do outro e eu fui passando as páginas durante quinze minutos, um estimulante quarto de hora em que ambos aprendemos alguma coisa -- ela, pela primeira vez, acerca de Velázquez, e eu, de novo, acerca da deliciosa imbecilidade da luxúria. Tanta conversa! Mostro-lhe Kafka, Velázquez... porque fazemos estas coisas? Bem, temos de fazer alguma coisa. Estes são os véus da dança. Não confundir com sedução. Aquilo que estamos a disfarçar é o que nos levou ali: pura luxúria. Os véus velam o ímpeto cego.
O Animal Moribundo
(tradução de Fernanda Pinto Rodrigues)
segunda-feira, outubro 13, 2008
Antologia Improvável #334 - João Miguel Fernandes Jorge (3)
COMBOIO DA LINHA DO NORTE
Olhava o vidro. Começou primeiro por
distinguir as vivas luzes da carruagem.
Depois em confusão esbatida
múltiplos rostos de quem ia sentado
noutros lugares. A noite
corria lá fora, o negro, o clarão
repentino de qualquer terra. Velho,
via agora nessa janela, vinte e muitos anos
atrás, o rosto que fora o seu, rapaz,
e é hoje esta nova face.
Inquieto, num corpo que era seu,
apertou como outrora
as mangas da camisola azul
em torno do pescoço e ficou quase
perdido na solitária, rápida, descida
da vida. Ao seu lado um amigo, antigo,
mas já tão depois desses anos juvenis,
cruzou os olhos com os dele
na superfície do vidro e da noite -- espelho
de tantos anos --, e perguntou-lhe «o
que foi?»«Não foi nada. Coisas de velhice que
ocorrem quando nem sabemos.»
As luzes de Vila Franca já vão lá
fora e a ponte. Que longe os campos que
foram os do Mondego
onde ficou a lua
cheia de outubro. Há vinte e muitos anos
um cão ligava sempre este regresso ou
partida, esta viagem, a um prolongado uivo
quase de campo a campo, de vila a
vila. Hoje também o olhar do cão se
perdeu na insonora carruagem. Do tempo ficou
o espelho, vidraça erguida sobre a planura
passada de uma vida. Quantas vidas.
O Barco Vazio / A Pequena Pátria
Olhava o vidro. Começou primeiro por
distinguir as vivas luzes da carruagem.
Depois em confusão esbatida
múltiplos rostos de quem ia sentado
noutros lugares. A noite
corria lá fora, o negro, o clarão
repentino de qualquer terra. Velho,
via agora nessa janela, vinte e muitos anos
atrás, o rosto que fora o seu, rapaz,
e é hoje esta nova face.
Inquieto, num corpo que era seu,
apertou como outrora
as mangas da camisola azul
em torno do pescoço e ficou quase
perdido na solitária, rápida, descida
da vida. Ao seu lado um amigo, antigo,
mas já tão depois desses anos juvenis,
cruzou os olhos com os dele
na superfície do vidro e da noite -- espelho
de tantos anos --, e perguntou-lhe «o
que foi?»«Não foi nada. Coisas de velhice que
ocorrem quando nem sabemos.»
As luzes de Vila Franca já vão lá
fora e a ponte. Que longe os campos que
foram os do Mondego
onde ficou a lua
cheia de outubro. Há vinte e muitos anos
um cão ligava sempre este regresso ou
partida, esta viagem, a um prolongado uivo
quase de campo a campo, de vila a
vila. Hoje também o olhar do cão se
perdeu na insonora carruagem. Do tempo ficou
o espelho, vidraça erguida sobre a planura
passada de uma vida. Quantas vidas.
