terça-feira, fevereiro 19, 2019

50 discos: 5. AMÁLIA RODRIGUES (1962) - #7 - «Aves Agoirentas»



4 comentários:

JdB disse...

O melhor disco da Amália, dizem. Eu digo que sim, do alto da minha ignorância. Talvez mesmo dos melhores discos de fado de sempre. Se quiser atirar-se à investigação - ou apenas socorrer-se do seu eventual conhecimento - veja o disco que Amália gravou antes deste: veja os poetas que ela cantou nesse e neste, o tipo de poesia. Ver o que mudou não é só ver o que mudou, é assistir a uma mudança radical ao nível das letras, das temáticas.

(tudo isto assenta numa ideia / lembrança que tenho; espero não estar a fazer tristes figuras...)

R. disse...

Foi uma revolução, a revolução oulmaniana!...
Também não sou um especialista, mas basta saber ouvir. E a Amália, em que período for, ouve-se muitíssimo bem. Era única, inimitável -- nem há quem, podendo ter algumas veleidades desse tipo, lhe chegue aos calcanhares.
Diz-se que os velhos guitarristas, quando aparecia o Alain Oulman no estúdio desabafavam: «Lá vêm as sinfonias...»

JdB disse...

Tomo a liberdade de invadir de novo o seu espaço, transcrevendo algo que escrevi e que "materializa" o referido no meu primeiro comentário (e referia-me mais às letras do que às músicas, embora a sua resposta esteja carregada de razão):

"Em 1957 Amália Rodrigues grava o seu primeiro longa-duração: Amália no Olympia. Quase todas as letras são de poetas da chamada “Idade de Ouro” (Gouveia e Mendes, prefácio): Amadeu do Vale, Avelino de Sousa, Linhares Barbosa, José Galhardo, Silva Tavares, entre outros. No alinhamento do disco, Perseguição é a quarta faixa:

Se de mim nada consegues
Não sei porque me persegues
Constantemente na rua
Sabes bem que sou casada
Que sempre fui dedicada
E que não posso ser tua.

O segundo LP de Amália, conhecido por Busto, será gravado em 1962. É o início da colaboração com Alain Oulman, que compõe quase todas as músicas, bem como a inclusão de poetas nunca cantados até então: Luís de Macedo, David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello. Da primeira faixa:

Asas fechadas são cansaço ou queda,
Pedra lançada ou voo que repousa.
Em meu sorriso a minha entrega
Que o meu olhar não ousa.

O disco marca o início, também, de uma mudança substantiva no fado: acompanhamento ao piano, incursão por músicas novas não tradicionais, poetas eruditos, discos conceptuais (por contraponto a gravações de temas soltos)."

R. disse...

Certíssimo. Foi uma artista extraordinária. Tenho para mim -- é uma teoria que vale o que vale, mas é minha -- que a sua absoluta singularidade terá que ver, de alguma forma, com as raízes musicais na Beira Baixa dos seus progenitores (pai de Castelo Branco, mãe do Fundão), região do país que tem um património musical muito específico e distinto das outras regiões. Mas isto já são altas cavalarias, para (etno)musicólogos.