segunda-feira, agosto 25, 2025

o que está a acontecer

«Se eu pudesse restringia a vida a um tom neutro, a um só cheiro, o mofo, e a vila a cor de mata-borrão. Seres e coisas criam o mesmo bolor, como uma vegetação criptogâmica, nascida ao acaso num sítio húmido. Têm o seu rei, as suas paixões e um cheirinho suspeito.» Raul Brandão, Húmus (1917)

«Mas, sem sair dali, sem procurar fortuna noutras terras, jamais conseguiria realizar a ambição. As jornas eram más e o quintalejo e as courelas davam para viver, nunca para amealhar.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)

«A morte do velho Drago teve o eco merecido. A imprensa do país dedicou-lhe alguns artigos, lacrimosos, e o longo rumor de mágoa, que deixou na província, é o suficiente para se avaliar do seu sólido prestígio.» José Dias Sancho, Bezerros de Ouro (póst., 1930)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Sob D. Sebastião a população continuara a fundir-se como neve a um sol bravo de deserto. Nada menos de quinhentos mil habitantes de desfalque, com a voragem de homens que se tornara o Oriente, a África, e uma navegação temerária e irresponsável, a que havia a acrescentar uma gadanha de primeira: a peste. O movimento demográfico fazia-se ao ritmo inverso da progressão natural. O país pagava a letra da glória antes do prazo e com juros de esganar. Mas foi sempre assim. A fortuna traz em seu manto cesáreo estes reversos de miséria e de morte.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)