O Barco Vazio / A Pequena Pátria
domingo, outubro 12, 2008
caderninho
A todo o momento aplica-te com todo o zelo, como Romano e como homem, a fazer o que tens entre mãos com uma gravidade adequada e sincera, com amor, independência e justiça; e procura também libertar-te de todas as outras preocupações. E te libertarás se realizares cada acção como se fosse a última da tua vida, despojada de falsidade, de egoísmo, de despeito contra o destino. Vês quão pouco é preciso para levares uma vida próspera e temente aos Deuses. Com efeito, os Deuses nada mais reclamarão de quem observa estes princípios. Marco Aurélio
Pensamentos para Mim Próprio (tradução de José Botelho)
sábado, outubro 11, 2008
sexta-feira, outubro 10, 2008
Adenda às piruetas sobre o Kosovo
Um ou dois dias depois de Portugal ter cometido a feia acção de reconhecimento duma ficção de péssima qualidade chamada "independência do Kosovo", vêm dois países da região -- certamente a troco de muitos dólares e euros -- tomar posição idêntica: o Montenegro e a Macedónia. Com esta agravante: se para o Montenegro, país minúsculo mas com tradição histórica de estado independente, embora com fortes ligações à Sérvia, este reconhecimento, não parece ter outra consequência senão a indesejável e perigosa instabilidade na região, já a Macedónia, composta em grande parte por búlgaros, sérvios e albaneses, vive um equilíbrio político e étnico precário, sempre à beira do conflito armado. Provavelmente pensam que a UE é uma panaceia, que com a riqueza material, os conflitos tenderão a atenuar-se. Isto é em grande parte verdade (veja-se o separatismo violento na Europa ocidental, confinado a minorias radicais). O que me parece é que esperam todos muito da UE, como se os recursos desta fossem ilimitados; pior ainda: como se o alargamento não esteja definitivamente posto em causa, enquanto a própria União se não reformar, num sentido cada vez mais federalista... Como isso não acontecerá já para amanhã, a situação complica-se nos Balcãs, e no resto da Europa.
Portugal, como de costume, mostra a sua irrelevância e subserviência: este reconhecimento orquestrado, põe-nos na situação da Nicarágua (nada a opôr) e da Somália (tudo a opôr), países que reconheceram as "independências" da Ossétia do Sul e da Abcásia. É a este nível que estamos: da Macedónia, do Montenegro, da Nicarágua, da Somália. Quem não se dá ao respeito...
quinta-feira, outubro 09, 2008
JornaL
Dinis Machado não foi um falso intelectual, nem um falso anti-intelectual, nem um falso desenvolto. Era natural. Malancólico irónico, alegre tabagista. Jorge Listopad, no JL de ontem.
quarta-feira, outubro 08, 2008
eis o homem
Tenho orgulho nestes políticos. José Sá Fernandes, depois de ter sido cidadão interveniente -- como todos nós deveríamos ser e não os papalvos que realmente somos; depois de mostrar que não se deixava tomar por parvo -- quando exerce as funções que todos os cidadãos deveriam exercer (rotativamente, é claro), a de autarca, distingue-se por estes dois factos relevantíssimos: denuncia a corrupção e vai a tribunal por isso, o que não é pouco; manda retirar um cartaz racista e xenófobo que era uma homenagem à estupidez, à demagogia e ao mau gosto.
Em tempo: li agora que o bastonário António Marinho Pinto criticou a acção do vereador, pois, segundo a notícia, defende que estes conflitos sejam dirimidos em tribunal... Claro, que enquanto o tribunal resolvesse, os cidadãos estrangeiros que por cá vivem e trabalham teriam de encarar com aquela violência gratuita. Aliás, este apelo ao racismo é contra a Constituição, logo é ilegal. Se uma força política legalmente constituída se aproveita da liberdade para cercear a liberdade dos outros, só há uma coisa a fazer: ilegalizá-la e responsabilizar os seus dirigentes.
terça-feira, outubro 07, 2008
Piruetas sobre o Kosovo
Ao reconhecer a "independência" do Kosovo, Portugal volta a mostrar a sua irrelevância internacional. Em vez de manter a posição de princípio correcta, a de não reconhecer uma situação de facto ilegal, atentatória do direito internacional -- para não dizer que a prazo é contra os interesses europeus --, o governo (e parece que também o PR, a julgar pela posição do PSD), inflectiu. Coesão europeia? É brincadeira, certamente. Causam mais estragos à UE cimeiras como a deste fim-de-semana em Paris, e menos as posições coerentes estribadas na legalidade.
Só não percebo para que foi esta fita do não reconhecimento. Se era para obedecer à voz do dono, mais valera ter alinhado de início, em vez de fazermos esta triste figura.
