«Por baixo da grande saia rodada, a avó Francisca prendia uma enorme algibeira, da qual tirava as coisas mais incríveis: a caixinha de prata do simonte, o branco lenço de linho para assoar, que o tabaqueiro era vermelho, de meio côvado, e com ramagens, metido na cintura sob o avental; um molho de chaves pequenas e vários tamanhos para as gavetas do toucador, dos armários das cómodas; o rosário de caroços de azeitona das oliveiras que deram sombra ao meigo e triste Nazareno, e seu crucifixo de metal amarelo, que o Reitor do Ermeiro lhe trouxe da Terra Santa e foi benzido pelo Patriarca de Jerusalém; a bolsinha de malha de prata para os tostões e as outras moedas de valor, um saquitel de pano com os trocos de cobre e a chave dourada do oratório D. João V que tinha um Cristo de marfim, muita da devoção da mãe da avó Francisca e ao qual a piedosa senhora fizera a promessa de lâmpada perpétua por o marido voltar são e escorreito das guerras do Napoleão.»
João Sarmento Pimentel, Memórias do Capitão (1967)
Sem comentários:
Enviar um comentário