«Mas o grito ainda ecoava, morria aflito e longo. Sentiu os homens agitarem-se na cela comum do rés-do-chão. Perto, soltou-se uma voz lamentosa e resignada: / -- Cala-te, Doninha! / Em baixo, de pé sobre o parapeito de uma das janelas, um homem completamente nu, mãos escuras enclavinhadas nos varões das grades, voltou a gritar.» Manuel da Fonseca, Cerromaior (1943)
«Mas a mãe portuguesa é capaz de grandes crueldades protestantes, de um desprendimento que, por ser inesperado e um tanto alheio à sua natureza, é de mais difícil digestão. No entanto, sei-o hoje, a minha mãe sofria com o revés na minha vida e não queria que o excesso de afagos a tornasse cúmplice moral da derrota.» Bruno Vieira Amaral, As Primeiras Coisas (2013)
«À volta dele criou-se assim uma espécie de mitologia que julgo digna de crónica, embora queira penitenciar-me de ser eu a escrevê-la, pois a um neto de campino nunca deveria ser permitido o acesso a certos meios de expressão que o progresso, sorrateiramente, enfiou pelas nossas fronteiras. / Acuso-me deste ultraje.» Alves Redol, Barranco de Cegos (1961)
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«A idade era pois uma convenção. Em consequência, no mundo vulgar dava-se a obnubilação do ano em que se havia nascido, para o homem comum essa data não tendo mais importância que a do primeiro dia do Génesis. Sem dúvida, ano a mais, ano a menos, não aquecia nem arrefentava. Os vários prolóquios, temperados alguns de certo faceto como: «esses e os que a burra mamou», esclarecem-nos sobre o rigor do facto cronológico pessoal.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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