As pessoas não são estúpidas, e percebem que o caso de Sócrates vai muito para além de uma configuração criminal. Não digo, como Soares, que ele seja um preso político. A política é outra coisa e não é para aqui chamada. O que se passa com Sócrates é estar ele a ser alvo de um nítido revanchismo. Só assim se percebe que funcionários superiores, directores-gerais & outras insignificâncias, se prestem a protagonizar episódios grotescos como o cachecol do Benfica, o edredão, ou as botas de cano alto, alegando o cumprimento dos regulamentos, a merda dos regulamentozinhos, os filhosdaputa dos regulamentozinhos -- quando é mentira que nas prisões os presos não possam vestir roupa sua. Eu já dirigi um clube de leitura numa prisão (uma experiência inesquecível, diga-se) e sei muito bem que os detidos envergavam vestuário seu para se protegerem do frio -- o que me parece justíssimo, se os serviços prisionais não fornecerem a indumentária suficiente. Quem achar o contrário é uma besta.
Outro episódio curioso foi o da solicitude do Sindicato dos Guardas Prisionais em denunciar os alegados privilégios de Sócrates na prisão. Mas alguém lhes encomendou o sermão? Antecipando justificações, se é que as houve: a instabillidade na população prisional. Está-se mesmo a ver o perigo que seria um motim envolvendo a meia dúzia de reclusos daquele estabelecimento, revoltados pelo pretendido tratamento de favor a um ex-PM, tratado como um manel palito qualquer... (É bem feito, pá!; pois, pá!, aqui é tudo igual, pá!...) A ralé que é ralé refocila e rebandalha-se com as humilhações infligidas aos poderosos.
Finalmente, o episódio da semana: a admiração, o escândalo até!, por um amigo jornalista -- parece que uma amizade de quarenta anos -- o actual director do JN, Afonso Camões, ter avisado Sócrates de que estaria a ser escutado, e inclusive que poderia haver lugar à sua detenção. Enorme escândalo, na verdade. Então as pessoas preocupam-se assim com os amigos, pá?!... Mas não tenho visto grande debate por essa informação ter sido transmitida a Camões por um seu colega de profissão do grupo Cofina, recolhida junto do juiz ou do procurador, como o próprio denunciou...
No meio disto tudo, a Justiça na lama, as pessoas a sentirem o cheiro a esturro. A culpa também deve ser de Sócrates.
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