quinta-feira, fevereiro 08, 2018

"alíneas operativas"

Católico cultural, meramente de tradição (baptismo e primeiro comunhão, porque sim), porém ateu, deparo-me com estas alíneas operativas, hoje difundidas pela imprensa. Uma parvoíce que faz rir, pois a maioria dos católicos praticantes não aceita esta eunuquização que a hierarquia lhes quer impingir; e faz rir também pela designação pretensiosa de jargão psicossocial, a dar ideia de muita profundidade e cientificidade, quando o que lhe subjaz é o mero nojo ao sexo.


O que estes padres (alguns padres) deveriam saber é que não há amor entre dois adultos sem qualquer tipo de erotismo, e que não há erotismo sem sexo, mesmo que porventura sublimado por força de qualquer circunstância impeditiva de o consumar.  (Já estou a ouvir os intelectualmente desonestos a contestarem, trazendo à conversa casos excepcionais, como, por exemplo, o amor num casal em que um deles por doença ou acidente esteja impedido de ter relações sexuais. Esquecem, porém, que num casal há um historial comum, e que pelo facto de deixarem de ter sexo, tal não invalida que guardem a memória dele, e que essa memória seja um dos factores constitutivos do seu amor presente).


Faz algum sentido este pronunciamento sobre a intimidade de um homem e uma mulher que se amam, e portanto partilham a vida em comum?   Pondo-me no lugar de um católico, parece-me que não, mesmo à luz duma moral cristã. É claro que não se espera por parte da Igreja uma postura liberal em diversas matérias, como a do aborto (eu próprio, dum ponto de vista ético, acho por norma inaceitável um aborto que não decorra de uma violação, risco para a saúde da mãe ou malformação que torne inviável ou infernal a vida de uma pessoa);  mas já não dá tanta vontade de rir saber que é esta castração mental e moral que potencia comportamentos desviantes em que a Igreja tristemente se especializou, com consequências horríveis por onde teve poder e influência: templos queimados no Chile por ocasião da visita do Papa é o mais recente abalo que sofreram todos quantos gostariam que a Igreja -- parte importantíssima da nossa identidade e do nosso património colectivo -- não tivesse este cadastro. Mas o caso do Chile é apenas mais um a juntar à lista hedionda dos abusos cometidos em países ou regiões de predominância católica: da Irlanda à Espanha e por aí além, histórias de horror, em pleno século XX.

4 comentários:

Jaime Santos disse...

Sem dúvida. Ou nós tivemos muita sorte por cá, ou há ainda muita verdade escondida sobre abusos à espera de ser revelada. Esperemos que não exista, porque eu, embora agnóstico (passe embora o batismo e o crisma, esse decidido por vontade própria), gosto desta Igreja e deste Papa em particular (detestaria ver o Catolicismo lentamente substituído por um Evangelismo acéfalo e ainda mais reacionário, vide o Brasil), mas se existir, esperemos que se faça em tempo útil para com as vítimas...

R. disse...

Isto por cá é tudo mais brando, tudo na base das alíneas operativas, coisital...

sincera-mente disse...

Eu não tenho apenas o baptismo, a comunhão e o crisma; pisei os meandros internos da instituição-Igreja (da qual me afastei por estas e por outras). E assino por baixo tudo quanto escreveu.
E digo mais: para além de ridícula, a posição do cardeal (confessada joãopauliana e não francisquiana, sublinhe-se) reveste-se de forte dose de hipocrisia... Então e os que, divorciados de casamento católico, não recasaram mas vivem maritalmente? Que fazer com eles? Nada é dito por D. Manuel, mas é de supor que considere viverem em pecado e os aconselhe à solidão ou então a constituírem uma sociedade comercial... E lá iria o nosso catolicíssimo Presidente, se não fosse uma pessoa inteligente, deixar de frequentar os sacramentos, ou mandar de regresso ao lar a sua Catarina (penso que assim se chama)...

R. disse...

Eu também andei num colégio de padres, e nunca soube de história nenhuma, embora se soubesse que havia um que gostava de acariciar meninas num colégio de freiras próximo. Enfim, badalhoquices que o celibato forçado pode potenciar.
(acho que não é esse o nome, mas agora também não me lembro)