Versão de Jorge de Sena, creditada às suas «Obras», com uma magistral «Introdução», apanágio dos trabalhos críticos e ensaísticos do grande escritor.
A poesia de Emily Dickinson (1830-1866) é breve, por vezes quase aforística, e essencial, lembrando, em certas ocasiões -- e embora mais negra -- a de Sophia de Mello Breyner Andresen.
A biografia de Emily Dickinson pouco mais regista além da vivência sem história ("Great Streets of silence led away / To Neighbourhoods of Pause", c.1870) numa pequena cidade da Nova Inglaterra, ao contrário duma tumultuosa inquietação interior, que surge a cada passo ("This is my letter to the World / That never wrote to Me", c.1862) : as interpelações descrentes a Deus ("Heavenly Father [...] / We apologize to thee / For thine own Duplicity --" c.1879); a incómoda rasura da diferença ("Assent -- and you are sane -- / Demur -- you're straightway dangerous -- / And handled with a chain -- ", c.1862); a ausência do amor ("Wild Nights -- Wild Nights! / Were I with thee / Wild Nights should be / Our luxury!", c.1861)."Your thoughts don't have words everyday", escreveu num apontamento, por volta de 1861, reflectindo esse acontecer do(s) poema(s) por entre a verdejante calma aparente numa casa de família em Amherst, Massachusetts, em que viveu praticamente na obscuridade e ignorada dos seus contemporâneos.
2 comentários:
A imaginação criadora é algo de extraordinário! É incrível como se consegue escrever com tanta paixão quando rodeada de "nada"!
Beijinhos Marianos, Ricardo!:)
...mas com muito de si :|
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