quinta-feira, fevereiro 07, 2013

escrito numa caixa de comentários (ainda o "escurinho" do Arménio)

A referência idiota ao "escurinho", aludindo a Abebe Selassie, representante do FMI na troika, é típica do racismo larvar existente na nossa sociedade, entranhados por séculos de colonialismo, escravatura, etc. A quantidade de gente que diz "monhé", referindo-se a indianos, sem ter (?) noção de que é um termo ofensivamente repugnante... Quando eu andava na escola primária, havia uma cantilena que todos entoávamos: "Em Macau o bom chinês / limpa o cu ao português"...
Não somos menos racistas que os outros povos, nem menos dominadores, e se calhar nem mais moles -- como negreiros, traficando seres humanos, parece que nenhum povo europeu nos suplantou.
Arménio Carlos ter dito o que disse na tribuna de uma acção da CGTP foi como se dissesse "panilas", ou "larilas" ou "fufa" referindo-se aos homossexuais. Se no seu círculos de amigos cada um diz e porta-se como quiser, um dirigente da Inter não deve comportar-se como um tosco.
Que ele não deva ser criticado por isso, porque tal dará armas aos defensores da austeridade, seria cómico se não fosse trágico. Foi com esses argumentos que alguma esquerda (e já não falo dos funcionários do PC) ficava desconfortável quando vinham à baila o Gulag, os hospitais psiquiátricos, o KGB e muitas outras maravilhas com que a União Soviética brindou o "socialismo".

4 comentários:

Paulo Cunha Porto disse...

Caríssimo,
é muito pior que chamar larilas ou fufa, porque essashuuuum características estão dependentes da vontade, enquanto que a pele não está.
Por outro lado, não há dúvida de que se pode dizer que somos menos racistas que os outros, pela ausência histórica de segregação. E a escravatura não conta para o caso, encontrava-se espalhadíssima nas sociedades onde se foi buscar essa abominável forma de mão-de-obra e que a ofereceram aos nossos Navegantes, enquanto que a sua grande voga já passara cá no cantinho luso do Velho Continente.
O Arménio teve um momento quântico? Não, achou que seria um elemento acrescido de animosidade e recorreu a ele para excitar as massas.

Abraço

Ricardo António Alves disse...

Acreditas nisso, meu caro, que a hetero e a homo condição dependem da vontade? Eu estou firmemente convencido de que não é assim...

Quanto às nossas diferenças em relação a anglos e batavos, entre outros, talvez eu esteja enganado, mas suspeito de que o racismo é uma condição natural, do ser humano. A abertura ao outro será um adquirido cultural ou civilizacional, mas, enfim, não estou seguro...
É verdade isso que dizes da escravatura, e embora muitos tenham prosperado com o seu tráfico, também me parece não ser um argumento decisivo.
Se esse lugar-comum estiver mais próximo da realidade do que alguns pensam, a que se deverá a nossa particular tolerância em relação ao outro? Sermos os mais mestiços da Europa, os berberes d'aquém mar?...

Outro abraço.

Paulo Cunha Porto disse...

Pois, não sei, talvez à tendência de não admirarmos tanto a nossa imagem, como dizia o Padre Brown, a outros propósitos...

Quanto à Vontade no domínio sexual, não tenho dúvidas: mesmo que a tendência lhe fosse autónoma, a concretização implica querer, ou, daqui a bocado, estendemos as forças irreprimíveis à impossibilidade de condenar criminosos. E como não é de homossexuais platónicos que se fala quando os xingam...

Abraço

Ricardo António Alves disse...

Essa do Padre Brown é bem apanhada...

Ó meu caro, se é platónico ou não, isso parece-me indiferente. Um homo (e um hetero) sê-lo-á sempre, concretize ou não. E a questão dos criminosos também não me parece adequada, já que remete para a questão do bem e do mal, o que não me parece ser o caso da homossexualidade...

Novo abraço