Livro anónimo do século XVI, Lazarilho de Tormes inaugura uma das marcas distintivas da literatura espanhola, a novela picaresca.
Lázaro, um habilidoso mal-nascido, sustenta-se como criado de diversas figuras-tipo, normalmente mais malandras do que ele, e que se vão sucedendo: um cego, um clérigo, um escudeiro, um frade, um proclamador de bulas, um capelão e um aguazil. Com excepção do escudeiro, pobre fidalgote que tudo faz para ocultar a miséria do seu estado, os outros sevandijas exploravam Lázaro, sem piedade. Mas, para velhaco, velhaco e meio, acabando, no final, o anti-herói por levar a melhor, ou quase, conseguindo uma colocação como pregoeiro em Toledo.
Livro subversivo, satirizando clero, nobreza e o funcionalismo emergente, não é de estranhar que o autor tenha querido usar de prudente reserva de identidade, nesse ano de 1554.
Impressionou-me sobremaneira o tema obsidiante da fome, que perpassa pela quase totalidade da novela: a fome que exaspera sempre Lazarilho, e também alguns dos seus amos. Desventuras de um esfomeado seria um subtítulo apropriado.
Há, ainda, um prefácio de Gregorio Marañon, que detestava a novela picaresca, não por ser má literatura, mas pelo que, no entender do ensaísta, deformava, não apenas a alma espanhola -- pela amoralidade e apologia do comportamento desviante --, como também pela imagem distorcida que dos espanhóis passava além-fronteiras.
Impressionou-me sobremaneira o tema obsidiante da fome, que perpassa pela quase totalidade da novela: a fome que exaspera sempre Lazarilho, e também alguns dos seus amos. Desventuras de um esfomeado seria um subtítulo apropriado.
Há, ainda, um prefácio de Gregorio Marañon, que detestava a novela picaresca, não por ser má literatura, mas pelo que, no entender do ensaísta, deformava, não apenas a alma espanhola -- pela amoralidade e apologia do comportamento desviante --, como também pela imagem distorcida que dos espanhóis passava além-fronteiras.
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