Os que escrevem com as vísceras, como qualquer verdadeiro escritor.
Os que trabalham o idioma.
Os mortos, pois as baixezas que tenham cometido são já do outro mundo. (Uma excepção nesta lista.)
Os bravos, os que tomaram posição, fosse ela qual fosse.
Os que me dão prazer, emocionam e divertem.
São alguns, só em língua portuguesa, um título para cada autor -- e só portugueses porque calhou.
Num próximo post, direi mais qualquer coisa; daqui a uns dias, mais 51 (chama-se a isto estar de férias).
1. Almeida Garrett (1799-1854), Frei Luís de Sousa (1844) - 45 anos
2. Alexandre Herculano (1810-1877), Eurico o Presbítero (1844) - 34 anos
3. Camilo Castelo Branco (1825-1890), Amor de Perdição (1862) - 37 anos
4. Ramalho Ortigão (1836-1915), Rei D. Carlos, o Martirizado (1908) - 72 anos
5. Júlio Dinis (1839-1871), A Morgadinha dos Canaviais (1868) - 29 anos
6. Antero de Quental (1842-1891), Bom Senso e Bom Gosto (1866) - 22 anos
7 . Eça de Queirós (1845-1900), A Cidade e as Serras (1901)
8. Cesário Verde (1855-1886), O Livro de Cesário Verde (1887)
9. M. Teixeira-Gomes (1860-1941), Agosto Azul (1904) - 44 anos
10. António Nobre (1867-1900), Só (1892) - 25 anos
11. Raul Brandão (1867-1930), Húmus (1917) - 50 anos
12. Manuel Laranjeira (1877-1912),
13. Manuel Ribeiro (1878-1941), A Catedral (1920) - 42 anos
14. Jaime Cortesão (1884-1960), Memórias da Grande Guerra (1919) - 35 anos
15. Aquilino Ribeiro (1885-1963), Andam Faunos pelos Bosques (1926) - 37 anos
16. Fernando Pessoa (1888-1935), Livro do Desassossego (1982)
17. Fidelino de Figueiredo (1888-1967), Um Coleccionador de Angústias (1951) - 63 anos
18. Assis Esperança (1892-1975) - Servidão (1946) - 54 anos
19. José de Almada Negreiros (1893-1970), A Cena do Ódio (1915) - 22 anos
20. Ferreira de Castro (1898-1974), Emigrantes (1928) - 30 anos.
21. Francisco Costa (1900-1988), Última Colheita (1987) - 87 anos
22. José Rodrigues Miguéis (1901-1980), Gente da Terceira Classe (1962) - 61 anos
23. Vitorino Nemésio (1901-1988), Mau Tempo no Canal (1944) - 43 anos
24. José Régio (1901-1969), Páginas de Doutrina e Crítica da «presença» (1977)
25. João Pedro de Andrade
(1902-1974), A Hora Secreta (1942) - 40 anos
26. Saul Dias (1902-1983), Obra Poética (1980) - 78 anos
27. Tomás de Figueiredo (1902-1970), A Toca do Lobo (1947) - 45 anos
28. Armindo Rodrigues (1904-1983), Voz Arremessada ao Caminho (1943) - 39 anos
29. Branquinho da Fonseca (1905-1974), O Barão (1942) - 37 anos
30. António Gedeão / Rómulo de Carvalho
(1906-1997), Poemas Póstumos (1983) - 77 anos
31. Fernando Lopes-Graça (1906-1994), A Caça aos Coelhos (1940) - 34 anos
32. Alberto de Serpa (1906-1992), Drama -- Poemas da Paz e da Guerra (1940) - 34 anos
33. Carlos Queirós (1907-1949), Desaparecido (1935) - 28 anos
34. Miguel Torga (1907-1995), Bichos (1940) - 33 anos
35. Joaquim Paço d’Arcos (1908-1979), Ana Paula (1938) - 30 anos
36. Manuel da Fonseca (1911-1993), Cerromaior (1943) - 32 anos
37. Alves Redol (1911-1969), Barranco de Cegos (1961) - 50 anos
38. Políbio Gomes dos Santos (1911-1939), A Voz que Escuta (1944)
39. José Marmelo e Silva (1911-1991), Sedução (1937) - 26 anos
40. Vergílio Ferreira (1916-1996), Para Sempre (1983) - 67 anos
41. Manuel Ferreira (1917-1992), Hora di Bai (1962) - 45 anos
42. Fernando Namora (1919-1989), Retalhos da Vida de um Médico (1949) - 30 anos
43. Jorge de Sena (1919-1978), O Indesejado (António, Rei) (1951) - 32 anos
44. Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), Contos Exemplares (1962) - 43 anos
45. Ruben A. (1920-1975), O Mundo à Minha Procura (1964-66-68) - 44 anos
46. José Saramago (1922-2010), O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984) - 62 anos
47. Dinis Machado (1930-2008), O que Diz Molero (1977) - 47 anos
48.
