sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Escrever na areia - O país real

A propósito do desgraçado toxicodependente que ontem foi linchado no Porto, o Público de hoje titula a sua edição com a pergunta «Como foi possível?»
Interpreto o trágico episódio como uma persistência do Portugal profundo, do país brutal, oco e grunho, que não tolera a diferença. Em face de alguém que foge à norma, como era o caso da pessoa assassinada -- um travesti, ao que parece -- há no lumpen (em que se incluem os destroços familiares), não apenas compreensão e solidariedade, como uma caução socialmente legitimadora que permite e aplaude a agressão ao marginal, ao freak, ao cromo.
Mas não podemos, creio, resumir este tipo de comportamentos como exclusivamente orientados para os homossexuais. Há sempre o bêbado, o deficiente mental, o louco, o mendigo, alguém susceptível de ser alvo da fúria animal.

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