sexta-feira, junho 30, 2017
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Um Camilo é sempre um Camilo, mesmo quando participa da categoria de literatura alimentar, ou seja, da que o bruxo de Seide lançava mão para, profissional das letras, se sustentar. Por isso, O Judeu será sempre um romance de visita recomendável, também pelas leituras de época, António José da Silva, dito 'o Judeu', Cavaleiro de Oliveira, a quem A. Gonçalves Rodrigues chamou 'o protestante lusitano', ambos ardido no fogo da Santa Inquisição, um em carne e espírito, o outro em efígie.
Emigrantes é um dos textos históricos do romance português do século XX. A ficção mudou com ele. Neste incipit, Ferreira de Castro põe-nos no ponto de observação do protagonista, Manuel da Bouça, esse pobre de espírito que irá acabar mal, o que se perceberá aqui, e confirmará uns romances depois, em A Lã e a Neve (1947).
O 'Antero' de A Calçada da Glória é uma caricatura, aliás impiedosa, de António Ferro, com quem Tomás Ribeiro Colaço -- um nome com pedigree nas letras portuguesas -- ajusta contas nesta narrativa terminada em 1940, porém só publicada no exílio brasileiro anos mais tarde. Creio, aliás, que nunca teve edição portuguesa.
1866 - «Há um fenómeno moral, muitas vezes repetido, e todavia inexplicável: é a esquivança desamorosa de mãe a um filho excluído da ternura com que estremece os outros, filhos todos do mesmo abençoado amor e do mesmo pai que ela, em todo o tempo, amara com igual veemência.» Camilo Castelo Branco, O Judeu
1928 - «Preta e branca, preta e branca, preta e branca, o preto mui luzidio e muito níveo o branco, a pega, de cauda trémula, inquieta, saracoteava entre carumas e urgueiras, esconde aqui, surge ali, e por fim erguia voo até a copa alta do pinheiro, levando no bico ramo seco ou graveto.» Ferreira de Castro, Emigrantes
1947 - «Uma das coisas discutidas no Café Martinho era a virgindade de Antero.» Tomás Ribeiro Colaço, A Calçada da Glória
Emigrantes é um dos textos históricos do romance português do século XX. A ficção mudou com ele. Neste incipit, Ferreira de Castro põe-nos no ponto de observação do protagonista, Manuel da Bouça, esse pobre de espírito que irá acabar mal, o que se perceberá aqui, e confirmará uns romances depois, em A Lã e a Neve (1947).
O 'Antero' de A Calçada da Glória é uma caricatura, aliás impiedosa, de António Ferro, com quem Tomás Ribeiro Colaço -- um nome com pedigree nas letras portuguesas -- ajusta contas nesta narrativa terminada em 1940, porém só publicada no exílio brasileiro anos mais tarde. Creio, aliás, que nunca teve edição portuguesa.
1866 - «Há um fenómeno moral, muitas vezes repetido, e todavia inexplicável: é a esquivança desamorosa de mãe a um filho excluído da ternura com que estremece os outros, filhos todos do mesmo abençoado amor e do mesmo pai que ela, em todo o tempo, amara com igual veemência.» Camilo Castelo Branco, O Judeu
1928 - «Preta e branca, preta e branca, preta e branca, o preto mui luzidio e muito níveo o branco, a pega, de cauda trémula, inquieta, saracoteava entre carumas e urgueiras, esconde aqui, surge ali, e por fim erguia voo até a copa alta do pinheiro, levando no bico ramo seco ou graveto.» Ferreira de Castro, Emigrantes
1947 - «Uma das coisas discutidas no Café Martinho era a virgindade de Antero.» Tomás Ribeiro Colaço, A Calçada da Glória
terça-feira, junho 27, 2017
sexta-feira, junho 23, 2017
quinta-feira, junho 22, 2017
quarta-feira, junho 21, 2017
JornaL
1. Como pode a política externa portuguesa estar à mercê dum qualquer juiz, que nem deve saber com que países Angola faz fronteira? Se houvesse noção do que andam a fazer, julgava-se o tal Orlando alegadamente corrupto e, sendo condenado, o estado português teria de fazer as suas diligências por via diplomática, aliás com outra segurança e um ganho de causa que, assim, nunca poderá ter. Ou seja: isto não vai servir para nada -- ou, melhor, servirá a quem está apostado em criar problemas com Angola, para gáudio dos idiotas-úteis do costume: Vice-presidente de Angola e procurador Orlando Figueira vão a julgamento (Sic Notícias)
2. A "esquerda" borracha, ou caudilhismo do Terceiro Mundo: Procuradora-geral da Venezuela diz que vai "até onde a lei permitir" (Destak)
3. A proverbial estupidez da política externa americana, sempre acompanhada do vezo pirata, dá nisto: Austrália suspende missões na Síria após ameaça russa aos aviões da aliança (Observador)
4. Acho imensa piada ao Putin, principalmente quando manda os americanos baixar a bola: Caças russos interceptam aviões dos EUA no mar Báltico (Jornal do Brasil)
5. Civilização: Bicicletas partilhadas avançam em Lisboa (Jornal de Notícias)
terça-feira, junho 20, 2017
segunda-feira, junho 19, 2017
cabaz da feira
Ao Encontro de Raul Brandão - Colóquio, Porto, UCP / Lello Editores, 2000.
