sábado, setembro 29, 2018

por falar em parolos

O conhecido Carrilho veio a terreiro aos gritinhos, a propósito do caso Mapplethorpe. Com desassombrada parvoíce -- "Serralves em perigo?"-- fala duma "visão parola e censória da arte". 

Sobre a questão da censura, não vale a pena perder mais tempo (aqui post e comentários); sobre a parolice, tem graça, vindo de um parolo que andou a negociar com a imprensa a reportagem fotográfica do seu casamento com uma apresentadora de televisão. O Carrilho porém é tão parolo que não se exime em pôr-se em biquinhos de pés, lembrando, linha sim linha não, o seu papel ministerial. Reconheço, com pena, que ele foi um muito bom ministro da Cultura, mesmo que em tempo de vacas obesas, o que também, sublinhe-se, nunca fez de si alguém especialmente potável.

Ainda a propósito de parolos, o último número de circo do cansativo Rui Moreira, aproveitando-se do caso. Bem fez Braga da Cruz, que é um tipo sólido e pouco impressionável e mandou Moreira dar sangue, não lhe aparando a politiquice. Eu percebo Rui Moreira: para ele é o prestígio internacional, que receia seja afectado, "a propósito da exposição do artista Robert Mapplethorpe".    O artista Robert Mapplethorpe... Faz-me lembrar uns indigentes a quem deram certa vez responsabilidade editorial. Um dia tiveram de legendar uma fotografia do Saramago, que ficou assim: "Escritor José Saramago" -- não fosse alguém pensar que o homem seria sapateiro.

Já agora: Pacheco Pereira pediu na "Quadratura do Círculo" que lhe fizessem uma entrevista sobre o caso, pois estava com "vontade de partir a loiça toda". Avisem-me quando isso acontecer.

8 comentários:

Jaime Santos disse...

Mais uma vez de acordo, a sua caracterização de Carrilho é absolutamente certeira, mesmo se foi ele que um dia disse que a fascinação de Sócrates pela tecnologia tinha ela também muito de parolo, o que é um facto.

Curioso que somos todos capazes de ver o argueiro nos olhos dos outros mas não a trave que está à frente dos nossos :-) ...

R. disse...

Ele só deve reparado nisso quando não foi reconduzido como embaixador na Unesco, pelo mesmo Sócrates.

Jaime Santos disse...

Ah sim, Carrilho só começou a dizer mal de Sócrates depois disso. Mas, se bem me recordo, não foi reconduzido porque desobedeceu às ordens do Governo de votar a favor de um egípcio que tinha tido propósitos anti-semitas, já não sei para que cargo (Diretor-Geral do organismo?). Egípcio esse que depois acabou por não ser eleito, creio...

Quem desobedece por questões de princípio não deve ficar ofendido, e sim agradecer. Afinal, os princípios têm custos...

Mas, de qualquer maneira, o que ele disse de Sócrates era também correto. Aliás, não fora esse fascínio de Sócrates por um certo tipo de desenvolvimento e talvez ele não se tivesse metido nas alhadas em que se meteu (e nos meteu a nós por arrasto).

R. disse...

Não tenho ideia desse episódio. Um ponto a favor dele.

Quanto aos fascínios de Sócrates, não lhe sei responder, embora na altura me tenham parecido correctos.

Jaime Santos disse...

Olá, sim, o que eu disse estava globalmente certo, veja aqui: https://www.dn.pt/artes/interior/diplomata-bulgara-derrota-farouk-hosni-na-unesco-1369543.html. Estava a citar de memória embora nos tempos que correm isso pode ser imperdoável quando temos o google à mão.

Sim, eu também apoiei a pretensão do aumento da capacidade renovável e o projeto do TGV (que irá aparecer tarde ou cedo, mesmo que sob a capa de 'altas prestações' ou lá o que é).

Depois de perceber como o aumento da capacidade renovável implicou uma renda certa para a EDP (mediante as garantias de potência para as centrais não-renováveis) tenham dúvidas não quanto à opção em si, mas quanto ao modo como foi implementada.

Mas a verdade é que os novos projetos aguentam-se em mercado... Não sei se isso teria sido possível sem a opção inicial de Guterres, Barroso e Sócrates pelo apoio às ditas renováveis...

Sócrates foi imprudente com o uso dos fundos públicos e isto é uma avaliação política e que não depende da sua culpabilidade ou inocência relativamente aos crimes de que é acusado. Claro, representa tão somente a minha opinião.

Tenho muito mais confiança em juristas e depois em economistas para políticos do que em engenheiros ou pessoas com formação científica (como eu). Sofrem do tal fascínio pela tecnologia de que falei. Com Sócrates era pior, porque ele nem sequer era lá grande engenheiro ;-) ...

R. disse...

Não consegui ver a página. Recordo-me de alguma controvérsia, mas não me lembro do Carrilho (provavelmente estou a confundir com outra eleição polémica num desses órgãos da ONU).

As rendas é um tema que se presta bem a arma de arremesso. Na verdade, é preciso dispor dos dados, coisa que um tipo como eu, e a generalidade da população, não sabe ou não procura informar-se (partindo do princípio de que a informação está disponível, e não há cláusulas secretas).

O TGV parece-me uma necessidade óbvia; idem para as renováveis, apesar das tais rendas. E também fui um entusiasta do Magalhães, mas mais pelo aspecto lúdico daquela coisa feita a pensar nas crianças, que podia cair ao chão sem se estragar. E depois, no país em que havia pais desses que usaram o Magalhães que tinham de se levantar de madrugada para irem à escola, foi um sinal de um outro país. Independentemente de algumas reservas pedagógicas que se pudessem levantar, parece-me que elas tinham mais que ver com as deficiências do sistema de ensino do que da maquineta propriamente dita. A campanha contra o Magalhães foi das coisas mais obscenas a que assisti.

Jaime Santos disse...

Copiei mal o link:

https://www.dn.pt/artes/interior/diplomata-bulgara-derrota-farouk-hosni-na-unesco-1369543.html

Precisa talvez de o copiar integralmente para a barra de endereços do browser.

E queria dizer 'tenho dúvidas' acima, como é óbvio...

R. disse...

Já li. À partida,o que ele devia ter feito era sair pelo próprio pé...