Um discurso substantivo, ideológico e inteligente, dizendo ao que vem e o que quer, com sinalizações no âmbito europeu e lusófono, e pontes magníficas para a realidade portuguesa: dos temas sociais (a violência doméstica, como pústula intolerável; a coadopção e a recusa da imposição de moralismo beato) às questões patrimoniais e identitárias (do cante alentejano, oportunamente trazido aos trabalhos, à importância das datas de referência como o 1.º de Dezembro, que a direita, que se ufana de nacionalista, deitou para o caixote do lixo, esportulada pela Troika). Isto é grande política.
Depois, a clarificação à direita e à esquerda:
À direita, dizendo que a política de PSD e CDS, que enfraqueceu o país e destruiu milhares de lares, famílias, vidas, e que agachou miseravelmente um país central na história europeia com quase 900 anos -- que essa política pestífera e os seus agentes são para se varrer;
À esquerda, essa esquerda totalitária do PCP (macaqueada pelo BE), com um sectarismo que se confunde com fanatismo religioso, e que objectivamente abriu as portas da governação ao PSD e CDS; a essa esquerda, que tem cumprido o seu papel histórico desde a República de Weimar, António Costa mostrou que, estando aberto ao díálogo, não conta com ela (até porque a conhece bem, não só da sua acção como por experiência familiar).
Resta o LIVRE, saudado por Costa, cuja eleição de deputados tem esta importância: impedir uma maioria absoluta do PS (é sempre negativo que um partido de poder, cheio de vícios e clientelas a alcance, como se tem visto, por muito capaz que o líder possa ser, como é o caso do actual presidente da Câmara de Lisboa); e ter uma representação parlamentar que permita impedir que o PS, em minoria, fique nas mãos do CDS ou, pior ainda, do PSD.