terça-feira, setembro 22, 2015

guinadas de diesel

«Dos edredons dos miúdos vinha de tempos a tempos um reboliço de tosse. O pediatra tratava a pingos e xaropes essas guinadas de diesel, e espanta-me que hoje, em lugar de um par de crianças pálidas e magrinhas, abraçadas a fraldas, mastigando os charutos das chupetas, me apareçam aos domingos, no vestíbulo escuro do prédio de Campolide onde moravam os meus pais e eu moro agora, adolescentes de capacete marciano, com uma esperança de bigode entre o nariz e a boca, enfurecendo as motorizadas para me exigir dinheiro, no clima tenso dos assaltos aos bancos.»

António Lobo Antunes, Auto dos Danados (1984) 

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