A inversão de valores, a cobardia de quem opina no espaço público com receio de ir contra o estabelecido, recorrendo a notória desonestidade intelectual, a simples ignorância, de tudo tenho lido e ouvido a propósito do chamado 'burquíni'.
parvoiçada 1: o próprio nome das coisa: o vazio da coisa, reproduzido gulosamente pelo jornalismo trendy e analfabeto.
p. 2: dizer que se trata de uma manifestação religiosa:
2.1. - não trata. Tanto quanto julgo saber, nada há no Corão que imponha que uma mulher cubra a cabeça: nem o tchador, muito menos o niqab ou a burka. É uma mera manifestação cultural que secundariza a mulher.
2,2, - ainda que o fosse, as sociedades laicas devem combater e impedir tudo que seja abusivo, quer para os indivíduos, quer no espaço público. Se turistas bororós quiserem comer ritualmente alguém da sua nação, não o devemos permitir porque é cultural e religioso. Sarkozy fez muito bem em impedir que o pessoal ocupasse os passeios quando tinham de orar para Meca. Orem nas mesquitas, e não chateiem. E para não se dizer que sou islamofóbico (apodo facilmente demagógico e preguiçoso); quem me conhece, sabe que vocifero contra o abuso da igreja católica, no Norte do país, que impinge gravações sineiras do A 13 de Maio na Cova da Iria -- uma intromissão abusiva no meu sossego. Portanto: islamofóbico? Bardamerda.
2.3. Falando em demagogia barata: comparar a obrigação de cobrir a cabeça com a mera ostentação de um fio com um crucifixo é completamente desonesto.
3. A estupidez sem nome de dizer que se trata da liberdade de cada um vestir o que quiser. É claro que não trata, mas de uma imposição do 'chefe de família' Exceptuando alguns casos de mulheres, normalmente instruídas e articuladas, para o qual o hábito é um statement político ou as pobres mulheres que julgam que tem mesmo de ser assim, as muçulmanas usam-no por pressão social ou imposição familiar.
4. O delírio da demagogia, que vem sendo repetido: a de as nossas avós (pelo menos as avós populares) usarem uma coisa parecida. Rico exemplo. Era no tempo em que a mulher era uma cidadã de segunda, não lhe sendo permitido votar, nem deslocar-se ao estrangeiro sem a permissão do marido, entre outras coisas tão naturais e culturais.
5. quando não há mais argumentos, fala-se na reacção xenófoba de franceses nas praias ou, admito, de insensibilidade da polícia. Pois, só que a questão não é essa. Que os franceses (generalização abusiva minha...) são racistas, xenófobos, etc., sabem-no os emigrantes, como o souberam os judeus que Vichy mandou deportar sem que a Alemanha nazi o exigisse (a Itália fascista ou a Hungria de Horthy, não o fizeram).
Sobre este assunto, para além das próprias, que infeliz e generalizadamente, não têm liberdade para se manifestarem e decidir, só me importa a opinião das feministas. Se aparecer alguma a defender a coisa, prometo analisar os argumentos.
5 comentários:
Faço minhas as palavras do orador precedente :-) Grande abraço
Obrigado, meu caro, e ainda agora estou a começar...
Outro abraço
Vc está tapadinho da razão!
Vamos pois admitir que sim, que se trata de uma provocação. Mas e as caricaturas do Charlie são o quê ?
Na minha casa mando eu ? Pois sim, sem dúvida ! Mas qual a autoridade moral do ocidente para invocar esse principio quando passa a vida a meter foice em seara alheia ?
Ultimo ponto em relação à indumentária em concreto. Estaríamos a discutir o traje se se tivesse tratado da ultima proposta de moda da Coco Chanel, exibida pelas "tias" na Praia do Ancão ?
Manuel Rocha: não devolvo o galhardete. Se quiser rebater o que está escrito, faça-o; mas como nenhuma das suas observações se aplicam ao que aqui se diz, não tenho como responder-lhe.
Ricardo Alves,
Com as minhas observações, que não carecem de resposta, apenas pretendi significar que creio estarmos a tratar de questões suficientemente complexas para não cairmos na armadilha de as discutirmos a partir de meia dúzia de variáveis, por mais pertinentes que isoladamente elas nos possam parecer.
Cumprimentos,
MR
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