«O rapaz magro esteve um momento raspando o chão com a bengalinha -- e foi andando devagar ao comprido da plataforma. Reparara agora no rapaz do campo, que supunha ia a Lisboa embarcar para o Brasil: e, sensibilizado pela face tão desolada da velha, ia pensando que o Emigrante seria um motivo tocante de poesia social: daria quadros de cor rica -- os vastos azuis do mar contemplados duma amurada de paquete, as noites saudosas longe, numa fazenda do Brasil, quando a lua é muito clara e os engenhos estão calados; e aqui no casebre da aldeia, os pais chorando à lareira e esperando os correios... Entrevia mesmo os primeiros versos:
Ei-lo que deixa o lar, a mãe chorosa,
Os verdes campos, o casal risonho...»
Eça de Queirós, A Capital! (póstumo, 1925)
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