Até Amanhã, Camaradas, Manuel Tiago (1974), 5ª ed.., Lisboa, Edições Avante!, 1989.
Crónica da Vida Lisboeta [Ana Paula (1938); Ansiedade (1940); O Caminho da Culpa (1944); Tons Verdes em Fundo Escuro (1946); Espelho de Três Faces (1950); A Corça Prisioneira (1956)], Lisboa, Guimarães, 2008-2009.
Guia para 50 Personagens de Ficção Portuguesa, Bruno Vieira Amaral, Lisboa, Guerra & Paz, 2013.
Francisco de Assis -- 1182-1982 -- Testemunhos Contemporâneos das Letras Portuguesas, Lisboa, IN-CM, 1982.
Novos Contos do Gin, Mário-Henrique Leiria, Lisboa, Editorial Estampa, 1973.
Até Amanhã, Camaradas, Manuel Tiago (1974), 5ª ed.., Lisboa, Edições Avante!, 1989.
Crónica da Vida Lisboeta [Ana Paula (1938); Ansiedade (1940); O Caminho da Culpa (1944); Tons Verdes em Fundo Escuro (1946); Espelho de Três Faces (1950); A Corça Prisioneira (1956)], Lisboa, Guimarães, 2008-2009.
Guia para 50 Personagens de Ficção Portuguesa, Bruno Vieira Amaral, Lisboa, Guerra & Paz, 2013.
Francisco de Assis -- 1182-1982 -- Testemunhos Contemporâneos das Letras Portuguesas, Lisboa, IN-CM, 1982.
Novos Contos do Gin, Mário-Henrique Leiria, Lisboa, Editorial Estampa, 1973.
domingo, junho 18, 2017
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Um dos mais justamente célebres começos da novelística portuguesa, em A Queda dum Anjo -- o arrivismo mantém-se; um proto-Ferreira de Castro sem grande interesse em O Drama da Sombra; uma esplêndida ideia com Batalhas do Caia -- remete para o projecto ficcional abortado de Eça de Queirós --, achando, quando o li, ter ficado aquém do propósito ambicioso. Talvez deva relê-lo.
1866 - «Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda da Agra de Freimas, tem hoje quarenta e nove anos, por ter nascido em 1815, na aldeia de Caçarelhos, termo de Miranda.» Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo
1926 - «Aquela mulher era ali, no Estoril elegante, a máxima fascinação, a serpente de olhos verdes de todos os veraneantes masculinos.» Ferreira de Castro, O Drama da Sombra
1995 - «E a bagagem, trazida por três carroças atulhadas, foi dispersa pelos aposentos de ambos os pisos, obedecendo à numeração que neles se fixara, baseada num código que me pareceu insolitamente arbitrário.» Mário Cláudio, Batalhas do Caia
1866 - «Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda da Agra de Freimas, tem hoje quarenta e nove anos, por ter nascido em 1815, na aldeia de Caçarelhos, termo de Miranda.» Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo
1926 - «Aquela mulher era ali, no Estoril elegante, a máxima fascinação, a serpente de olhos verdes de todos os veraneantes masculinos.» Ferreira de Castro, O Drama da Sombra
1995 - «E a bagagem, trazida por três carroças atulhadas, foi dispersa pelos aposentos de ambos os pisos, obedecendo à numeração que neles se fixara, baseada num código que me pareceu insolitamente arbitrário.» Mário Cláudio, Batalhas do Caia
quarta-feira, junho 14, 2017
terça-feira, junho 13, 2017
segunda-feira, junho 12, 2017
domingo, junho 11, 2017
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Camilo não desiludirá, o incipit promete violência e o leitor tê-la-á, num romance histórico, em que , como é bom de ver, não se aprende História, mas se goza o festim da linguagem camiliana. Ferreira de Castro também cumpre o anunciado: três à mesa, quer dizer triálogo, o que significa tensão psicológica, superiormente dada. Já Vasco Branco não promete nem cumpre, num onanismo autocomiserativo insuportável que, infelizmente, distrai de algumas qualidades de estilo (equivalentes aos defeitos) e de uma construção romanesca que poderia ter sido interessante,
1875 - «Ainda os membros dispersos do cadáver de Domingos Leite Pereira apodreciam nos postes, quando saiu uma procissão de triunfo a desempestar especialmente as Ruas dos Torneiros e da Fancaria.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Regicida
1950 - «Encontravam-se os três à mesa de jantar e o velho relógio de pêndulo marcava onze horas menos um quarto.» Ferreira de Castro, A Curva da Estrada
1980 - «Janela aberta sobre o mundo.» Vasco Branco, Os Generosos Delírios da Burguesia
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sábado, junho 10, 2017
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Deve dizer-se que o humor de Carlos Ceia já existe, em larga medida e altíssimo grau, cento e cinquenta anos antes no Camilo. Atente-se à advertência aos «Leitores! De hás verdade sobre a Terra, é o tpmace que eu tenho a honra de oferecer às vossas horas de desenfado.» Meio século mais tarde, um miúdo, que viria a ser o escritor Ferreira de Castro, alinhava, em plena Amazónia, o início dum romancinho... verde. Nada mal, na verdade. Aprendera a lição sabichona do bruxo de Seide, crismando o protagonista com a graça de Simão Rafael dos Anjos, procurando também ele cativar os leitores com um aviso nas capas dos fascículos que mandava imprimir em Belém do Pará, que vendia de porta em porta: «Sensacional romance -- expurgado de phantasia»...
