Terra Virgem (1882) é o primeiro livro em prosa de D'Annunzio, muito influenciado ainda pelo chamado
verismo literário. O cenário decorre nos Abruzos, região da Itália central, na costa adriática, de onde o escritor era natural, e as figuras que perpassam pela maioria dos contos são seres rente ao chão, vadios, aleijados, raparigas inocentemente sensuais, rapazes largados à sua sorte, acabando por cansar um pouco o desfile de abortos e desgraçado atavismo. Mas há um enlevo para com a paisagem, que em parte condiciona os indivíduos, que acaba por redimir a obra.
O último,
Lázaro, sintetiza, no seu inefável horror, boa parte destes contos.
Incipit: «Estava de pé, em frente da barraca, meio embrutecido, amortalhado num fato de malha sujo, que se lhe rugava nas barrigas das pernas esqueléticas; fitava o campo lívido, taciturno, entristecido pelas poucas árvores despidas de folhagem, que se erguiam esguias por baixo dum dossel de nuvens pardacentas, humedecidas pela neblina.»
um parágrafo: «Do céu escurentado tombava uma chuva miúda, persistente, raivosa, que por toda a parte se infiltrava, encharcava até à medula, gelava o sangue.»
Gabriele D'Annunzio, Terra Virgem (Terra Vergine, 1882),
tradução de M. L., Lisboa, Editorial Minerva, 1955, pp. 185-186.
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