Compreende-se o entusiasmo dos leitores de 1959, quando se depararam com um romance que retratava um beco sem saída da juventude na Itália de Mussolini, mas que de facto reflectia o sufoco insuportável que experimentavam no Portugal de Salazar.
O romance de estreia de Augusto Abelaira (1926-2003) envelheceu mal, porém. Personagens problemáticas e palavrosas, narrador palavroso e problemático; atmosfera cinzenta, espelho do cinzentismo do país nos anos cinquenta. Portugal deveria ser então irrespirável para os jovens urbanos da classe média. Li-o sem um frémito.
A modorra anuncia-se desde o incipit: «Sentado, as pernas cruzadas, uma das mãos no bolso e a outra a brincar com o lápis, Giovanni Fazio observava os passos, para diante e para trás, dum casal de ingleses.»
A angústia existencial é dada, na mesma época, com outra desenvoltura e traquejo por Vergílio Ferreira (é o ano de Aparição, talvez também sobrevalorizado em face de outros, anteriores e posteriores, hei-de pensar nisso), dez anos mais velho.
O Abelaira ironicamente problematizador e estimulante que conheço das crónicas, literárias («Ao Pé das Letras») e políticas («Escrever na Água»), não me apareceu, ao contrário do sucedido com outro livro seu, lido há muitos anos e a pedir novo encontro: O Bosque Harmonioso (1982). O posfácio à segunda edição, de 1961, é, aliás, exemplo dessa qualidade de Abelaira.
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