Deus me livre de ter simpatia pelo Hamas, sucursal palestina da Irmandade Muçulmana. Chamar-lhes terroristas e compará-los ao Daesh é uma patranha comunicacional da quadrilha do Nethanyahu, que vale zero: exactamente o mesmo quando se aplica a designação, por exemplo ao PKK curdo, ou, se quisermos ir à história, quando o regime do Salazar qualificava como tais o MPLA, o PAIGC e a Frelimo. Ou até, voltando à Terra Santa, o Haganah, durante o protectorado britânico. (Não esquecer que Menachem Begin, primeiro-ministro de Israel no final da década de 1970 pelo mesmo Likud, tivera a cabeça a prémio por parte dos ingleses.) Portanto, os locutores quando, repetindo a estratégia sionista-americana, violando o seu dever de isenção como alegados jornalistas, qualificam desta forma o Hamas, só mostram o quão analfabetos são. Tal não significa que o Hamas não tenha cometido um acto terrorista ao atacar e raptar civis, um acto sem perdão, que nenhuma malfeitoria de Israel justifica. Percebe-se por que o fez, mas não se perdoa. Todos os alvos militares e do estado são legítimo, todos os ataques a civis são um crime ignominioso -- e isto serve para uns como para outros.
De igual modo, qualificar com ligeireza a sanha veterotestamentária israelita como nazi, é duma estupidez inqualificável, exactamente simétrica à abusiva utilização da estrela de David que os nazis impuseram aos judeus por parte do embaixador de Israel no ONU, como, aliás, denunciou o director do Yad Vashem. Esta corja não recua diante de nada.
Eu fui sempre contra à equiparação dos crimes do estalinismo aos do nazismo, crimes de natureza diferente cuja comparação só um asno ou um desonesto pode sustentar. O mesmo se passa com o massacre que Israel está a levar a cabo em Gaza: é um crime contra a Humanidade, e só isso é suficientemente grave, Mais uma vez: não é preciso chamar os nazis para dizer que a acção de Israel é um crime monstruoso. Perpetrado, de resto, por um ocupante. É preciso ser-se muito palerma para dizer que Israel está a defender-se: não: Israel está a retaliar e a punir os insurgentes que combatem a ocupação de território da Palestina. O 7 de Outubro não é mais do que um episódio sangrento de um processo que há um século começou torto e no qual nem as entidades árabes nem as israelitas têm as mãos limpas.
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