Rui
Knopfli (1932-1997), Mangas Verdes com Sal (1969) - 37 anos
49.
Ruy Belo (1933-1978), Homem de Palavra[s] (1969) - 36 anos
50. Maria Isabel Barreno (1939-2016), Maria Teresa Horta (1937), Maria Velho da Costa (1938-2020), Novas Cartas Portuguesas (1972) - 33, 35 e 34 anos
em tempo: (17/VIII):
prevalência evidente do romance e da poesia;
curiosidade: o autor mais velho à época de edição, Francisco Costa, 87 anos, esteve para ser o mais novo, com vinte, uma vez que hesitei entre o livro de estreia, o magnífico Pó (1920), e o último.
6 comentários:
Uma boa colheita, sem dúvida.
Eu só acrescentaria "As Mãos e os Frutos" de Eugénio de Andrade.
Carlos de Oliveira (1921-1981)
Gosto destas listas. Em primeiro lugar, para não me auto-flagelar, porque fico com a ideia de que não sou um total analfabeto literário; em segundo lugar, para não me armar em saliente (como diria o Marceneiro) porque fico com a ideia de que estou na primária - vá, no início do liceu - do (an)alfabetismo literário.
Fico à espera dos próximos 50, para saber se chumbo o ano ou se dipenso de exame.
Por curiosidade: a "baixeza" tem a ver com um conhecido político constante da lista?
Prezado APS, obrigado pelo comentário. Para ser-lhe totalmente franco, não tenho a certeza se o Eugénio de Andrade esteja nos meus 100 primeiros. É bem possível, mas ainda não sei. Ele é sem dúvida um grande poeta, mesmo que depois tenha começado a repetir-se. Mas para mim basta um livro para fazer a grandeza de um escritor. Quando morreu, escrevi aqui que o meu Eugénio preferido era o prosador. Creio que a sua prosa não fica atrás da poesia, e só não cometo a veleidade de dizer que ela regista permanentemente um alto nível, sendo, nesse aspecto mais consistente que a poesia, porque conheço-a muito fragmentariamente, uma lacuna certamente a colmatar.
Manuel M. Pinto, agradeço igualmente a achega. Quanto ao Carlos de Oliveira, ele estará na lista seguinte, em especial pela poesia, não desmerecendo o prosador, evidentemente. Preciso de reler o «Finisterra» para perceber o que significa no seu edifício romanesco, ou seja, se é um remate lógico e representa um passo em frente, ou se foi, desse ponto de vista, um falhanço.
Caro JdedB, obrigado pela generosidade e pela confiança, que é imerecida. Sou apenas um leitor interessado, que gosta de pensar ter algum sentido crítico e procura pensar pela sua cabeça. Os restantes cinquenta têm de começar a ser compilados, mas aqui só entre nós, pretendo chegar aos duzentos...
O tema da baixeza não foi pensado tendo em mente alguém em especial. Políticos nesta lista, que vi de repente, apenas vislumbro o Teixeira-Gomes, que mandou o país à fava depois de se sacrificar por ele durante quinze anos; o Garrett, que chegou a ministro dos Negócios Estrangeiros, sempre torpedeado pelos amigos partidários. Nem refiro o caso do Cortesão,nomeado governador-civil do Porto durante a revolta do 3/7 de Fevereiro de 1927, que se gorou a tiro e com muitos mortos nas ruas de Lisboa.
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