1854 - «Em 1815, um dos mais abastados mercadores de panos da Rua das Flores, na cidade do Porto, era o Sr. António José da Silva.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago
1916 - «Num lugar denominado Santo António, pertencente à freguesia de Ossela, moravam dois rapazes que, pela educação que receberam, distinguiam-se dos outros, rudes camponeses.» Ferreira de Castro, Criminoso por Ambição
2004 - «[2 de Fevereiro de 2003 (Está um dia cinzento.)] Querido Diário, / Se não acertar com a primeira frase do romance, vai-se o leitor embora e fico a sós com as minhas personagens, num delírio de duas centenas de páginas que enterro debaixo da minha imaginação inútil.» Carlos Ceia, O Professor Sentado
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sexta-feira, junho 09, 2017
o Prémio Camões, pois claro
Se há obra que faça jus ao Prémio Camões, essa é a que integra dois livros absolutamente históricos, que são literatura e mais do que literatura, constituindo-se como um ponto de situação do país na época que foram escritos. Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967), de Manuel Alegre, procedem a uma sondagem de um tempo e de um modo de sentir colectivos. E nessa medida -- por muito que custe àqueles que se comprazem, com uma literatura vagal ou deliquescente (e à frente de toda a gente...) --, nessa medida, aquela poética emula e participa da do próprio Luís de Camões, como de Guerra Junqueiro, António Nobre e Fernando Pessoa.
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quinta-feira, junho 08, 2017
quarta-feira, junho 07, 2017
terça-feira, junho 06, 2017
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O Camilo é o Camilo, e o começo de Eusébio Macário é precioso, pela simplicidade, contrastando com o glit muito anos vinte e desinteressantemente "loucos" de Frias & Castro, mesmo que o romance tenha o seu quê para lá do ouropel, e com o malaise do protagonista de Castilho, aliás um nome seguro. Por isso, viva Camilo.
1879: «Havia na botica um relógio de parede, nacional, datado de 1781, feito de grandes toros de carvalho e muita ferraria.» Camilo Castelo Branco, Eusébio Macário
1924: «Quem o diria, Berenice?...» Eduardo Frias e Ferreira de Castro, A Boca da Esfinge
1989: «Se quisesse definir a invisível peste que o acordar me toldava a existência, a palavra seria bruma.» Paulo Castilho, Fora de Horas
segunda-feira, junho 05, 2017
domingo, junho 04, 2017
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Quem conhece as três narrativas, sabe que coisas momentosas e formidandas se anunciam. Todas já contidas em cada começo.
1862 - Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias da relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte:» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
1931 - «Já não posso com estes tipos.» Raul Brandão, O Pobre de Pedir
1991 - «"Em nome de Deus, amen.» Sérgio Luís de Carvalho, Anno Domini 1348
1862 - Folheando os livros de antigos assentamentos, no cartório das cadeias da relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a folhas 232, o seguinte:» Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição
1931 - «Já não posso com estes tipos.» Raul Brandão, O Pobre de Pedir
1991 - «"Em nome de Deus, amen.» Sérgio Luís de Carvalho, Anno Domini 1348
sexta-feira, junho 02, 2017
quinta-feira, junho 01, 2017
Armando Silva Carvalho [Poetas de qualidade, como ele, ficam para aí dois ou três, quatro ou cinco.]
das primas-donas espanholas.
Preparavas todas as manhãs o branco
da garganta com vários goles de vinho
e praguejavas alto para que os teus filhos
(cada um de seu pai)
te fossem por recados e merendas.
O teu ofício era vender pedras de cal
aos gordos fazendeiros
que te percorriam o ventre inchado
nas noites de dezembro
e iam mijar depois dentro das bilhas
de água.
Ainda não morreste no meu tempo
mulher de cal e mágoa.
Cada casa caiada é a pele do teu corpo.
(Alexandre Bissexto, 1983)
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