O Presidente da República esteve bem quando abominou o Massacre de Batepá, mas não teria ficado mal um pedido de desculpas aos sãotomenses. Não especificamente pela actuação de um escroque que era governador da então colónia, chamado Carlos Gorgulho, cujo nome só deve ser referido para se acompanhar da abjecção que merece. Este indivíduo exorbitou criminosamente as suas funções, tentando, inclusivamente, enganar o poder de Lisboa, inventando uma intentona revolucionária quando a população se revoltava apenas contra a arbitrariedade mais chula e reles. Foi, curiosamente, a pide que, chamada à ilha, percebeu que a insurreição não tinha que ver com motivações políticas independentistas, como lhe havia sido vendido, mas com a simples autodefesa de quem era capturado para trabalhar forçadamente em obras públicas, para glória do Gorgulho. As desculpas são devidas pela actuação do nosso Salazar, que alertado pela dita pide para as reais motivações dos insurgentes, manda recambiar o vigarista; e creio, com o cinismo e filhadaputice que eram seu apanágio, chega a dar-lhe um louvor ou a condecorá-lo, já não me recordo com exactidão. E fê-lo, não por simpatizar com o homúnculo Gorgulho, mas para que o Estado não perdesse a face, no seu entender. É por isso que teria ficado bem a Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto presidente de Portugal um pedido de desculpas, já que um bandido é um bandido, e se enodoa o país, como sucedeu, o Estado tem de o sancionar. Como vimos, a penalização, bastante edulcorada, nem merece esse nome.
Ao contrário do que possam pensar alguns obtusos, um país e o seu povo só se honra se reconhecer e manifestar pesar pelos crimes que tenha cometido. Foi o que Soares fez, quando era PR, em Belmonte, pedindo desculpa aos judeus portugueses pelos crimes que o país cometera quinhentos anos atrás. Foi um gesto que nos enobreceu enquanto comunidade.
2 comentários:
Assino por baixo. E fim...
Pois...
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