Em tempo: acabo de ouvir o MNE na Sic Notícias: «A independência do Kosovo abriu uma caixa de Pandora que urge ser fechada» Pelo amor de deus!... Parece que o homem acha que a "independência" é "irreversível". O que será a irreversibilidade para ele? Dez anos?, vinte anos?, trinta?... Quem vier depois, que feche a porta, não é?...
segunda-feira, outubro 06, 2008
Antologia Improvável #333 - José Ricardo Nunes
RETRATO INEXISTENTE
Impossível dar a um rosto forma
definitiva. Mais duradoura imagem
cada um conserva na sua obscuridade.
A rotação da terra, a morte
que se propaga no tempo, os ossos,
a poeira branca onde não se pode escrever -- eis
o que reforça o rosto emergindo
da penumbra. Um risco o desagrega por dentro,
pois o tempo e as palavras observam-se.
Um rosto, o que mais se merece
de um corpo feito contra tudo, sombra
acesa numa parede de luz.
Apócrifo
Impossível dar a um rosto forma
definitiva. Mais duradoura imagem
cada um conserva na sua obscuridade.
A rotação da terra, a morte
que se propaga no tempo, os ossos,
a poeira branca onde não se pode escrever -- eis
o que reforça o rosto emergindo
da penumbra. Um risco o desagrega por dentro,
pois o tempo e as palavras observam-se.
Um rosto, o que mais se merece
de um corpo feito contra tudo, sombra
acesa numa parede de luz.
Apócrifo
domingo, outubro 05, 2008
Figuras de estilo - Almeida Garrett
Oh! nobres paços da risonha Cintra,
Não sobre a roca erguidos, mas poisados
Na planície tranquila....................................
Camões (nota ao Canto Sétimo)
Não sobre a roca erguidos, mas poisados
Na planície tranquila....................................
A grande questão de jurisconsultos e historiadores sobre se houve ou não nas Hespanhas o sysytema feudal propriamente constituido, talvez em grande parte possa resolver-se pelo estudo e exame dos monumentos de architectura. Quem descendo o Rhim e vendo aquelles tam ricos e pitorescos montes coroados de castellos senhoriaes ainda ouriçados d'ameias e bastiões -- quem não dirá: «aqui dominou o Feudalismo em toda a sua plenitude?» -- Mas o que visitar as aridas serranias, as florentes veigas de Portugal e Hespanha, e vir coroadas as suas alturas de esmoronadas fortificações moirescas, e o paço do nobre, o mosteiro do religioso, o casal do lavrador, a choupana do pegureiro todos egualmente espalhados pela aba da serra, ao longo do valle, e sem mais distincção, apenas differentes nas proporções ou no gosto do edificio -- esse dirá necessariamente: «Aqui um povo de irmãos se uniu para expulsar o dominio africano; de um para outro não havia servidão nem senhorio, nem mistér de castellos e pontes lavadiças: destruiram o inimigo comum e ficaram vivendo em paz, com muito o que muito tinha ou adquiriu, com pouco o que tinha pouco; mas não houve raça privilegiada e exclusiva de possuidores do seu -- raça exclusiva de trabalhadores no alheio.»
O estudo das artes é de mais auxilio á sciencia, do que talvez ella cuide em seu orgulho.
Camões (nota ao Canto Sétimo)
sábado, outubro 04, 2008
Dinis Machado, personagem de BD
A morte de Dinis Machado veio recordar-me a urgência de voltar aO que Diz Molero, lido na minha adolescência. Embora com poucas ferramentas, de vida, principalmente, havia um imaginário alfacinha que, por razões familiares (sou lisboeta de muitas gerações), não me era estranha. E depois lá estava a BD, e o Dinis Machado que eu conhecia da revista Tintin (o melhor hebdomadário de quadradinhos que alguma vez se publicou em Portugal), cuja redacção ele chefiou exemplarmente, coadjuvado por Vasco Granja. Antes do Dinis Machado escritor, conheci o Dinis Machado jornalista e personagem dos quadradinhos de José Ruy, que, a certa altura, parodiava semanalmente a redacção do Tintin português nas páginas do próprio semanário.
sexta-feira, outubro 03, 2008
quarta-feira, outubro 01, 2008
caderninho
O pudor é certamente um sentimento de profanação. A amizade, o amor e a piedade devem ser tratados como mistérios. Só em raros e íntimos momentos se deveria falar deles, para chegar a um entendimento tácito. Há coisas que são demasiado delicadas para serem objecto de pensamento, mais ainda de comentário. Novalis
Fragmentos São Sementes (tradução de João Barrento)
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